IA vira motor do S&P e distorce fundamentos, diz Luiz Parreiras, da Verde

Gestor da Verde Asset destaca que, se o fenômeno da Inteligência Artificial sustenta os ativos nos Estados Unidos, no Brasil, a política volta ao centro do radar dos investidores

Osni Alves

Publicidade

A inteligência artificial transformou o S&P 500 em um “trade micro”, dissociado dos fundamentos macroeconômicos. Essa é a leitura de Luiz Parreiras, gestor da estratégia multimercado e previdência da Verde Asset, que participou do podcast Outliers InfoMoney, edição especial da Expert XP 2025.

Segundo ele, mais da metade do índice americano já está ligada diretamente a investimentos em IA — um fenômeno que ajuda a explicar o desempenho robusto da Bolsa dos EUA, mesmo em meio a déficits fiscais elevados e crescimento moderado da economia.

“O S&P hoje é um trade de inteligência artificial. Não é mais um trade macro.”

— Luiz Parreiras, gestor da estratégia multimercado e previdência da Verde Asset

Ele explicou que, embora o macro possa interferir em algum grau, o movimento principal da Bolsa americana está sendo puxado pelas grandes empresas de tecnologia e setores impulsionados por IA, como utilities e industriais. “Mais da metade do S&P está diretamente ligada à inteligência artificial”, destacou o gestor.

Continua depois da publicidade

Essa dinâmica contrasta com a situação macro dos Estados Unidos. Parreiras alertou para um déficit fiscal elevado — entre 6% e 7% do PIB —, dívida bruta acima de 100% e consumo alavancado.

Ainda assim, o impacto das tarifas propostas pelo ex-presidente Donald Trump ainda é pouco visível nos balanços das empresas ou nos índices de inflação, embora já comece a aparecer em setores específicos.

Mercado já precifica eleições de 2026 no Brasil

Se o fenômeno da IA sustenta os ativos nos Estados Unidos, no Brasil, a política volta ao centro do radar dos investidores. A corrida eleitoral de 2026, embora ainda distante, já começou a fazer preço, segundo Parreiras.

Ele afirma que a antecipação do debate eleitoral ocorreu por dois fatores principais: a queda de popularidade do governo atual e a adoção de medidas de caráter populista, como o corte do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.

“Seis meses atrás, eu diria que as eleições só fariam preço no final de 2025. Mas essa resposta estava errada. A discussão foi antecipada.”

— Luiz Parreiras, da Verde Asset

Na avaliação dele, embora o tema ainda não domine o mercado, já começa a impactar ativos — principalmente a Bolsa —, e deve ganhar protagonismo absoluto a partir do quarto trimestre deste ano.

Ele também alertou que o ambiente político no Brasil exige atenção redobrada dos gestores.

Continua depois da publicidade

“Já tivemos avião caindo, facada em candidato, agora temos conflito entre a maior potência do mundo e o nosso Judiciário. Temos que estar preparados para o inesperado”, disse, defendendo uma postura de flexibilidade nas alocações e construção de portfólio disciplinada, diante de um CDI elevado.

Cenário fiscal e inflação: riscos e contrapesos

Apesar das medidas de estímulo e do pacote fiscal expansionista — que inclui liberação de FGTS e isenção no IR —, a Verde vê trajetória de inflação cadente nos próximos 12 meses.

A combinação de juros elevados e câmbio mais estável ajuda a conter a pressão inflacionária. Além disso, Parreiras apontou que tarifas americanas sobre produtos brasileiros podem, paradoxalmente, ter efeito deflacionário no país.

Continua depois da publicidade

“Vai sobrar mais suco de laranja, açúcar, carne… isso é deflacionário, por mais maluco que pareça.”

— Luiz Parreiras, da Verde Asset

No entanto, ele ponderou que, para 2026, medidas como o corte de imposto de renda podem pressionar a inflação e dificultar o trabalho do Banco Central.

A expectativa atual da Verde é que o BC comece a cortar juros por volta de março do próximo ano — se a inflação colaborar, isso pode acontecer antes.

No campo político, Parreiras alertou que o ciclo eleitoral tende a aumentar os gastos públicos, o que pode dificultar a condução da política monetária.

Continua depois da publicidade

“O tamanho do ciclo de cortes e a velocidade vão depender do comportamento fiscal do governo em 2026”, avaliou.

Ouro, moedas e inflação americana: onde estão as apostas da Verde

Com o cenário global incerto e a política fiscal brasileira pressionando, a Verde tem adotado uma postura cautelosa e diversificada.

As principais posições da gestora atualmente estão em moedas e juros. “Estamos comprados em real, euro, ouro e bitcoin”, revelou Parreiras.

Continua depois da publicidade

O gestor explicou que o real parece barato nos modelos da casa e se beneficia de um carrego positivo.

Nos Estados Unidos, a Verde segue comprada em inflação implícita (break-even inflation rate – BEIR) e em juros reais via TIPS — os equivalentes das NTN-Bs.

“É uma boa construção de portfólio, que se beneficia tanto de inflação quanto de cortes de juros pelo Fed”, explicou.

A gestora também tem posição em NTN-Bs de dez anos no Brasil, com a leitura de que o mercado ainda não precificou adequadamente as incertezas eleitorais.

Na Bolsa brasileira, a Verde está apenas começando a retomar posições compradas, após um longo período atuando de forma neutra ou via long & short.

“A Bolsa emagreceu o prêmio de risco. Vemos mais oportunidade hoje na moeda e nos juros do que na renda variável.”

— Luiz Parreiras, da Verde Asset

Commodities em baixa, crédito estruturado em alta

O único ativo de commodities com posição relevante na Verde é o ouro — tratado mais como moeda do que como mercadoria.

“Nas demais, estamos sem posição significativa. Temos viés negativo para petróleo, mas é um trade muito difícil”, explicou Parreiras.

Ele também se mostrou cético com a alta recente de commodities metálicas, como minério de ferro, e destacou a complexidade dos fatores micro nas agrícolas.

A Verde continua alocada em crédito estruturado, que vem apresentando retornos consistentes acima do CDI.

“Esse portfólio tem sido importante na geração de alfa para os nossos fundos”, destacou o gestor, reforçando que, mesmo diante de um ambiente de juros altos, é possível obter retorno com disciplina e alocação estratégica.