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A primeira participação de Laís Souza, assessora da Blue3, na Expert XP – maior festival de investimentos do mundo – ocorreu em 2019 e uma situação inusitada que viveu no evento dimensiona bem a presença da mulher no mercado financeiro.
“Foi o primeiro lugar que eu vi na vida que a fila do banheiro masculino era maior do que a do feminino”, brinca. “Achei aquilo muito curioso e simbólico”, relembra a profissional.
Na época, acrescenta, o escritório de Laís contava com cerca de 50 profissionais – apenas cinco ou seis mulheres. “A gente percebe que [esta diferença] já mudou bastante, mas a presença da mulher ainda não é tão grande quanto a dos homens”, observa.
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De fato, atualmente, 79% dos assessores de investimentos do País são homens, de acordo com dados da ANCORD (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias). Mas realmente houve avanços, segundo as próprias assessoras.
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Conquistando espaço
Nascida e criada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Bruna Cantarella Rinaldi lembra que foi a primeira assessora do RP Capital – escritório que hoje é sócia. Atualmente, ela tem aproximadamente R$ 840 milhões sob custódia.
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“E hoje nosso escritório é quase meio a meio, ou seja, temos mais espaço para a diversidade de gêneros”, confirma. “Eu vejo a mulher se envolvendo mais, querendo aprender e sendo até melhor que o homem – porque vou puxar a sardinha para o lado das mulheres”, provoca bem-humorada.
Na opinião de Bruna, a mulher tende a ser mais diligente e equilibrada na atividade de assessoria de investimentos, comportamento que fortalece o gênero na atividade.
Juliana Libonati, da Requin Capital, assessoria com escritórios em Recife (PE), Fortaleza (CE) e em Brasília (DF), vai na mesma linha e acrescenta: “a mulher tem essa coisa de fazer várias coisas ao mesmo tempo e isso ajuda no nosso negócio”, sugere.
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Além disso, as assessoras chamam a atenção para a procura das investidoras por profissionais do sexo feminino. “Tenho muita cliente mulher e minha maior carteira sob custódia hoje também é de uma mulher”, conta Bruna.
A observação ganha ainda mais relevância dado o crescimento da base de investidoras no Brasil – especialmente as focadas em renda variável. Em 2023, o número saltou 658%.
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Cargos de liderança
Juliana percebe o avanço da participação da mulher especialmente na ponta do negócio, ou seja, no atendimento ao cliente. Para ela, essa transformação sinaliza para objetivos ainda maiores daqui para frente.
“Essa base bem alimentada faz com que a hierarquia, aos poucos, perceba a importância e aproveite esta mão de obra qualificada”, reflete. “Com isso, as mulheres tendem a ocupar espaços mais importantes em um segmento que sempre privilegiou os homens”, pontua.
O otimismo se sustenta, segundo a executiva, na própria realidade que, na maioria das vezes, é mais forte do que o próprio discurso, pondera. Um exemplo disso é o escritório que Juliana comanda, ao lado da sócia Rosana UlhoaTimo, eleito o melhor da região Nordeste com menos de dois anos de operação.
“Eu falo muito mais sobre números porque contra fatos não há argumentos”, reforça. “As mulheres têm conseguido se impor tanto do ponto de vista do respeito como sobretudo dos resultados e reconhecimento”, detalha.
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Desafios
Entre os desafios para o avanço da participação feminina no segmento de assessoria de investimentos, Renata Vianna, também da Blue3, cita o próprio perfil mais conservador da mulher.
“A mulher tem algo um pouco mais seguro e tende a ficar um pouco mais receosa de assumir uma atividade autônoma, por exemplo”, explica a executiva, ao lembrar da dilema que muitos profissionais enfrentam em momentos de transição de carreira.
Segundo ela, a eventual troca da segurança de um trabalho com carteira assinada e benefícios pode inibir o ingresso de mulheres neste mercado. Mas para quem tem este receio, Renata avisa:
“Percebemos que há muitas oportunidades aqui dentro”, afirma. “Além disso, a gente observa agora que, muitas vezes, há uma falsa segurança [que nos prende em uma zona de conforto”, emenda.
Com o mesmo otimismo, Juliana, da Requin Capital, afirma que a inserção da mulher no mercado financeiro se fortalecerá ainda mais nos próximos três anos – e em uma velocidade cada vez maior, arrisca.
“Antigamente, os ciclos de mudança levavam muito mais tempo para acontecer”, observa. “Eu acredito que ainda vai ter alguma resistência, mas as mudanças hoje acontecem ciclos muito mais curtos”, finaliza.