Copom surpreendeu ao sugerir nova alta de juros e alongar horizonte para inflação

Autoridade monetária elevou a taxa em 50 pontos-base, para 13,75%; Selic é a maior em cinco anos

Mitchel Diniz

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Assim como nas últimas reuniões, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) não surpreendeu com a elevação de juros em si, mas sim com o comunicado que acompanhou a decisão. Enquanto alguns analistas acreditam que a autoridade monetária deixou em aberto a possibilidade de uma nova alta na Selic na próxima reunião, em setembro, outros dão o ajuste como certo e até revisam suas projeções para a taxa ao final do ano.

“O comunicado foi um balde de água fria nos participantes do mercado que imaginavam o fim do ciclo”, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton. Ele observa que a autoridade monetária condicionou o fim do ciclo de aperto à consolidação da desinflação e a ancoragem das expectativas em torno da meta. Com uma previsão de IPCA mais baixo, resultado da pressão mais baixa dos preços dos combustíveis e energia, a primeira condição pode ser atendida já na próxima reunião.

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“Contudo o ponto número dois é mais nebuloso. A autoridade monetária fala de ancoragem das expectativas e acredito que esteja falando do ano que vem. As projeções do IPCA de 2023 vem piorando sistematicamente e já se elevam há 17 semanas estando, em 5,33% na mediana do agregado no último Focus”, explica Perfeito.

Após o comunicado da autoridade monetária, a Necton revisou sua projeção de Selic ao final do ano de 13,50% para 14,25% ao final de 2022, prevendo mais duas altas de 25 pontos-base este ano.

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Horizonte mais longo

Caio Megale, economista-chefe da XP, diz que, no comunicado, o Copom reconheceu que a inflação segue elevada e a atividade econômica se expandiu ao longo do segundo trimestre, com a recuperação do mercado de trabalho mais forte do que o esperado.

“Além disso, o comitê reiterou que os riscos permanecem em ambas as direções. Por um lado, a possibilidade de que as políticas fiscais de sustentação da demanda agregada se tornem permanentes aumenta os riscos altistas do cenário inflacionário. Por outro lado, afirma que o risco crescente de uma maior desaceleração global aumenta os riscos baixistas para a inflação”, pontua Megale.

Embora a XP reconheça o risco de uma alta final da taxa, de 25 pontos-base em setembro, mantém a expectativa de Selic inalterada em 13,75% até meados de 2023. “Não acreditamos que esse patamar seja suficiente para trazer o IPCA para a meta no próximo ano, mas certamente ajudará a aumentar a probabilidade de um IPCA dentro da meta em 2024”, afirmou Megale.

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As projeções de inflação do Copom ficaram em 6,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,7% para 2024.

“Um dos pontos que mais chamaram atenção nesse comunicado foi o fato de o Copom ter destacado o horizonte de seis trimestres à frente, período que segundo eles, suaviza os efeitos das medidas tributárias entre anos-calendário, mas incorpora seus impactos secundários”, analisa João Savignon, da Kínitro Capital. Segundo ele, o ano de 2024 deve ganhar relevância no horizonte de política monetária.

Inflação represada

“Ao mesmo tempo que os preços administrados caíram, com deflação em julho, talvez em agosto, haverá impacto represado em 2023”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

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Para o economista, ainda que tenha dado abertura para subir juros na próxima reunião, o Copom fechou o comunicado falando de cautela total na sua atuação, o que também abre interpretação para uma estabilidade.

Por outro lado, Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, acredita que a manutenção do discurso sobre a necessidade de mais aperto aponta uma “forte preferência” por mais uma alta na reunião de setembro.

“O ciclo deve se encerrar em 14,0% e esperamos que a taxa Selic fique parada até, pelo menos, o terceiro trimestre de 2023”, prevê a economista.

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“Dovish”, mas nem tanto

Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, o tom do comunicado foi dovishsuportando a ideia de que a alta desta quarta-feira foi a última. “Entretanto, continuamos avaliando que mais uma alta de 25 pontos-base será feita pelo BC em setembro, encerrando o ciclo em 14%”, afirma.

“O BC vem dando sinais de que gostaria de finalizar o ciclo. O comunicado reafirma isso, mas as condições da economia vão impedir a parada nesse momento. As expectativas para a inflação de 2023 já estão bem acima da meta e as de 2024 continuam subindo”, afirma Laíz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas. O banco mantém projeção de Selic terminal em 14,25%, com início de corte da taxa apenas no segundo semestre do ano que vem.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados