PIB? É pra ver ou pra comer?

Ignorado por boa parte da população, o indicador é o principal termômetro da prosperidade das pessoas

Mariana Mandrote

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SÃO PAULO – Você sabe o que é Produto Interno Bruto? Tema frequente em noticiários de alcance nacional, o PIB é o principal termômetro do crescimento econômico de uma região. Mas como o “caviar” da música de Zeca Pagodinho, a maioria das pessoas nunca viu nem ouviu, e só ouve falar do indicador – sem entender seu real impacto no próprio dia a dia.

Por definição, o PIB corresponde à soma do valor de mercado de todos os bens e serviços produzidos por uma região em um determinado período. “Para evitar a contagem dupla, entram no cálculo apenas produtos e serviços finais”, explica o presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Enriquez Garcia. Isso quer dizer que um carro entra na conta, mas o aço e o ferro usados para produzi-lo, não.

No Brasil, o cálculo desse indicador é feito e publicado trimestralmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com os últimos dados do instituto, o PIB brasileiro somou R$ 1,033 trilhão no primeiro trimestre, apontando alta de 0,8% ante o mesmo período de 2011.

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E eu com isso?
Mas, afinal, o que o PIB significa para o brasileiro? De acordo com especialistas, entender o Produto Interno Bruto serve para que os cidadãos saibam como está a situação do seu país e a sua própria situação. “O PIB crescendo sinaliza um horizonte mais próspero para as pessoas”, diz o professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração), Heron do Carmo.

Do ponto de vista prático, quando o PIB cresce, as empresas estão produzindo mais e, portanto, tendem a aumentar as contratações de funcionários. “Quando a taxa de crescimento é elevada, isso é sinônimo de que as coisas vão bem para os trabalhadores. Novas contratações podem ser feitas, e alguns funcionários poderão ganhar salários maiores”, afirma Carmo.

Quanto mais se produz, mais sobe a disponibilidade de produtos e serviços no mercado, o que tende a derrubar os preços. Dessa forma, o cidadão não apenas tem mais renda para gastar, mas também mais produtos e serviços disponíveis para consumo.

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No entanto, é importante lembrar que o PIB é uma medida geral da nação. Por isso, nem todos são afetados da mesma forma pelo desempenho do indicador. “O indivíduo deve sempre sentir seu próprio mercado e sua realidade. O cidadão precisa se colocar frente ao indicador e se perguntar se ele é ou não representativo no seu dia a dia”, afirma o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos.

O “PIBinho” de uma grande nação

Embora o PIB seja o principal indicador do crescimento econômico de um país, a presidente Dilma Rousseff declarou, em julho deste ano, que uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz por suas crianças e seus adolescentes, e não pelo seu Produto Interno Bruto. A declaração foi vista como um recado às críticas sobre o baixo crescimento da economia em 2012.  

Com um ambiente externo cada vez mais nebuloso, o PIB, ou “PIBinho”, como já foi apelidado, é um dos vilões do atual governo. No primeiro ano do mandato de Dilma, o indicador cresceu apenas 2,7%, e deve ter expansão de menos de 2% neste ano, segundo previsões do mercado. Já o governo defende um crescimento acima de 2,5%, mas, no início deste ano, alardeava um avanço de 4,5%.

De fato economistas afirmam que o indicador não é o melhor termômetro da qualidade de vidas das pessoas, e que outros dados, como os níveis de saúde e educação, também são importantes. “Há uma verdade na declaração da presidente, porque há uma diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico”, diz Garcia. “O PIB não é o mais importante. A ideia é fazer do Brasil um país melhor para todos”, diz Perfeito.

Como o PIB afeta minha vida?

Emprego – Um cenário de desaceleração econômica pode gerar desemprego, uma vez que as empresas produzem menos e, portanto, precisam de menos funcionários. Em geral, o setor industrial é mais afetado nessas situações que o de serviços.

Salário – Os aumentos de salários são mais viáveis durante momentos de crescimento econômico; em condições de crise, essa possibilidade fica mais remota.

Qualidade dos serviços – Em momentos de crescimento econômico, as empresas e o governo arrecadam mais, então podem melhorar seus atendimentos e os serviços prestados à população.

Consumo – O crescimento da economia coloca mais produtos e serviços à disposição dos cidadãos, os quais, em contrapartida, também têm mais renda disponível para o consumo.

Essa matéria foi publicada na edição 40 da revista InfoMoney, referente ao bimestre setembro/outubro de 2012. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.

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