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A tendência é de que o aquecido mercado de data centers passe a contar cada vez mais com a presença de fundos soberanos. Capazes de sustentar investimentos de longo prazo e os custos cada vez maiores destes empreendimentos, eles podem servir para dar saída aos investidores financeiros que têm reforçado sua estratégia no setor.
Cada vez mais robustos, os data centers dedicados ao armazenamento e processamento em nuvem no Brasil tem atraído os olhos de grandes gestoras de ativos internacionais, conforme aplicações de inteligência artificial generativa exigem mais e mais infraestrutura.
ODATA, Scala Data Centers e Ascenty, três das maiores empresas do setor no Brasil, hoje são investidas de algum fundo estrangeiro.
Tratam-se de negócios do ramo chamado de colocation, especializados em construir estrutura para data centers das gigantes de tecnologia em nuvem pública, como Amazon (AMZO34), Google (GOGL34) e Microsoft (MSFT34).
O segmento se tornou o suprassumo do setor: como seus clientes representam um risco de inadimplência baixo e pagam em Dólar, os principais negócios no setor globalmente têm avaliado as companhias em múltiplos de 25 a 30 vezes seu EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês).
“Devido ao caráter intensivo em capital e à necessidade de constantes aportes, as empresas de colocation geralmente operam com fluxo de caixa negativo, ainda que apresentem resultados contábeis favoráveis”, conta o diretor da Associação Brasileira de Data Center (ABDC), Renan Lima Alves. O ponto central, segundo diz, está nos contratos de longo prazo, dolarizados, com clientes de alta qualidade.
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Não é à toa. As projeções de capex trimestral somado das principais empresas de tecnologia chega a US$ 70 bilhões de dólares.
Estrutura de capital apertada
Do lado das próprias companhias de colocation, a lógica é de uma disponibilidade de recursos cada vez maior para sustentar grandes projetos. “Tem que ter tanto do lado do capital como da dívida equacionado para continuar entregando produtos. É um mercado em que parar de crescer é muito difícil, uma demanda alta de capital”, conta o CEO Latam da ODATA, Ricardo Alário.
No caso da companhia, vendida pelo Pátria Investimentos em 2023, a avaliação é de que a compra pela Aligned Data Centers, cujo fundo Macquarie Asset Management detém uma parcela majoritária, ajudou a destravar investimentos em expansão. Recentemente a companhia anunciou um aporte de R$ 7,4 bi para expansão na Colômbia.
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“Esse segmento é muito interessante porque o estratégico e os fundos se misturam”, avalia Isaias Sznifer, sócio da assessoria de M&A responsável pela venda da ODATA, Seneca Evercore. “Hoje a percepção é de que há risco nesse, mas o vento de cauda é tão forte que faz todo o sentido tomar esse risco.”
Fundos soberanos
A avaliação de especialistas é de que o resultado de uma oferta por data centers que mal consegue acompanhar a demanda tem levado fundos a se movimentarem pelo próprio receio de ficar de fora da onda.
E mais: é cada vez mais provável que futuros desinvestimentos fortaleçam a posição de fundos soberanos — aqueles que pertencem a governos ou órgãos governamentais — no setor.
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“Esses fundos não possuem a obrigatoriedade de cumprir um cronograma rígido de desinvestimentos, pois seu objetivo é expandir o capital e gerar receita no horizonte de longuíssimo prazo, semelhantes a alguns fundos de Real Estate e Infraestrutura”, diz Lima Alves.
Neste ano, o Mubadala, fundo soberano do Emirado de Abu Dhabi, fez um investimento de valor não revelado na inglesa Yondr. A americana Equinix, listada na Nasdaq, criou uma joint venture com o Fundo de Pensão Canadense e o Fundo Soberano de Cingapura para investir mais de $15 bilhões em data centers.
Em outros casos, para segurar os investimentos elevados, a negociação tem envolvido dois investidores financeiros: em outubro, a gestora de ativos alternativos Blue Owl anunciou a compra da IPI Partners e seu portfólio de US$ 10,5 bilhões em data centers.
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No Brasil, há aproximadamente 580 megawatts de TI (MW de TI), unidade de medida para tamanho de data centers baseado em consumo energético. A expectativa do mercado é chegar a 2 GW até 2028. Para se ter ideia, cada MW de TI equivale a aproximadamente US$ 10 milhões de investimentos, o que levaria a projeção para 2028 a cerca de US$ 20 bilhões acumulados.