Conteúdo editorial apoiado por

Braskem (BRKM5) vê cenário global pior do que o esperado e adia previsão de recuperação

Atraso na retomada da indústria chinesa joga perspectiva de melhora de resultados para 2024, diz diretor financeiro

Lucinda Pinto

Publicidade

Os números da Braskem (BRKM5), divulgados na manhã desta quarta-feira (8), refletem um cenário global ainda desafiador, que dificilmente vai se reverter no próximo trimestre. Em entrevista após a divulgação do balanço do segundo trimestre, o diretor financeiro da companhia, Pedro Freitas, afirmou que a queda do lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente de 82% ante igual período do ano passado, para R$ 703 milhões, é resultado do encolhimento do nível do consumo mundial — em particular na China –, com efeito direto sobre preços e margem. E que não há razão para esperar uma melhora desse quadro no segundo semestre.

“Vimos um movimento bastante disseminado de redução de estoque na cadeia de transformação dos nossos clientes. E havia uma expectativa de recuperação de demanda na atividade industrial na China, que não aconteceu”, afirma. A reação ainda não virá no segundo semestre, acrescenta, conforme se esperava no início do ano. Isso porque a indústria chinesa não está seguindo o crescimento observado no setor de serviços e de turismo. Ele observa que, nos últimos anos, a taxa de crescimento do polietileno foi de cerca de 3,5% e, este ano, a expectativa é de uma expansão de 2,7%.

Ao mesmo tempo, o aumento da produção da indústria global contribui para adiar a recuperação dos preços. Freitas lembra que deve entrar em produção até o fim do ano o equivalente a 7 milhões de toneladas de polietileno, um acréscimo entre 6% e 7% do volume total. “Estamos esperando uma situação bastante desafiadora no segundo semestre, com uma visão de recuperação gradual no quarto trimestre, principalmente pelo pacote de estímulos que a China está adotando”, afirma.

Continua depois da publicidade

Para o ano que vem, quando não haverá esse acréscimo de capacidade produtiva prevista na indústria global, a demanda deve voltar a crescer a taxas históricas, o que pode viabilizar a recuperação do ciclo a partir do segundo semestre de 2024, diz o diretor da Braskem.

Braskem
Por causa da demanda global mais fraca, a Braskem opera hoje a 70% de sua capacidade instalada (Foto: Divulgação)

A queda do Ebitda demonstrada no balanço é o que explica o aumento da alavancagem da empresa, diz Freitas. A relação dívida líquida ajustada pelo Ebitda recorrente ficou em 7,9 vezes em junho de 2023, alta de mais de seis vezes em relação ao mesmo período de 2022. Mas a dívida líquida ficou estável, em US$ 4,6 bilhões, com perfil de longo prazo. A posição de liquidez, de US$ 2,9 bilhões, é suficiente para a cobertura dos vencimentos de dívida dos próximos seis anos, observa o CFO.

Para fazer frente a esse cenário desafiador e melhorar o Ebitda e reforçar o caixa, a Braskem está tomando uma série de medidas. De um lado, a estratégia é ser mais seletivo comercialmente, priorizando a venda de produtos que têm maior margem e reduzir custos de todas as naturezas.

Publicidade

Uma das medidas tem sido reduzir a produção em plantas voltadas para um mercado que está menor ou menos rentável —  hoje, a Braskem está operando a 70% de sua capacidade instalada. Também adotou ações de otimização do capital de giro, ajuste do nível de estoque e monetização de créditos fiscais registrados nos balanços. “Não tem uma bala de prata. É a disciplina na companhia em todas as frentes para levar à recuperação do Ebitda”, afirma.

Efeito Alagoas

Além do mercado global, o resultado da Braskem sentiu o impacto do provisionamento adicional, de pouco mais de R$ 1 bilhão, que a empresa precisou fazer por causa da decisão relativa ao acordo de R$ 1,7 bilhão recém-firmado com a Prefeitura de Maceió. A companhia já tinha cerca de R$ 700 milhões reconhecidos em seu balanço e enfrenta ainda uma ação civil pública movida pelo Estado de Alagoas. Segundo Freitas, não fosse esse provisionamento, a empresa teria registrado lucro líquido.

A Braskem já desembolsou até aqui R$ 8,2 bilhões para fazer frente ao impacto provocado pelo afundamento do solo em bairros de Maceió. No mercado, existe a preocupação com o quanto essa conta ainda pode crescer, uma vez que também o governo do Estado judicializou a questão.

Continua depois da publicidade

O diretor financeiro afirmou que eventuais compensação de equipamentos públicos estaduais já estão contemplados dentro da provisão.  Mas sobre a maior parte do pleito apresentado, diz, não há “convergência de entendimento”. Isso significa que a discussão vai seguir na Justiça.

Questionado pelos jornalistas, Freitas evitou comentar as negociações em torno da venda da Braskem pela Novonor.

Lucinda Pinto

Editora-assistente do Broadcast, da Agência Estado por 11 anos. Em 2010, foi para o Valor Econômico, onde ocupou as funções de editora assistente de Finanças, editora do Valor PRO e repórter especial.