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“Mundo mágico” da Disney tem choque de realidade com tombo nas ações e divisões em crise; e agora?

Companhia tenta tornar streaming lucrativo e quer se desfazer de ativos

Ana Paula Ribeiro

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Os investidores irão sentir, ao menos no curto prazo, que os sonhos prometidos pelo “mundo mágico” da Disney (DIS) não deverão virar realidade — ao menos nas ações da empresa.

Para voltar a subir na bolsa, a gigante de entretenimento precisa equalizar os resultados da divisão de streaming, provavelmente se desfazer de alguns ativos e controlar os custos. Poucos analistas acreditam que os papéis responderão nos próximos meses. Mas, no longo prazo, as expectativas são mais positivas.

As ações da Disney estão sendo negociadas a US$ 79,32 na Bolsa de Nova York (Nyse), uma desvalorização de 18,4% em 12 meses e de 8,7% no acumulado do ano. O tombo é ainda maior para quem comprou o papel no pico registrado em fevereiro de 2021, quando a cotação passou dos US$ 180.

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Esse desempenho reflete os resultados fracos da empresa e a falta de confiança do investidor de uma reversão nos próximos trimestres. Soma-se a isso, um cenário de juros em patamares elevados, o que leva a um ajuste na alocação dos investimentos em ações e outros ativos de maior risco.

A Disney registrou prejuízo de US$ 460 milhões no terceiro trimestre fiscal do ano, ante US$ 1,4 bilhão em igual período de 2022.

“O principal problema são os ativos de TV e outras empresas dessa linha de negócios. Já o streaming é visto com bons olhos, mas não gera resultados. O que tem se mantido lucrativo é o segmento de parques, experiências e produtos”, diz Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research.

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A divisão de TV ainda é lucrativa, mas com um resultado menor a cada ano. Por isso, a expectativa é que o streaming (Disney+, Hulu e ESPN+) vire uma linha de negócios relevante. No entanto, em 2023, o braço de conteúdo digital ainda irá operar com prejuízo e não está claro se a virada acontecerá em 2024.

Essa divisão teve um resultado negativo de US$ 500 milhões, com 146,1 milhões de assinantes em todo o mundo. Líder desse mercado, a Netflix tem 238 milhões usuários pagantes.

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“Novo” CEO

Para convencer os investidores de que o caminho é o correto, a Disney até fez uma mudança em sua direção. Saiu Bob Chapek e voltou ao cargo Bob Iger, responsável por uma série de aquisições feitas pela Disney nos anos 1990 e 2000.

“É preciso resolver alguns pontos para que essa retomada da companhia e das ações aconteça, como vender a divisão de TV, para sobrar recursos para investimento em outras linhas de negócios. A empresa tem parques, estúdio, ponto de venda — e uma estrutura complicada para administrar”, diz Pacheco.

Não está claro ainda o que será vendido. Uma das alternativas seria a ESPN, mas a própria Disney já viu que o canal é um ativo importante por atrair publicidade atrelada às competições esportivas.

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Apesar da incerteza e da desvalorização do papel, a Disney ainda é vista pelo analista da Empiricus como uma alternativa para um portfólio de médio prazo.

“A empresa negocia a 16 vezes o lucro, não é [um número] absurdo para a Disney, com sua enorme capacidade de criar novos produtos. Claro que quem comprou de 2021 para cá tem um prejuízo grande, mas, se pensar nos próximos cinco anos, os preços atuais estão bem convidativos para investir”, avalia.

Arthur Siqueira, co-gestor da Geo Capital, compartilha da mesma visão. Para ele, o papel está incorporando apenas as notícias negativas, ao passo que as positivas não estão surtindo efeito. Como exemplo, cita o plano de investir US$ 60 bilhões nos parques e experiências nos próximos anos, o que tem potencial de impulsionar ainda mais a linha mais rentável da companhia.

“A Disney parece que está fora de lugar. A nossa tese está fundamentada no fato de a empresa ser forte em propriedade intelectual (o que não vai se perder no futuro), mas o mercado só está olhando para a rentabilidade atual”, conta.

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Mesmo com a vantagem da perenidade das propriedades intelectuais, o desempenho negativo da ação ganhou mais peso em um momento em que a empresa não consegue emplacar nenhum novo grande sucesso de bilheteria. Gerson Brilhante, da Levante Corp, considera que os resultados recentes são fruto de uma “crise criativa”.

Para ele, os próximos lançamentos também não são vistos como muito promissores, mas a companhia está emitindo sinais positivos. O investidor, no entanto, precisará ter paciência para que o cenário mais otimista se concretize. O reajuste do preço dos pacotes de streaming, por exemplo, começa a vigorar neste mês nos Estados Unidos.

“Precisamos identificar ainda a reação dos consumidores a respeito dos reajustes de preços. Mas a volta do Bob Iger para CEO é um bom indicativo de que a empresa voltará com maior enfoque no lucro da operação do que no crescimento.”

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney