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83% das companhias que sofreram ataques hackers no Brasil pagaram resgates em 2023

Valor médio desembolsado foi de R$ 6,2 milhões, apontam dados da Sophos

Giovanna Sutto

Pessoas com mais de 60 anos são que mais apresentam queixas nos EUA (Foto: Pixabay)

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Das 75 empresas atacadas por ransomwares no Brasil em 2023, 83% delas efetuaram o pagamento de resgate para reaver suas informações, apontam dados da Sophos, empresa britânica fornecedora de softwares e hardwares de segurança, com cerca de 22 mil clientes ao redor do mundo.

O ransomware é um software feito para sequestrar os dados do local que vai atacar e depois extorquir a vítima. Ganhou notoriedade nos últimos anos no Brasil com grandes empresas como Grupo Fleury (FLRY3) e Renner (LREN3) como vítimas desse tipo de ataque.

A Sophos encomendou pesquisa independente com 5 mil líderes de segurança de TI/cibersegurança em organizações de médio porte (100-5.000 funcionários) em 14 países, incluindo 330 entrevistados no Brasil. A pesquisa foi realizada entre janeiro e fevereiro de 2024, e os entrevistados foram solicitados a responder com base em suas experiências de 2023.

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Conforme a pesquisa, os profissionais entrevistados do Brasil, cujas organizações efetuaram o resgate, compartilharam o valor que pagaram: US$ 1,22 milhão (ou cerca de R$ 6,2 milhões) é o valor médio pago. Para se ter uma base de comparação, a média global ficou em US$ 3,96 milhões (ou cerca de R$ 20 milhões).

“As empresas brasileiras pagam, em média, 110% da sua demanda inicial durante as negpociações com os criminosos, enquanto a média global gira em torno de 94% da demanda inicial. O que não é positivo. Os criminosos podem enxergar o Brasil como um país que, na média, paga resgate e ainda paga a mais. Isso pode atrair mais ataques nos próximos anos”, afirma André Carneiro, country manager da Sophos no Brasil.

Menos ataques, mais eficiência

O estudo também mostrou que no total 44% das organizações brasileiras (145) consideradas no estudo foram atingidas por ransomware no último ano, uma queda considerável em relação aos 68% relatados na pesquisa divulgada em 2023, referente ao ano de 2022, e também abaixo dos 55% relatados na edição de 2022 (referente a 2021). O patamar também é inferior ao registrado na média global: 59% dos entrevistados disseram que suas organizações sofreram um ataque de ransomware nos últimos doze meses.

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Apesar da queda, Carneiro ressalta que os ataques às empresas brasileiras estão cada vez mais eficientes – prova disso é o alto índice de pagamento de resgates. “Vemos um aumento da complexidade: estão buscando atacar mais servidores, computadores e sistemas de backups“, afirma o executivo.

Na média global, em 2023, 49% dos computadores de um empresa foram afetados em um ataque ransomware. No Brasil, essa média sobe para 54% dos computadores, mais de metade da companhia.

Já no casos de ataques a backups, a situação piora. Na prática, a função do backup é proteger a empresa contra imprevistos para garantir que os arquivos possam ser recuperados em caso de perdas ou falhas no sistema — se o ataque é no bacckup, a empresa fica ainda mais vulnerável.

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No Brasil, os ataques direcionados aos backups das companhias ficam ligeiramente acima da média mundial: 95% das vítimas de ransomware disseram que os criminosos atacaram seus backups, contra 94% da média global.

E do total de tentativas, 58% dos ataques ao backups foram bem-sucedidos no Brasil, acima dos 57% da média global no estudo.

Causa-raiz do ataque por ransomware

Segundo o estudo da Sophos, considerando todos os entrevistados, a principal causa de ataques é a exploração de vulnerabilidades (32%) das companhias, incluindo, por exemplo, ataques em máquinas desatualizadas, brechas de sistemas, entre outros. Embora seja o protagonista, esse motivo apresentou uma queda de 2023 (36%) para a edição de 2024 (32%).

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Quem aparece em elevação, na média global, é o email malicioso, que passou de 19% para 23% das causas de ataques no ano passado, conforme todos os entrevistados.

Olhando apenas para o Brasil, a exploração de vulnerabilidade é o principal motivo de ataques e fica bem acima do patamar médio global: 49% das empresas que sofreram ataques de ransomware afirmam que essa foi a porta de entrada.

Em segundo lugar, fica o item de “credenciais comprometidas”, como vazamento de logins e senhas, sendo o motivo de ataques em 28% das empresas que foram vítimas.

Veja as principais causas de ataques ransomwares no mundo, segundo o estudo:

Causa do ataque% de empresas entrevistadas que afirmaram ser esse o motivo de seu ataque em 2023 (estudo 2024)% de empresas entrevistadas que afirmaram ser esse o motivo de seu ataque em 2022 (estudo 2023)
Vulnerabilidades exploradas 32%36%
Credenciais comprometidas28%29%
Emails maliciosos 23%18%
Phishing 11%13%
Ataque de “força bruta” (violação de senha ou um nome de usuário por tentativa e erro)3%2%
Download (instalação de programas maliciosos) 2%1%
Fonte: estudo Sophos (respostas de 2,974 empresas que sofreram ataques)

“Sendo o destaque, a vulnerabilidade mais crítica é a de backup: o atacante vai buscar o ‘coração da rede’ e fazer o bloqueio do recuperador de dados da empresa. Nesses casos, a chance de ter êxito e conseguir o resgate é muito grande, já que a empresa vira refém absoluta da situação”, afirma Carneiro.

Ele reforça, ainda, que esse tipo de problema tem impactos mais severos. O custo geral de recuperação de informações, em caso de ataque que começou com vulnerabilidades, pode chegar a US$ 3 milhões (ou R$ 15,2 milhões). Se o ataque começou com credenciais comprometidas, por exemplo, o custo de recuperação cai para US$ 750 mil (ou cerca de R$ 3,8 milhões), segundo mostra o estudo.

“Na média, quando o ataque começa a partir de uma vulnerabilidade, além de ser mais caro, demora mais tempo para que seja possível recuperar informações e reestabelecer o funcionamento dos sistemas — podendo passar de um mês”, diz o executivo.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.