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O Brasil terá papel central na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que acontecerá em Belém (PA) em novembro deste ano. Para o agronegócio, a ocasião é vista não apenas como vitrine, mas uma oportunidade para propor soluções ambientais robustas e economicamente viáveis.
Durante o painel “Agro na COP 30”, realizado nesta sexta-feira (6) no Global Agribusiness Festival (GAFFFF), em São Paulo, especialistas reforçaram que o país precisa chegar à conferência com uma pauta sólida e articulada entre os setores público e privado, sobretudo no que diz respeito a temas como crédito de carbono, reflorestamento, bioeconomia e financiamento verde.
“Perdemos a chance de construir uma agenda unificada desde o anúncio de que sediaria o evento, reunindo ambientalistas e representantes do agro”, disse Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal e conselheiro da Tropical Forest Alliance. Ainda assim, ele reconhece que o ponto positivo é que os diálogos estão ganhando tração.
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Brito destacou que, enquanto outros países têm seus maiores emissores de gases do efeito estufa nos setores de energia e transporte, no Brasil, o principal desafio está no uso do solo. Segundo ele, o país precisa aproveitar a COP 30 para mostrar sua capacidade de liderar uma nova revolução agrícola, agora baseada na biotecnologia e na biodiversidade, com maior valorização dos ativos ambientais.
Transformando florestas e carbono em ativos econômicos
Já o diretor de Relações Governamentais da Suzano (SUZB3), Leonardo Mercante, ressaltou que o setor de papel e celulose opera com compromissos ambientais rigorosos e pode contribuir com soluções práticas. Ele citou o plantio diário de 1,2 milhão de árvores pela empresa no Brasil como exemplo de contribuição direta para a mitigação de emissões.
“De 2013 a 2023, evitamos a emissão de 40 milhões de toneladas de CO₂. Isso se conecta com o nosso compromisso ESG, que inclui, por exemplo, atrelar mais de 40% da dívida da empresa a metas sustentáveis”, explicou Mercante.
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Mercante defendeu ainda o fortalecimento do ambiente de negócios como peça-chave para atrair investimentos sustentáveis e desenvolver o mercado de carbono no país. Ele lembrou que o Brasil tem áreas subutilizadas com potencial único no mundo para geração de créditos ambientais, mas ainda sofre com entraves regulatórios e burocráticos.
Urgência por mecanismos concretos
Tanto Brito quanto Mercante também pontuaram que o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) segue travado, mesmo após a aprovação da lei que o institui. “Perdemos oportunidades enquanto o mundo debate um tema no qual o Brasil poderia estar gerando riqueza”, criticou Mercante.
Brito reforçou que é preciso distinguir entre emissões e remoções de carbono, sobretudo no agronegócio, para avançar em mecanismos de compensação eficientes. Ele chamou atenção para o fato de o agro arcar com o ônus ambiental enquanto outros setores, como o de transporte, colhem os bônus dos biocombustíveis.
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“Sabemos o quanto o agro emite, mas ainda não conseguimos medir bem quanto remove. E pior, não temos hoje ferramentas financeiras que recompensem o produtor rural por isso”, lamentou.
Fundos, infraestrutura e biodiversidade
Ambos os painelistas ainda convergiram na visão de que a transição verde só será viável se houver retorno financeiro. Segundo Brito, o capital global não quer mais apostar na filantropia, mas investir com retorno. Ele defende a criação de fundos retornáveis e políticas públicas que estimulem o setor privado, como já foi feito no passado com o financiamento da safra agrícola.
“A economia verde precisa ser tratada com pragmatismo. Sem retorno, o capital não aporta. E sem infraestrutura, principalmente na Amazônia, qualquer plano de desenvolvimento é utopia”, afirmou.
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Mercante também enfatizou que títulos sustentáveis podem ser um caminho para viabilizar a transição de empresas que ainda não têm tecnologia ou escala para cumprir metas ambientais.
“Mesmo a Suzano, autossuficiente em energia, tem gargalos logísticos sérios. É aí que os títulos podem fazer diferença”, disse, citando os investimentos de R$ 22 bilhões em Mato Grosso do Sul.