“Não tem bala de prata”: Por que Braskem (BRKM5) afunda ao menor valor em uma década?

Ação acentuou queda após o UBS BB rebaixar recomendação de compra nesta sexta; entenda a crise e a visão dos especialistas para o negócio

Paulo Barros

(Foto: Divulgação)
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As ações da Braskem (BRKM5) vivem um pregão de forte turbulência nesta sexta-feira (26). No fechamento do pregão, perderam 14,81%, a R$ 7,02.

A ação praticamente não influencia no desempenho do Ibovespa, com apenas 0,1% de participação no índice, mas chamou a atenção dos investidores neste encerramento de semana.

O que explica um tombo tão acentuado? Entenda a seguir o pano de fundo da crise da companhia, e qual a visão dos analistas para o papel.

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Sinal de reestruturação

O gatilho foi o anúncio de que a petroquímica contratou assessores financeiros e jurídicos para revisar sua estrutura de capital. A iniciativa busca alternativas para enfrentar um ambiente desafiador: endividamento elevado, margens comprimidas e um ciclo global de baixa no setor de petroquímicos que, segundo a própria empresa, pode durar anos.

Para os investidores, foi sinal de que a companhia pode buscar uma reestruturação em breve.

Dívida elevada e risco de reestruturação

O JPMorgan lembrou que a Braskem opera com alavancagem de cerca de 10,5 vezes, patamar visto como insustentável. Para os analistas, o mercado interpretou a decisão como sinal de que a companhia pode caminhar para uma reestruturação formal da dívida, ainda que uma solução negociada fora da Justiça não esteja descartada.

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Bradesco BBI: “não existe bala de prata”

O Bradesco BBI destacou que a contratação de assessores não resolve, por si só, os desafios da companhia. “Não existe bala de prata para entregar a virada da Braskem”, disse o banco em relatório.

Na visão dos analistas, revisar a estrutura de capital é apenas uma das várias alavancas possíveis, ao lado de medidas como: aprovação do projeto de lei 892/2025, conhecido como PRESIQ (Programa Especial para a Sustentabilidade da Indústria Química), cortes de custos, venda de ativos, renegociação de contratos de matérias-primas e até uma potencial oferta de ações.

O banco ressaltou ainda que a Braskem reafirmou seu compromisso com os stakeholders e que vem implementando iniciativas de transformação para mitigar o prolongado ciclo negativo da indústria química. Essas ações, se bem executadas, podem reforçar a competitividade e a resiliência do setor no Brasil.

Pressão extra dos analistas

O UBS BB foi além e apontou que tarifas de importação mais altas e a aprovação do REIQ/PRESIQ viraram pré-requisitos para conter a queima de caixa no curto prazo. Diante disso, o banco reduziu a recomendação de BRKM5 de compra para neutro e cortou o preço-alvo de R$ 15 para R$ 10.

O papel do PRESIQ

A proposta de criação do PRESIQ foi recebida em julho como um alívio potencial para a Braskem. Ela prevê a concessão de créditos fiscais para fortalecer a indústria petroquímica brasileira, e analistas da XP estimaram que poderia gerar até US$ 500 milhões por ano em Ebitda para a companhia até 2026, um ganho equivalente a cerca de 40% das projeções de lucro operacional para 2025.

Na época, a expectativa animou os investidores. Em 9 de julho, após a Câmara aprovar regime de urgência para o projeto, BRKM5 saltou mais de 8% em um único pregão, chegando a R$ 10. Mas os analistas já alertavam que o texto teria um longo caminho a percorrer, sujeito a mudanças e incertezas no Congresso.

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Hoje, com o ciclo global adverso e a revisão da estrutura de capital, a aprovação do PRESIQ volta a ser vista como peça-chave – mas insuficiente, sozinha, para resolver os problemas estruturais da companhia.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)