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Uma dúvida inusitada: afinal, quem enfrentará o PT no segundo turno?

É inacreditável constatar que, após tudo o que aconteceu nesse país durante os últimos anos, o Partido dos Trabalhadores esteja tão próximo de voltar ao poder - mas a situação ainda pode piorar
Por  Mario Vitor Rodrigues
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Lula foi Lula. Mesmo com limitações — que deveriam ser maiores, como bem pontuou o Ministério Público —, conseguiu ferir Ciro Gomes de morte. O desafio para o candidato pedetista, a partir da aliança entre PT e PSB em Pernambuco, além do registro da chapa que a qualquer momento será encabeçada por Fernando Haddad, passou de improvável a impossível: derrotar o próprio Luís Inácio no Nordeste para passar ao segundo turno como representante da esquerda.

Portanto, estabelecido esse fato e reconhecendo que Marina Silva também não dispõe de alianças e tampouco seduz o eleitor médio, cuja tendência histórica é a de se render a personalidades mais fortes, resta apenas uma dúvida: afinal, quem enfrentará o PT, Geraldo Alckmin ou Jair Bolsonaro?

O simples questionamento é inusitado por duas razões. Em primeiro lugar, pelo fato de Alckmin ter a seu lado a maior de todas as coligações (9 partidos, sem contar o apoio branco do MDB) e metade do fundo partidário (R$ 828 milhões). Depois, pelo tempo de TV que terá disponível a partir de 31 de agosto: 11min e 03s por dia (contra 18s de Bolsonaro).

Ademais, o confronto oferece perfis bastante distintos. Ao longo de 30 anos na vida pública, Bolsonaro passou por oito legendas e foi eleito para sete mandatos como deputado federal, sem jamais ter ocupado qualquer cargo no executivo. Alckmin, por sua vez, apesar de estar na política há 45 anos, só se filiou a dois partidos, já foi prefeito e governou São Paulo em duas ocasiões.

Trocando em miúdos, nem sequer deveria existir dúvida sobre quem enfrentará o Partido dos Trabalhadores no segundo turno. Ainda que as redes sociais façam parte da vida das pessoas e que a maioria delas tenha acesso ao Whatsapp, só os mais apaixonados apostam que anos de comportamento mudarão de uma hora para outra — não custa lembrar, o representante do PSL não será o único a ter acesso a essas novas ferramentas. Os demais candidatos também terão, incluindo o tucano.

Ainda assim — e sem esquecer que o presidente da República deverá agir com presteza logo no primeiro semestre para aprovar reformas fundamentais, movimento que pede um robusto apoio político —, a dúvida persiste.

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É inegável, Bolsonaro tem seus méritos. E não falo aqui de capacidade administrativa, conhecimento sobre políticas públicas, sabedoria na escolha das palavras, compromisso para com os valores democráticos ou capacidade de aglutinar aliados. Obviamente não. O que merece destaque é seu instinto de sobrevivência e o seu oportunismo.

Se, de candidato obscuro, preocupado em preservar os privilégios dos militares e fazer da própria carreira um esteio para os seus familiares, passou a candidato ao cargo mais importante do País, é porque soube perceber o momento exato de surfar na ira contra a esquerda e o PT. O mesmo PT a que tantas vezes acompanhou durante os oito anos do governo Lula. O mesmo Lula a quem agraciou com o seu voto, já que Ciro Gomes, o postulante preferido à época, não passou de turno em 2002.

É inacreditável constatar que, após tudo o que aconteceu nesse país durante os últimos anos, o Partido dos Trabalhadores esteja tão próximo de voltar ao poder, mas a situação ainda pode piorar. Se em 2014 tivemos um poste disputando a eleição, desta vez podem ser dois.

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