Kapitalo vê oportunidade na previdência mesmo com IOF e alerta para riscos no crédito

Segundo Bruno Cordeiro, sócio da gestora reconhecida na premiação Outliers InfoMoney, os benefícios fiscais e a possibilidade de portabilidade tornam a modalidade especialmente adequada para investidores de longo prazo

Jamille Niero

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O mercado de previdência segue atrativo mesmo após mudanças como a cobrança de IOF em aportes maiores nos planos VGBL – 5% em cima do que ultrapassar 300 mil por seguradora em 2025 e R$ 600 mil somando os planos de todas as seguradoras.

Segundo Bruno Cordeiro, sócio da Kapitalo Investimentos e gestor dos fundos K10 da casa, a avaliação é que os benefícios fiscais e a possibilidade de portabilidade tornam a modalidade especialmente adequada para investidores de longo prazo, além de ser um canal estratégico para fundos como o K10 Prev.

E é justamente com o fundo K10 Prev que a gestora, que tem R$ 23 bilhões sob gestão, foi reconhecida na Premiação Outliers InfoMoney, conquistando o 2º lugar na categoria Fundo de Previdência Multimercado.

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Além de oportunidades no mercado de previdência, Cordeiro também identifica perspectivas em um cenário mais amplo, em posições aplicadas em juros em países desenvolvidos e no mercado de commodities.

“Estamos vendo superávits relevantes em petróleo, soja e milho, por isso temos posições vendidas acreditando que os preços vão cair. Também seguimos otimistas com ações de tecnologia nos EUA, especialmente a Amazon”, afirmou em entrevista ao InfoMoney.

Entre os pontos de atenção, o gestor observa que muitos investidores estão subalocados em multimercados e bolsa, enquanto aumentaram de forma excessiva a exposição em crédito, em alguns casos de qualidade questionável.

“Essa alocação muito alta em ativos spot no CDI não é saudável. Ter um pouco mais de duration seria adequado”, alertou.

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Confira a seguir a entrevista com Bruno Cordeiro, sócio da Kapitalo Investimentos

InfoMoney: Bruno, vou começar pedindo para você falar sobre a trajetória da gestora, desde a fundação até o momento atual, e em quais verticais vocês atuam.

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Bruno Cordeiro: A Kapitalo foi fundada em 2009, então completamos 16 anos agora. É uma das gestoras estabelecidas no Brasil, com uma trajetória de longa data. Somos estruturados como sociedade, onde os principais executivos e gestores são sócios. Hoje temos 130 colaboradores, sendo 50 sócios. A empresa é dedicada à gestão ativa de fundos líquidos.

Os três principais veículos são: o fundo de ações Tarkus; o multimercado multigestores, da família Capa e Zeta; e o K10, um multimercado “single manager”, com um time de 16 pessoas. Atualmente, temos R$ 23 bilhões sob gestão, sendo pouco mais de 50% no K10 e o restante dividido entre Tarkus e Capa e Zeta.

IM: Olhando agora para o futuro, quais são as ambições estratégicas da Kapitalo nos próximos anos? Tem algum plano de expansão ou desenvolvimento de novos produtos, por exemplo?

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BC: Nós sempre pensamos em oferecer ao mercado aquilo que sabemos fazer bem. Não seguimos apenas tendências de demanda momentânea, mas buscamos lançar produtos baseados em processos testados e vencedores.

Estamos avaliando iniciativas em crédito, renda fixa ativo e previdência, onde já temos três veículos e pretendemos ampliar. Também estamos com veículos em dólar para atender investidores residentes no exterior, ou brasileiros que queiram diversificar. Um deles é o Merchant Fund, que replica o K10.

Estamos bem-posicionados na indústria local, com um time capacitado. Dependendo das condições de mercado, vamos lançar novos produtos com base em processos de investimento sólidos e comprovados.

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IM: Falando em processos, quais são as boas práticas de governança adotadas pela gestora? Tem alguma que se destaca?

BC: Temos um processo de governança sofisticado. Nosso departamento de risco é independente e autônomo, com cinco profissionais que reportam diretamente ao conselho (grupo de acionistas e controladores). Todos os fundos são monitorados por essa área.

Além disso, seguimos a filosofia de só lançar produtos em que temos total confiança e capacidade de execução e não apenas porque o mercado está demandando. E nossa estrutura de partnership contribui para reduzir o turnover de pessoas, garantindo estabilidade e continuidade nos times de gestão — algo fundamental para dar confiança ao investidor.

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IM: A Kapitalo ficou em segundo lugar no prêmio Outliers InfoMoney, na categoria melhor fundo de previdência multimercado, com o K10 Prev. O que diferencia esse fundo dos demais no mercado?

BC: É difícil comparar diretamente com outros fundos, mas posso explicar o que torna nossa estratégia vencedora no longo prazo. O K10 — tanto na versão Prev quanto no 555 — é um fundo muito líquido e de fato diversificado, características que são interessantes para quem quer investir em multimercados.

Hoje cobrimos cerca de 20 países, tanto emergentes quanto desenvolvidos, e temos um time dedicado exclusivamente ao mercado de commodities, algo único no setor. Fazemos análises econômicas e de oferta e demanda em energia, metais e agrícolas há quase 20 anos.

Operamos bolsa, juros, moedas e commodities via futuros e opções, o que garante grande diversificação. A liquidez nos permite ser oportunistas na construção de portfólio, sempre ajustando alocações para refletir o cenário à frente. Isso traz consistência de retornos, que é o que o investidor busca.

IM: E como você avalia o mercado de previdência hoje, especialmente após mudanças como a cobrança de IOF em aportes maiores?

BC: Sempre vimos o mercado de previdência com bons olhos. Os benefícios fiscais e de portabilidade são muito bons para o investidor final. Além disso, o horizonte mais longo dos investidores é compatível com nossa filosofia de investimento no fundo K10.

Demoramos para oferecer produtos de previdência porque a legislação antiga era ruim. Com as mudanças pelas quais a legislação vem passando, o ambiente melhorou muito e conseguimos oferecer o K10 Prev, que tem grande aderência ao K10 555. Também já expandimos para os fundos Capa e Zeta.

O IOF é um atrito, vai dificultar novos aportes, e foi mal desenhado, mas é temporário. Apesar disso, acreditamos que as demais regras da previdência só tendem a melhorar.

IM: Ampliando o olhar, quais oportunidades vocês enxergam hoje considerando todas as verticais de atuação da Kapitalo e que dicas você daria para o investidor poder aproveitá-las?

BC: No K10, trabalhamos com horizontes de 1 a 6 meses. No curto prazo, estamos com posições aplicadas em juros em países como EUA, Suécia, Canadá e Zona do Euro, pois acreditamos que as curvas estão mal precificadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mercado de trabalho está mais fraco do que no ano passado. Estamos vendo espaço para o Fed cortar juros pelo menos duas vezes neste ano.

Em commodities, estamos vendo superávits relevantes no mercado de petróleo, vai sobrar petróleo no último trimestre do ano, então temos posições vendidas em petróleo e em soja e milho, também diante de superávits relevantes.

No mercado de moedas, vemos tendência de enfraquecimento do dólar americano, que veio se apreciando nos últimos 12 anos de forma recorrente. Os Estados Unidos atraíram muito capital estrangeiro e no momento os investidores estão repensando essa alocação de portfólio lá dentro. Temos posições vendidas em dólar contra diversas moedas.

Na parte de ações, continuamos comprados em ações de tecnologia nos Estados Unidos, sendo nossa principal e maior alocação na Amazon.

No Brasil, ainda vemos a renda fixa como o melhor veículo, especialmente NTN-Bs na “‘barriga’ da curva”.

Para o investidor final, destaco que houve uma corrida para produtos isentos, o que gerou uma redução nas alocações em multimercados e bolsa e uma alocação excessiva em crédito de qualidade questionável. Os produtos iniciais isentos eram bons, tinham qualidade de crédito muito boa, enquanto os que estão sendo comprados agora estão com qualidade difícil, liquidez pior etc. os benefícios são bons, mas tem que tomar cuidado.

IM: E quais são os principais pontos de atenção para o investidor hoje? Taxa de juros, inflação, cenário internacional?

BC: Olhando para os riscos de cauda, vejo que a maior possibilidade é de melhora significativa no Brasil — se por acaso tiver uma mudança de governo que enderece a questão de gastos públicos.

Hoje os nossos ativos de duration mais longa estão sendo descontados por uma taxa de juros reais muito acima do equilíbrio. Esses ativos vão se deslocar muito caso haja mudança de política econômica. E as probabilidades de isso acontecer não são baixas.

Hoje, os portfólios dos investidores finais estão com pouco risco de duration mais longa. Obviamente foi bom no passado recente, mas pode ser um problema. Do ponto de vista de construção de portfólio, essa alocação muito alta em ativos spot no CDI não é saudável e é arriscada.

Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa