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Varanasi: uma experiência de vida e morte!

Varanasi, Uttar Pradesh – Índia. É noite. Navego por águas escuras. Estou no rio Ganges. Estranhamente não sinto medo, angústia. Antes do dia amanhecer, dezenas de barcos surgem aqui e ali. Alguém acende uma “vela flutuante”. Suavemente, a correnteza sagrada a leva para longe. Olho ao redor. Outras tantas velas navegam silenciosamente no horizonte.Vela flutuante simboliza a […]
Por  Paulo Panayotis
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Varanasi, Uttar Pradesh – Índia
. É noite. Navego por águas escuras. Estou no rio Ganges. Estranhamente não sinto medo, angústia. Antes do dia amanhecer, dezenas de barcos surgem aqui e ali. Alguém acende uma “vela flutuante”. Suavemente, a correnteza sagrada a leva para longe. Olho ao redor. Outras tantas velas navegam silenciosamente no horizonte.
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Vela flutuante simboliza a trajetória da vida
E, subitamente, vejo as piras ardendo em chamas. Há quanto tempo isso acontece dia após dia? Difícil precisar. A tradição oral hindu não aponta uma data de fundação exata desta cidade onde todo o indiano gostaria de terminar seus dias. Os brâmanes, uma espécie de classe AA da Índia, afirmam que Varanasi foi fundada por Shiva há pelo menos cinco mil anos. Estudiosos discordam, afirmando que a cidade é bem mais nova: cerca de três mil anos. Mas em um ponto todos convergem: esta é uma das sete cidades sagradas da Índia e tem muita, muita história para contar.
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Piras funerárias ardem na beira do rio Ganges

Começa a amanhecer e o movimento nos Ghats aumenta. Gente de todos os cantos da Índia e do mundo circula em meio a lixo, animais soltos e mercadores. São quase cem Ghats ao longo do Ganges em Varanasi. Uma sensação de santidade e atividade pagã está por todo lado. O caos reina em meio a um movimento ordenado, contínuo, perpétuo. A palavra ghat, em hindu, significa degrau. Então, teoricamente, são degraus construídos na beira do rio Ganges e que levam a ele. Mas seu significado vai muito além. Ghats são locais de acesso espiritual ao rio indiano mais sagrado e uma espécie de ritual de passagem. Que fique claro: passagem de uma vida para outra.
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Malandros ou homens santos?
Misturados, malandros e homens santos são capim por ali. Apesar de tudo, não há perigo. Pelo menos não como costumamos ter no Brasil. Vão te pedir esmolas. Vão te abençoar. Vão te amaldiçoar. Mas uma coisa é certa: ninguém sai dali o mesmo que entrou. Dia claro, do barco, consigo enxergar melhor estes verdadeiros crematórios a céu aberto. Tem um ritmo impressionantemente próprio. Corpos ardem em meio a crianças que nadam. Mais uma vez, não sinto medo, não sinto temor, nem paz! Não sinto nada e sinto tudo ao mesmo tempo. Apenas deixo as sensações fluirem como as águas do Ganges. Há muito que fazer em Varanasi: visitar Sarnath, local onde Buda fez seu primeiro sermão. Conhecer o Parque dos Servos, uma estupa gigante onde foram construídos os primeiros monastérios da Índia. Ficar maravilhado com o Museu Arqueológico de Sarnath e sua rica coleção de objetos, esculturas e imagens de Buda.
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Aarti, antiga cerimonia que celebra a vida
Mas nada se compara ao Aarti, um ritual ou cerimônia de agradecimento aos deuses por tudo o que se recebeu ao longo de mais um dia de vida.  É quase noite. Estou no Ghat Dashashwamedh. Apresso-me em pegar um bom lugar para ver de perto a cerimônia que acontece, diariamente, há milhares de anos. Centenas e centenas de pessoas chegam. Vão se acomodando onde podem. Ao meu lado, uma indiana confecciona colares de flores frescas. Me pede ajuda e de repente me vejo participando ativamente do ritual. Música começa a tocar. Um sentimento de serenidade e, ao mesmo tempo, de curiosidade, toma conta de mim. Sete sacerdotes (paandits), munidos de incenso, candelabros de fogo e outras peças sagradas, iniciam o ritual. Há muito mais indianos do que turistas participando. Todos entram em estado de êxtase, de meditação devocional, de olhar para dentro de si mesmos.
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Jornalista Paulo Panayotis ao final da cerimonia Aarti: transformadora!
Ao meu redor, milhares de almas rezam, se entregam, mergulham na vida que, a qualquer instante, pode ser interrompida. Em pouco mais de uma hora de ritual, uma mudança sutil ocorre comigo. Uma mudança que levo para onde vou e que somente percebo tempos depois de sair da Índia. Incredible Índia, Impossible Índia. Unbelievable Índia. Quem já passou por isso, sabe como é! Quem nunca passou não sabe o que está perdendo!
Fotos: Paulo Panayotis/Adriana Reis( CRÉDITO OBRIGATÓRIO)
Jornalistas Paulo Panayotis e Adriana Reis viajaram a convite do Governo da Índia com roteiro da Indo Asia Tours Brasil e seguro viagem Travel Ace.

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