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SÃO PAULO – Apesar do quase ineditismo de sua eleição, a consagração de Donald Trump como vencedor do pleito americano trouxe diversas matérias da imprensa internacional, baseada em análise de cientistas políticos e economistas, fazendo comparações entre o magnata e outros políticos. Aliás, muitas matérias destacaram a semelhança entre Trump e políticos brasileiros – de diversos espectros ideológicos.
Apenas na semana passada, a Bloomberg e a Forbes fizeram uma comparação que alguns meses atrás pareceria inusitada, mas que passou a ser relativamente comum mesmo antes do americano assumir a presidência: entre Trump e a ex-presidente brasileira, Dilma Rousseff.
A Bloomberg tem como foco principal as lições que a ex-governante que sofreu impeachment em agosto do ano passado pode ensinar ao magnata e aos americanos, mas aponta ainda outros traços de semelhança.
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”Considere os traços compartilhados, as preferências e peculiaridades políticas, que agitaram o Brasil e poderiam anunciar problemas para qualquer democracia dividida. Questionamento dos mercados? Confere. Obstinação? Sim, senhor. Desprezo pela política convencional? Confere novamente. Um apetite por fatos alternativos e imunidade à realidade fiscal? Confere duplamente. Tomados em conjunto, esses traços oferecem uma receita para um desastre”, afirma o colunista Marc Margolis.
A Bloomberg afirma que, “em última instância, Trump pode ser um executivo muito pragmático, e sua própria base política não toleraria o tipo de insensatez nacionalista que derrubou Dilma Rousseff e que dominou a América Latina por décadas. Mas as aflições do Brasil são um conto preventivo sobre a perda da riqueza e da estabilidade em meio à tentação populista, e esse é um problema que nenhuma muralha na fronteira pode consertar”.
Já o colunista Keneth Rapoza, da Forbes, mostra um outro foco, apontando que algo em especial faz Trump parecer muito com Dilma: “há um ponto que é assustadoramente parecido: Dilma tinha muito pouco apoio no Congresso, mesmo entre seus aliados. O mesmo acontece com Trump”, ressalta ele, destacando a oposição de muitos integrantes do Partido Republicano ao seu governo.
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Além disso, a análise aponta para a possibilidade de um caminho convergente entre Dilma e Trump: o impeachment. ”Para os democratas de esquerda, [a comparação com a ex-presidente brasileira] é algo maravilhoso, já que Dilma sofreu impeachment (…). Imagine o quanto eles ficariam felizes se Trump tivesse o mesmo destino.”
Contudo, antes mesmo do magnata assumir a Casa Branca, em 20 de janeiro deste ano, as comparações já eram feitas com a ex-presidente brasileira. “Mais do que a plataforma de qualquer outro político americano, a agenda de Trump para a economia lembra a de políticos populistas lá fora. Em particular, as políticas que ele propõe são muito similares às de Dilma Rousseff”, destacava o texto assinado por Max Ehrenfreund, do Washington Post, de novembro do ano passado.
Entre os exemplos citados na matéria está a proposta de expansão fiscal. Trump promete cortes de impostos e um grande programa de infraestrutura, sendo que alguns economistas apontam que isso pode causar mais déficit e inflação. Em seu governo, Dilma promoveu desonerações e crédito subsidiado para grandes empresas sem cortes equivalentes de gastos, o que levou a uma crise fiscal, estouro da inflação e recessão. Por outro lado, o jornal cita uma diferença entre os dois. Segundo o texto, há um impacto relativamente baixo nos EUA de uma queda generalizada do preço das commodities, lembrando da desvalorização destes ativos nos últimos anos e é apontada como responsável por parte da crise que Dilma não conseguiu contornar.
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Muito além de Dilma…
Porém, quando o assunto são os políticos brasileiros, as comparações não são feitas somente com a ex-presidente Dilma. A mesma Bloomberg que traçou um paralelo entre Dilma e Trump destacou em matéria do final de janeiro que o Brasil está “sedento” por um Trump nacional em meio à falta de representação política que o País enfrenta. Neste caso, a lógica é um pouco diferente: os políticos brasileiros são comparados ao americano como “possíveis Trumps”. A Bloomberg destacou quatro nomes como “potenciais Trump”: O primeiro é o do deputado Jair Bolsonaro, que tem ganhado apoio por conta de seu estilo próximo ao de Trump, com declarações bastante polêmicas (e vem ganhando terreno nas pesquisas, como mostrou o último levantamento CNT/MDA). O segundo é do atual prefeito de São Paulo, João Doria Jr.. Também comparado com Trump por ser um empresário e ex-apresentador do Aprendiz, ele, por outro lado, já se mostrou não ser fã do presidente americano. Depois , outro apresentador da versão brasileira do reality show O Aprendiz também é colocado na disputa: Roberto Justus (que já anunciou que não será candidato). Por fim, o texto lembra Roberto Miguel Rey, o cirurgião plástico também conhecido como Dr. Hollywood. Ele já demonstrou sua intenção de concorrer à presidência, mas quando entrou na disputa pelo Congresso acabou sendo derrotado. O Washington Post também destaca o desejo brasileiro por um Trump nacional e, inclusive, aponta para um paralelo com o presidente atual, Michel Temer. O colunista Nick Miroff destacou em seu texto que, “num grande país multiétnico construído por imigrantes e escravos, um líder masculino branco septuagenário formou uma reação direitista depois de uma era de governo esquerdista. Além disso, sua esposa é muito mais nova e é um modelo de ‘mulher de antigamente’. Seu sobrenome de cinco letras começa com um ‘T’ – mas é Temer, não Trump”. Contudo, aponta, o presidente do Brasil, político de carreira de 76 anos, não é uma versão brasileira de Trump, pois não tem o viés populista ou o estilo de showman do presidente dos EUA. Há análises, inclusive, que misturam as duas visões: a revista Americas Quarterly (AQ) apontou no final do mês passado que a figura com quem o presidente americano teria mais afinidades seria Jair Bolsonaro. Porém, cita a análise de muitos especialistas que reforçam a visão de que Trump seria mais parecido com Dilma. A revista destacou, por exemplo, o post do economista Ricardo Amorim em que traça um paralelo da agenda econômica de Trump com a da ex-presidente Dilma Rousseff, que é apontada por muitos por ter levado o Brasil para a recessão antes de sofrer o impeachment em agosto de 2016. Amorim compara a “Nova Matriz Econômica” ao “Make America Great Again” de Trump. O governo Trump promete ser de fortes emoções para a população mundial e para os mercados. Mas, pelo que indicam as análises, os EUA podem estar sendo governado por um político que tem um perfil já bastante conhecido dos brasileiros.