Colunista InfoMoney: no curto prazo ainda incertezas, mas…

O desempenho do mercado brasileiro depende da continuação do aperto monetário e dos balanços. Quem tiver mais ousadia, que comece a montar suas posições, sem arrependimento

Gil Deschatre

Publicidade

O saldo do investidor estrangeiro no segmento Bovespa ficou bastante negativo em fevereiro, fruto da crise nos Países Árabes, segundo dados publicados pela bolsa paulista. Com tais tensões no Oriente Médio e norte da África, a aversão ao risco marcou o desempenho do mês, e não residentes saíram da Bovespa com R$ 1,184 bilhão em fevereiro, magnitude de retirada que não ocorria desde maio do ano passado, no auge da crise da dívida soberana na Europa, quando o fluxo foi negativo em R$ 1,5 bilhão.

Para colocar o mercado ainda em xeque, a Standard & Poor’s manteve negativas as perspectivas de rating de Portugal e Grécia, enquanto aguarda definições do ESM (Mecanismo Europeu de Estabilidade) acerca da condução da política fiscal e das exigências que poderão ser feitas para que este conceda empréstimos aos dois países. A agência avalia que o ESM poderá atrelar seus empréstimos à reestruturação dos títulos soberanos das duas nações, de forma a melhorar a sustentabilidade da dívida. Outra decisão que pode surgir na reunião do Conselho Europeu, prevista pra o fim de março, é tornar o ESM um credor preferencial destes títulos, em detrimento dos demais detentores dos papéis. Frente a este cenário, a S&P avalia que Portugal e Grécia podem ter seu rating reduzido dentro dos próximos dois meses caso as expectativas sejam confirmadas, mas em ambos os casos uma redução superior a dois níveis é pouco provável.

Por aqui, o ritmo de atividade da economia brasileira desacelerou, mas o tamanho da inflexão é incerto. Entre os indicadores de atividade já conhecidos há altos e baixos – na comparação entre janeiro e dezembro com ajuste sazonal caiu a fabricação de automóveis, a expedição de papelão ondulado e a movimentação de cargas nas estradas, mas cresceu a produção de aço, as encomendas de calçados e o emprego.

Continua depois da publicidade

“O desvio de percurso atual deve
ser momentâneo e incapaz de
desvirtuar um novo ciclo de
crescimento que vem por ai”

Para Bob Doll, estrategista-chefe da gestora de recursos BlackRock, a crise no Oriente Médio está levando os principais mercados a um cenário de forte incerteza em todo mundo; o momento é de cautela. Na perspectiva dos analistas do fundo, os altos preços do petróleo são mais um reflexo do “medo do desconhecido” do que um resultado de mudanças propriamente ditas na relação entre oferta e demanda. Nesse mesmo sentido, a visão de longo prazo do fundo é de que a volatilidade dos mercados deve persistir ainda que a fase de correção das bolsas americanas tenha sido superada. “Os crescentes riscos geopolíticos não deverão inviabilizar a recuperação da economia global ou a tendência positiva do mercado de capitais.” A orientação de Bob Doll, no entanto, é retirar o dinheiro do fluxo de operações enquanto houver riscos geopolíticos em debate. “Nosso conselho seria permanecer investido e olhar para mergulhos de curto prazo como oportunidades de compra”, aponta o estrategista.

Para conseguirmos sustentar uma alta neste mês, precisaremos de uma boa contribuição, já que os balanços internacionais acabaram, os dados econômicos positivos já estão ‘precificados’ e o mercado americano acumula um bom rendimento e abre espaço para a realização. O desempenho do mercado brasileiro depende da continuação do aperto monetário e dos balanços, mas os principais números já foram divulgados… ainda restam nuvens cinzas no horizonte…

Mas, uma luz no fim do túnel parece ser a tônica de todos os envolvidos…os analistas internacionais são unânimes num ponto: a saída da crise passada já esta solidificada em todos os pontos do planeta. O desvio de percurso atual deve ser momentâneo e incapaz de desvirtuar um novo ciclo de crescimento que vem por ai. 

Continua depois da publicidade

Nesse sentido, o UBS escolheu o Brasil como mercado favorito na America Latina e Top 3 dentre os emergentes, atribuindo a escolha ao alto retorno do mercado de ações brasileiro aliada à alta taxa de crescimento da economia. “Os ventos contrários que levaram à recente baixa performance irão enfraquecer”, acredita o estrategista Nicholas Smithie, que também incluiu as seguintes ações a sua carteira global para emergentes. “Todos pelo Brasil e o Brasil por todos”, apontou o bem humorado título do relatório. Confira as ações incluídas no UBS GEM Select Portfolio: AmBev (AMBV4), Bradesco (BBDC4), CCR (CCRO3), AES Tietê (GETI4), Itaú Unibanco (ITUB4), OGX Petróleo (OGXP3) e MRV MRVE3.

Quem tiver mais ousadia, que comece a montar suas posições, sem arrependimento…

Gil Ari Deschatre é professor da FGV e do Ibmec e escreve mensalmente na InfoMoney.
gil.deschatre@infomoney.com.br