Quando se fala em investir a longo prazo, não é tão fácil projetar o capital acumulado no futuro, especialmente para quem está começando a poupar. É nessa hora que a regra dos 72 pode dar uma noção de como o dinheiro cresce e, principalmente, de como pequenas variações nas taxas fazem diferença no rendimento lá na frente.

A simplicidade dessa regra é o que a torna tão popular: com ela, é possível projetar cenários financeiros sem precisar recorrer a fórmulas ou planilhas complexas. Mesmo que não forneça uma projeção exata, principalmente em cenários de inflação e juros altos, é um ponto de partida para visualizar o poder dos juros compostos sobre os investimentos.

Neste guia, mostraremos tudo o que você precisa saber sobre a regra dos 72: como funciona, quando faz sentido aplicá-la, como fazer ajustes para chegar a resultados mais realistas e quais os seus limites e exceções. Continue a leitura e entenda como o tempo pode ser um aliado na construção do patrimônio.

O que é a regra dos 72?

A regra dos 72 é uma ferramenta que mostra, de forma simples e direta, como o tempo e a taxa de juros são decisivos no resultado dos investimentos.

De maneira intuitiva, ela ajuda a estimar o comportamento dos juros compostos, ou seja, quando a taxa incide sucessivamente sobre o montante já acrescido dos rendimentos. Com apenas um cálculo, é possível comparar diferentes aplicações e perceber como pequenas variações nos juros podem alterar significativamente a rentabilidade ao longo dos anos. 

A mesma lógica vale também para as dívidas, pois os juros compostos funcionam nos dois sentidos. Assim como fazem o dinheiro crescer em um investimento, também aumentam uma dívida quando não liquidada.

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Como funciona a regra dos 72

Utilizar a regra dos 72 é muito simples: basta dividir o número 72 pela taxa nominal do investimento ou da dívida. O resultado é uma estimativa de como os mesmos juros podem acelerar a construção do patrimônio ou ampliar o endividamento com o tempo.

O quadro abaixo ajuda a visualizar o efeito dos juros compostos nos investimentos de forma simples:

Taxa anual de rendimentoTempo estimado para dobrar o dinheiro
4%18 anos
6% 12 anos
9%8 anos
12%6 anos

Aplicando a regra aos dois primeiros exemplos (4% e 6% ao ano), podemos perceber que a pequena diferença de 2 pontos percentuais representa 6 anos a mais de espera para chegar ao mesmo resultado.

Já um empréstimo a 24% ao ano (ou 1,94% ao mês) dobraria em cerca de 3 anos, o mesmo tempo que os rendimentos levariam para duplicar uma aplicação.

Quem criou a regra dos 72

A base da regra dos 72 está na obra Summa Arithmetica do frade e matemático italiano Luca Pacioli, publicada há mais de 500 anos. O religioso, considerado o pai da contabilidade moderna, já utilizava as premissas dos juros compostos no século XV para explicar conceitos básicos de finanças e como o dinheiro crescia ao longo dos anos.

Com o tempo, banqueiros e comerciantes europeus começaram a utilizar o cálculo nas suas projeções financeiras. Até que, no século XX, ele finalmente se consolidou como uma ferramenta pedagógica de educação financeira, usada para demonstrar com simplicidade a atuação dos juros compostos.

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Como aplicar a regra dos 72 na prática

A única informação necessária para aplicar a regra dos 72 é a taxa anual do investimento ou da dívida. A partir daí, basta dividir 72 por essa taxa para obter uma estimativa aproximada do tempo que levaria para o valor inicial dobrar:

Projeção de tempo (em anos) = 72 / taxa de juros anual

Veja um exemplo de como os juros compostos podem trabalhar contra ou a favor do dinheiro:

SituaçãoTaxa anualCálculoResultado aproximadoO que significa
Título de renda fixa14% ao ano72 / 14 ≈ 5,1 anosO valor aplicado dobra em cerca de 5 anos
Empréstimo ou dívida24% ao ano72 / 24≈ 3 anosA dívida dobra em cerca de 3 anos se não for paga

Quando usar a Regra dos 72

Nos investimentos, a metodologia é mais útil em situações de rendimentos constantes ao longo do tempo. É o caso dos títulos de renda fixa como CDBs, LCIs, LCAs, Tesouro Direto e outros em que o investidor já conhece a taxa anual.

Também se pode aplicar a regra dos 72 na simulação de dívidas, para saber o tempo médio que uma obrigação financeira leva para dobrar se não for quitada. Nesse caso, ela funciona como um alerta, mostrando que os juros compostos também atuam contra o dinheiro de quem está endividado.

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Mas atenção: é importante saber que o cálculo é mais preciso no intervalo de taxas entre 6% e 10% ao ano. Abaixo ou acima disso, o resultado tende a se afastar da realidade.

Outro aspecto que torna a regra menos assertiva é a quantidade de variáveis que entram na conta. Como a fórmula é linear e constante, não contempla os efeitos de fatores como inflação, impostos, taxas flutuantes ou aportes periódicos nos investimentos, o que reforça a ideia de sua efetividade como bússola inicial, e não como base de um planejamento financeiro.

Como ajustar a regra dos 72 para mais precisão

Quando as taxas de juros estão fora da faixa ideal entre 6% e 10% ao ano, algumas alterações simples podem melhorar a precisão dos resultados. Isso porque a regra dos 72 tende a apresentar pequenas distorções nas pontas mais baixas e mais altas da curva dos juros compostos.

De forma geral, especialistas recomendam utilizar 71 no lugar de 72 para taxas abaixo de 6% ao ano, e 73 ou 74 quando os juros superam 10% ao ano. Esses pequenos ajustes tornam o cálculo mais fiel ao comportamento real dos juros que incidem sobre o montante acumulado.

Outra variação é a chamada regra dos 69,3, considerada mais precisa por se basear no logaritmo natural de 2, que vale aproximadamente 0,693. Esse número representa o crescimento exato necessário para duplicar um valor quando os rendimentos sobre ele incidem continuamente.

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Por ter origem em uma fórmula matemática exata, a regra dos 69,3 costuma gerar resultados mais precisos em simulações de longo prazo, como projeções de aposentadoria ou estudos atuariais. Porém, para quem investe no dia a dia, a regra dos acaba sendo mais prática, por ser mais facilmente divisível e por equilibrar simplicidade e boa aproximação.

Regra dos 72 e inflação

Tão importante quanto estimar o tempo que o patrimônio leva para crescer é entender o efeito inverso: o quanto a inflação reduz o poder de compra ao longo do tempo. 

E a regra dos 72 também pode ser utilizada para isso, dividindo o número pela taxa de inflação anual. O resultado mostra em quantos anos o dinheiro comprará apenas a metade do que compra hoje.

Com uma inflação de 4% ao ano, por exemplo, o resultado é 18 anos (72 / 4). Isso significa que, durante esse período, o mesmo valor teria seu poder de compra reduzido pela metade. 

Esse cálculo serve como alerta sobre o custo invisível de deixar o dinheiro parado na conta-corrente, ou mesmo em aplicações de baixo rendimento. Mesmo quando a alta dos preços é sutil e a inflação está controlada, ela continua trabalhando constantemente contra o valor real do dinheiro.

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Por outro lado, a mesma lógica se aplica a favor do investidor. Ou seja, ao comparar o rendimento real de uma aplicação com a inflação, é possível estimar quanto tempo ela levaria para superar o efeito acumulado da alta dos preços.

No fim, a regra dos 72 mostra que não há neutralidade quando o assunto é tempo e inflação, pois se o dinheiro não estiver crescendo, ele está encolhendo. Entender isso é o primeiro passo para transformar o prazo em aliado das finanças.

Limitações da regra dos 72 e cuidados

Embora seja uma das ferramentas mais populares de educação financeira, ela não substitui um cálculo completo e mais elaborado. Como vimos, a regra 72 dá uma noção geral do efeito dos juros compostos, mas é preciso considerar algumas limitações antes de tomar decisões financeiras.

Entre os principais cuidados, podemos destacar:

  • Taxas variáveis: sua aplicação parte do princípio de que a taxa é fixa, o que raramente ocorre na prática. Títulos como o Tesouro Selic e outros pós-fixados têm rendimentos flutuantes, o que altera completamente o resultado.
  • Inflação e impostos: ambos reduzem o retorno real do investimento, e a fórmula não considera esse efeito. Em tempos de inflação alta, essa limitação acaba sendo um ponto ainda mais crítico.
  • Aportes e retiradas: a regra dos 72 não leva em conta novos aportes e resgates durante o prazo do investimento. Isso significa que, se ocorrerem aplicações adicionais ou saques nesse período, o resultado real será diferente do estimado, já que o cálculo considera somente uma movimentação do montante até o vencimento.

A regra dos 72 funciona para ações?

A ferramenta foi criada para estimar o efeito dos juros compostos com taxas fixas, algo que não existe no mercado acionário. 

No universo da renda fixa, a relação entre taxa e tempo é direta e previsível. Já no caso das ações, os resultados dependem do desempenho das empresas e de fatores externos, como juros, inflação e humor do mercado. 

Dependendo do contexto, uma ação pode subir ou cair fortemente em poucos meses, semanas ou mesmo dias. Essa oscilação faz com que qualquer cálculo fixo se torne apenas uma média histórica, e não uma previsão realista de fato.

Em síntese, a regra dos 72 não serve para estimar o resultado das ações ao longo do tempo, mas pode ajudar a reforçar a ideia de que, quanto mais cedo se começa a investir, mais se pode contar com o efeito positivo do tempo. No caso das ações e da renda variável como um todo, o seu valor não está na precisão, mas na consciência que ela traz sobre o poder dos juros compostos em um mercado incerto por natureza.

O que a regra dos 72 ensina ao investidor

Ao longo deste guia, vimos que a regra é útil, mas está longe de ser infalível. Por isso, vale repassar os principais pontos em um resumo prático para não esquecer:

AspectoO que a regra dos 72 mostraQuando funciona melhorCuidados e limites
Juros compostosComo o tempo potencializa os rendimentosRenda fixa prefixadaNão considerar impostos ou taxas reduz a precisão
Taxas altas ou baixasPequenos ajustes no número (71, 73, 74) aumentam a assertividadeEntre 6% e 10% ao anoFora dessa faixa, o resultado se afasta da realidade
InflaçãoO impacto da taxa real (juros – inflação)Planejamento de longo prazoIgnorar a inflação distorce o resultado
Ações e renda variávelPode servir como referência didáticaEstimativas de longo prazo com média históricaAlta volatilidade torna o cálculo pouco confiável
Comportamento do investidorO valor do tempo e da disciplinaQuando há aportes regulares e paciênciaBuscar retorno rápido contraria a lógica da regra