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Tesla: arrogância e o começo do fim

O dia 1º de maio é um feriado. Uma pena, deveria ter sido postergado para o dia seguinte. Aliás, todos os dias das teleconferências da Argentina sobre rodas, também conhecida como Tesla, deveriam ser feriado, para a gente poder aproveitar o momento. Quando não há previsões de lucro e produção que até uma criança teria vergonha de fazer, existem pérolas como as de ontem. Não houve nenhuma surpresa no relatório trimestral da empresa: mais queima de caixa, mais prejuízo, completo desdém pela Solar City e margem bruta negativa (!) para o Model 3. Aliás, uma pessoa sã em alguns anos vai olhar para trás e se perguntar como não vimos isso antes...
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O dia 1º de maio é um feriado. Uma pena, deveria ter sido postergado para o dia seguinte. Aliás, todos os dias das teleconferências da Argentina sobre rodas, também conhecida como Tesla, deveriam ser feriado, para a gente poder aproveitar o momento. Quando não há previsões de lucro e produção que até uma criança teria vergonha de fazer, existem pérolas como as de ontem.

Não houve nenhuma surpresa no relatório trimestral da empresa: mais queima de caixa, mais prejuízo, completo desdém pela Solar City e margem bruta negativa (!) para o Model 3. Aliás, uma pessoa sã em alguns anos vai olhar para trás e se perguntar como não vimos isso antes…

A rapidez com que a empresa queima caixa também chega a assustar. No último trimestre esse valor chegou a pouco mais de US$1 bilhão! Ufa, poderia ter sido pior. No terceiro trimestre do ano passado esse valor foi de US$1.4 bilhões… Olhando sob outra perspectiva, a empresa perdeu US$23,654 por cada carro entregue no primeiro trimestre.

Como a Tesla está querendo vender mais carros (que tem margem bruta negativa), quanto mais ela vender, maior será seu prejuízo. Pela primeira vez os bulls e bears estão torcendo pela mesma coisa.

Seguindo na teleconferência, tivemos a participação genial do analista da Morgan Stanely, Adam Jonas que, na minha opinião, ou é o mais corrupto analista desde as dotcoms ou é o mais picareta de todos. No ano passado sua pergunta foi sobre Marte (para tirar a atenção de mais um trimestre desastroso para a empresa). Dessa vez, Adam perguntou sobre o uso da SpaceX para conectar os dados produzidos pelos carros elétricos da Tesla. Realmente não tinha nada mais importante para perguntar? Como, por exemplo, por que os executivos estão abandonando o barco (o último foi o chefe do autopilot, sistema que deveria ser um grande diferencial para a Tesla), por que o autopilot ainda não funciona (e a GM, que estava bem atrás na tecnologia, já tem um que funciona), por que a empresa não consegue dar lucro e gerar caixa, onde estão os 5 mil Model 3 prometidos, por que continuar investindo na rede de superchargers, qual é o potencial passivo do acordo com a Panasonic, como a empresa vai sobreviver esse ano sem mais um aumento de capital, etc.

Mas a parte interessante veio por volta dos 36minutos, quando o analista da Bernstein, obviamente não uma tiete de Musk, fez talvez a pergunta mais importante da teleconferência, sobre o corte no CAPEX da empresa e quais os impactos para a fabricação de baterias e capacidade nas fábricas. O completo desdém de Musk pela pergunta foi chocante, nunca antes tinha visto nada assim. Nem o Eike Batista (o brasileiro, não o sul-africano) era tão prepotente assim. Ele cortou o analista e disse “boring bonehead questions are not cool” (perguntas chatas e burras não são legais).

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Depois o analista da RBC ainda tentou fazer uma excelente pergunta sobre o Model 3 e Musk falou com todas as letras: “These questions are so dry. They’re killing me” (estas perguntas são muito chatas e estão me matando) e passou para o youtube, onde respondeu as várias perguntas de um jovem investidor sobre sua visão para o futuro (isso sim, sem dúvida, muito interessante).

Nesse momento, as ações, que terminaram o dia com uma pequena alta e quase mantiveram o momentum após os resultados (que, como já mencionamos, foram horríveis como sempre), foram pra baixo, chegando a cair quase 5% no after-market.

Além do seu desdém pelos analistas, mercado financeiro e o tempo de todos na teleconferência, Musk se mostrou super arrogante e criticou a Daimler, dizendo “Daimler don´t know much about physics, but I studied physics in college” (Daimler não sabe muito sobre física, mas eu estudei física na faculdade) – dá pra acreditar?

Jeffrey Skilling, ex-CEO of Enron, tratou os analistas da mesma forma no final. Em abril de 2001, há 17 anos, Skilling, agora na cadeia cumprindo sentença por fraude (alguma relação com Musk?), em resposta a uma pergunta de um analista disse “muito obrigado, eu agradeço por isso. Seu FDP”.

De todas as maneiras que olho para a Tesla eu vejo um future negro. Na minha opinião, a melhor saída seria uma reorganização da empresa, renegociação da já enorme dívida, saída do Musk do comando e produção de carros de nicho, como a Porsche, Ferrari, etc. Obviamente, isso não deve acontecer, já que o ego do Musk é do tamanho de uma Argentina.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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