Petrobras (PETR4) no “novo normal”? Dividendos surpreendem, mas JPMorgan corta recomendação e ações caem forte após balanço

Dividendos ficaram acima do esperado por conta de menor capex, mas analistas veem que ação teria melhor desempenho com números extraordinários

Lara Rizério

Plataforma da Petrobras na Baia da Guanabara, no Rio de Janeiro(Mario Tama/Getty Images)
Plataforma da Petrobras na Baia da Guanabara, no Rio de Janeiro(Mario Tama/Getty Images)

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A janela de oportunidades para investir nas ações de Petrobras (PETR3;PETR4) já passou? Para alguns analistas, o resultado do segundo trimestre de 2023 (2T23), o anúncio de dividendos e recompra de ações já dão sinais que sim.

Após a divulgação dos resultados do segundo trimestre, sem grandes surpresas, mas com o mercado em busca de mais detalhes sobre a nova direção da estatal, o JPMorgan rebaixou a recomendação das ações da companhia de overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para neutro. O preço-alvo para as ações PN da Petrobras foi cortado de R$ 37 para R$ 35,50, ainda uma alta de 15% em relação ao fechamento da véspera.

A abertura do mercado foi negativa para as ações da estatal: às 111h15 (horário de Brasília), os ativos ON caíam 4,84%, a R$ 32,66, enquanto os PN tinham baixa de 2,55%, a R$ 30,15, diferença essa explicada pelo anúncio de recompra de ações preferenciais.

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Os analistas do banco destacaram terem rebaixado a recomendação por três motivos.

Em primeiro lugar, pelas boas notícias que esperavam ter ocorrido e provavelmente já estão precificadas após o forte desempenho dos ativos no acumulado do ano. “Ouvimos a nova administração sobre os três principais pilares de valor para a Petrobras – disciplina de capital, política de preços e política de dividendos. Isso, acreditamos, levou as ações da Petrobras a ter um dos melhores desempenhos em 2023”, apontam. Os ativos PETR3 subiram 43% em 2023, enquanto os PETR4 tiveram ganhos de 50%, ante alta de cerca de 10% do Ibovespa.

Além disso, a execução da política de preços de combustíveis é o novo assunto do momento para os investidores, com os analistas ressaltando os elevados descontos de paridade tanto na gasolina (-20%) como no diesel (-24%). Sobre o tema, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse hoje que os preços de combustíveis praticados internamente estão “no limite” e que, se houver oscilação para cima da cotação do petróleo, repasses serão feitos pela Petrobras, o que pode diminuir a aversão a risco para as ações da estatal.

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O terceiro ponto destacado pelo JPMorgan é por estarem menos confortáveis em carregar o papel, pois precisariam contar agora com dividendos extraordinários para a Petrobras se destacar em relação aos pares em termos de retorno aos acionistas.

A companhia, por sinal, anunciou um pagamento de dividendos em linha com a atual política de dividendos de 45% do fluxo de caixa livre (em caso de endividamento bruto abaixo de US$ 65 bilhões), totalizando cerca de R$ 1,15 por ação e implicando em um dividend yield (dividendo em relação ao dividendo) de 3,7%.

A estatal também divulgou seu programa de recompra de ações, de até 157,8 milhões de ações pelo prazo de 12 meses. O volume representa 3,5% das ações em circulação (free float) da estatal.

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“O Programa de Recompra abrangerá apenas as ações preferenciais e será realizado no contexto da Política de Remuneração de Acionistas vigente”, diz. Atualmente existem 3.701.760.571 ações ordinárias e 4.566.511.125 preferenciais em circulação.

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Ao contemplar apenas as ações PNs, embora relativamente pequeno, com cerca de 1,2% do número total de ações e 3,5% do free float das ações preferenciais, o programa de recompra pode ajudar a reduzir o desconto das preferenciais em relação às ordinárias, aponta o Credit Suisse.

Já sobre os números em si, conforme destaca a XP, a companhia reportou outro forte desempenho financeiro, embora com números mais fracos tanto no trimestre quanto na base de comparação anual.

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A companhia fechou o segundo trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 28,7 bilhões, 47% a menos do que há um ano, e 24,6% menor do que o registrado no trimestre imediatamente anterior.

Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado totalizou R$ 56,690 bilhões, um recuo de 21,8% na base trimestral e de 42,3% na base anual, 2% abaixo da projeção da XP, enquanto 9% menor do que o consenso.

A receita totalizou R$ 113 bilhões no 2T23, -18% se comparado ao 2T22. Os principais motivos para tal resultado foram a queda no preço do brent (US$ 78,40 ante US$ 113,80 o barril no 2T22), menores receitas com exportação e redução nas margens do refino, conforme ressalta a Genial.

Ainda assim, o fluxo de caixa de operações menos o capex (ou fluxo de caixa livre, ou FCL), que atingiu R$ 33,3 bilhões, ficou acima das suas projeções, levando a um pagamento de dividendos acima do que a casa (e o consenso de mercado) esperava.

“Como esperado, a dívida bruta aumentou devido ao arrendamento IFRS 16 com entrada de 2 novos FPSOs (atingindo US$ 58 bilhões). Ainda vemos um sólido FCL e dividend yield para a empresa nos próximos trimestres, apoiando nossa recomendação de compra no nome. No entanto, vários riscos permanecem para a tese de investimento, para não mencionar um FCL mais baixo à frente”, apontou a XP.

O Itaú BBA também destacou que o dividendo anunciado foi acima do esperava, uma vez que projetava R$ 1 por ação. Isto implica em um rendimento de dividendos (dividend yield) de aproximadamente 3,7%.

Ainda assim, mantém recomendação equivalente à neutra (marketperform, desempenho em linha com a média do mercado) para PETR4, com preço-alvo de R$ 27 ao final de 2023, em meio a um cenário incerto para o papel.

Entre os destaques, em exploração e produção, o segmento apresentou um Ebitda recorrente de R$ 49 bilhões, uma queda em relação aos R$ 56,6 bilhões reportados no trimestre anterior, devido à redução no preço do petróleo, sutil diminuição nos volumes produzidos e um aumento nas despesas.

Em refino, o Ebitda recorrente da divisão totalizou R$ 7,9 bilhões, 36% menor que o do primeiro trimestre. O segmento foi afetado por menores margens (rentabilidade) no trimestre, principalmente no diesel, uma vez que o crack internacional do diesel caiu mais de 40% no segundo trimestre. Esse resultado foi parcialmente compensado pelo aumento do volume de vendas de gasolina no mercado interno.

Já no segmento de gás e energia, o Ebitda recorrente foi de R$ 2,5 bilhões, 36% abaixo do trimestre anterior, explicado principalmente pela redução das compras de gás boliviano e pelo maior uso de GNL, resultando em margens menores.

Para a Genial, os números da Petrobras podem ser considerados neutros. Apesar de um resultado operacional ainda razoável, os analistas da casa acreditam que os dados desse trimestre devem ser observados com maior detalhamento tendo em vista a nova orientação comercial da empresa.

Para além dos “grandes números” (receita, Ebitda, dividendos, entre outros) – que vieram em condições ainda razoáveis, os analistas chamam a atenção para alguns pontos, que deverão ser levados em consideração e observados com maiores detalhes daqui por diante por parte dos investidores.

“Citamos a evolução da dívida bruta, que saltou de US$ 53 bilhões no 1T23 para US$ 57,9 bilhões no 2T23 – vale lembrar que a política de dividendos (45% fluxo de caixa operacional – Investimentos) só é válida desde que a dívida bruta não ultrapasse US$ 65 bilhões, fazendo com que a empresa perdesse um dos seus principais atrativos”, apontam.

Para os analistas da Genial, afirmar categoricamente que a dívida vai alcançar o limite é extremamente precoce, tendo em vista a discricionariedade da aplicação dos reajustes no preço dos combustíveis (que estão defasados em 23,4% e 20,8% na gasolina no diesel até o último dia 31 de julho, de acordo com o seu último acompanhamento semanal) e a própria evolução dos preços do petróleo. “Sob esse tema, achamos importante acompanhar a evolução dos deságios em relação a paridade ao longo do 3T23”, avalia.

Assim, por enquanto, a Genial mantém a recomendação de venda para os papéis, com preço-alvo de R$ 25 para os ativos PETR4, ou 19% menor frente o fechamento da véspera.

Para o Credit Suisse, que tem recomendação equivalente à neutra para a Petrobras, o resultado foi em linha, enquanto o lucro foi acima do que esperava por maior receita financeira. Os dividendos também surpreenderam positivamente (de US$ 3,05 bilhõs ante projeção do Credit de US$ 2,5 bilhões, dado o investimento menor do que esperava), dado o capex menor que o estimado.

Contudo, para os analistas do Credit, os retornos devem ir reduzindo daqui pra frente dado que deve haver um maior capex, tendo em visto uma margem de segurança significativamente menor para o valuation da companhia comparado com os trimestres anteriores (após a alta recente dos ativos).

O banco suíço destacou, assim como a Genial, o aumento da dívida bruta (para US$ 58 bilhões), que se aproxima do limite de US$ 65 bilhões estabelecido no atual plano de negócios, que é um dos catalisadores para a distribuição de dividendos.

“Não vemos a alavancagem como uma preocupação neste momento e acreditamos que a companhia pode eventualmente alterar a meta de dívida bruta no próximo plano de negócios para fornecer mais flexibilidade”, aponta.

Neste sentido, apesar de seguir com recomendação de compra para os papéis, o Citi reforça um ponto de discussão sobre até que ponto o dividend yield da Petrobras é atrativo em comparação com as principais petrolíferas da União Europeia e EUA.

“Apesar de um pagamento de dividendos ainda favorável e potencial espaço para um dividendo extraordinário, não vemos maior cenário de alta para as ações no curto prazo, já que a diferença de preço foi fechada nas últimas semanas entre os pares”, avalia o Citi. Na política atual, os analistas veem um dividend yield de cerca de 9% para 2023 (ex – 1T23) e de 9% para 2024.

Para o UBS BB, que tem recomendação de venda para as ações, com preço-alvo de R$ 22 para PETR3 e PETR4, a companhia está convergindo para o seu “novo normal”.

“Nos resultados do 1T23, comentamos que o status quo era rígido e ainda apoiado por fortes ganhos para a empresa. Isso continua a ser o caso até certo ponto, mas vimos uma normalização dos resultados neste trimestre impulsionado pelo brent em queda e menor crack spread (diferencial entre o preço do petróleo bruto e os produtos petrolíferos extraídos dele)”, avaliam os analistas.

Para os investidores, o 2T23 pode ser o primeiro sinal do que pode ser o novo nível recorrente de Ebitda da Petrobras e como isso pode se traduzir nas próximas previsões de rendimento de dividendos, apontam os analistas.

Para este trimestre, o nível de dividendo ainda foi apoiado pela forte geração de fluxo de caixa livre. Já para 2024, a projeção é de um dividend yield de 10% a 13%.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.