Conteúdo editorial apoiado por

Celulose de alto valor fica em modo de espera nos investimentos da Klabin

Fibra utilizada em fraldas tem maior valor de mercado e atualmente responde por 11% da receita da companhia

Mitchel Diniz

Foto: Klabin/Divulgação
Foto: Klabin/Divulgação

Publicidade

O fluff, tipo de celulose utilizada na fabricação de fraldas e absorventes, tem sido a aposta das grandes empresas globais do setor para os próximos anos e não poderia ser diferente para a Klabin. A matéria-prima, de maior valor agregado, ganhou menção de destaque da companhia em seu programa estratégico para a próxima década, mas, ainda assim, ficou de fora do pacote de R$ 9 bilhões que a Klabin investirá até o fim do ano que vem. O motivo, explicam os executivos, é a espera por uma redução no custo de capital para ampliar a produção deste produto nos próximos anos.

“Neste momento [o fluff] está on hold. A gente não apresentou nada ao conselho e nem pretendemos em 2024. Mas isso está lá, em uma visão de dez anos”, afirmou Cristiano Teixeira, CEO da Klabin, durante o investor day da companhia, nesta quinta-feira (30). Segundo ele, a capacidade de expansão será ampliada “na hora que a companhia estiver preparada para isso”. Hoje a empresa tem capacidade para produzir 400 mil toneladas de celulose tipo fluff de fibra longa – de janeiro a setembro deste ano, a companhia produziu 333 mil toneladas, com R$ 1,6 bilhão de receita.

A fibra tem atualmente 11% de participação nas receitas da Klabin e é reconhecida como um dos produtos de maior margem da companhia e por sua estabilidade de preço. O CEO aponta que o produto não é negociado por menos de US$ 800 por tonelada no mercado global. Isso ocorre porque seu custo de produção também é elevado. “É um produto de alta tecnologia, com fibra longa, o que é altamente sofisticado, podendo entrar em mercados globais, com contratos de longo prazo. Não tem hoje um mercado onde a gente não consiga entrar com ele.”

Continua depois da publicidade

Teixeira reforça que a celulose fluff da Klabin não compete com a da Suzano, que é feita a partir de fibra curta de eucalipto e usada na produção de fraldas de consumo mais econômico. O fluff de fibra longa de pino, especialidade da companhia, por sua vez, é matéria-prima de fraldas geriátricas e infantis de perfil mais premium, com maior capacidade de absorção. Na indústria, já é comum a prática de misturar os dois tipos de fibra.

“A intersecção [das duas fibras] passa por alguns absorventes femininos, de fralda, em alguns mercados, para crianças, e já estamos nesse mercado”, afirma o CEO.

Segundo o executivo, a MP26, máquina situada no parque fabril da Klabin em Ortigueira, no Paraná, foi a primeira no mundo construída especificamente para a produção do fluff — os demais produtores convertem máquinas utilizadas, originalmente, na fabricação de outros tipos de fibra. Foi o que fez a Suzano: recentemente a companhia anunciou um investimento de R$ 490 milhões para a conversão de uma máquina na unidade Limeira, no interior de São Paulo.

Continua depois da publicidade

“Ele é [um produto] de menor valor agregado, mas o investimento também é menor. Nós temos um produto de maior valor agregado, mas que demanda mais investimento, porque trazemos equipamentos novos”, defende o executivo, que garante que a Klabin não irá converter máquinas para este fim. “A gente não vai trabalhar no low end desse setor, apenas no high end, com produto de valor agregado. Estamos estudando máquinas que podem ser de 600 mil a 1 milhão de toneladas [de capacidade produtiva]”.

O executivo afirma que a Klabin aguarda por um ciclo de “desinflação” dos investimentos, com redução de custos fixos, para alocar capital em expansão de capacidades de produção, seja em fluff ou outros tipos de fibra de celulose. Os próximos passos da empresa também precisam estar alinhados à política de controle de endividamento da companhia.

“Se essas coisas não acontecerem juntas, provavelmente a gente não vai anunciar nenhum investimento”, afirmou. A empresa espera crescer daqui para frente com a capacidade produtiva de 600 mil toneladas adicionada ao seu parque fabril nos últimos anos, com o Projeto Puma, no Paraná, e o Figueira, em Piracicaba, interior de São Paulo. Nas projeções da companhia, há potencial de incremento da ordem de R$ 3 bilhões no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) até 2027.

Continua depois da publicidade

Uma certeza sobre o capex da Klabin são as compras de madeira de terceiros, da ordem de R$1 bilhão por ano, até 2028. Em 2029, a empresa espera já ter alcançado sua autossuficiência florestal. “O pico de custo da madeira foi atingido e se estabilizará até cair, conforme a gente for trocando madeira de terceiros por madeira própria”, afirmou Marcos Ivo, CFO da Klabin.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados