Na briga contra o impeachment, Dilma larga com cerca de 130 votos na Câmara

Se fosse levada em consideração a base teórica do governo, a petista poderia dormir tranquila, uma vez que contaria com o apoio de 304 deputados. Mas não é bem assim que as coisas funcionam

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu acatar o pedido de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff, assinado pelos juristas Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior, os mais diversos cálculos políticos começaram a ser discutidos em Brasília e no mercado. Enquanto a enfraquecida presidente tenta apoio mínimo para se manter no poder (172 votos), a oposição já se organiza em busca de 342 votos de deputados, o que corresponde a 2/3 da casa. Na informalidade, uma das disputas que se constrói opõe Dilma a seu vice, Michel Temer, que vê reais possibilidades de assumir a Presidência – e opera no mínimo para construir base de apoio caso esse cenário se confirme.

Se fosse levada em consideração a base teórica do governo (PT, PMDB, PSD, PP, PR, Pros, PDT, PCdoB e PRB), a petista poderia dormir tranquila, uma vez que contaria com o apoio de 304 deputados. No entanto, como se sabe, as coisas estão longe de funcionarem assim na prática. Provavelmente, os únicos partidos da base que tenderiam a votar em bloco contra o impeachment seriam o próprio PT (59), o PDT (18) e o PCdoB (12). Fora da base, Rede (5) e PSOL (5) ensaiam engrossar o coro. Do outro lado, os opositores PSDB (53), DEM (21) e Solidariedade (15) dificilmente contarão com alguma dissidência na ofensiva contra Dilma.

Entre os diversos cálculos que surgiram, um deles – apesar de pouco revelador – parece representar com maior fidelidade a complexidade do cenário atual e dificuldade de se fazer qualquer previsão sobre quem será o presidente do Brasil ao final do processo aberto por Cunha na Câmara. Na conta de alguns especialistas, Dilma larga com um piso de cerca de 130 votos, que representam o grupo mais governista de deputados. O número leva em conta as eleições para a presidência da Câmara no começo do ano, quando Cunha foi eleito com 267 votos a favor, contra 136 para o candidato apoiado pelo governo (Arlindo Chinaglia, PT-SP), 100 de Júlio Delgado (PSB-MG) e 8 de Chico Alencar (PSOL-RJ).

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O cenário era outro, de um pouco menor fragilidade do governo, mas a votação permitia maior dissidência da base, uma vez que era fechada. O voto aberto e narrado, na situação do impeachment, tende a gerar maior pressão sobre aqueles que realmente apoiam o governo – o mesmo vale do lado oposto. Por isso, parece razoável supor que o governo conte com um grupo “muito governista” de cerca de 130 parlamentares. Levando em consideração que a vitória contra impeachment demanda 172 votos, a briga de Dilma se construirá em torno de 40 deputados – o que equivale hoje ao tamanho da bancada do PP.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.