Índice VIX dispara com inflação e incerteza sobre juros nos EUA; entenda

Considerado como um medidor de "medo", o índice sinaliza as inseguranças e a potencial volatilidade dos mercados

Vitor Azevedo

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Sempre que o estresse retorna com tudo no mercado financeiro, o VIX, conhecido como “índice do medo”, volta aos holofotes. Nos últimos cinco dias, desde a divulgação de que inflação americana de maio foi muito mais forte do que a esperada, o índice saiu do patamar de 24 pontos para quase 33 pontos, alta de mais de 37%. Como ele é considerado o índice do medo, é possível, então, afirmar que esse sentimento aumentou consideravelmente.

VIX, na verdade, se trata da abreviação (e também do ticker) de Volatility Index – índice de volatilidade, na tradução livre para o português.

Desenvolvido pela Chicago Board Options Exchange, esse indicador leva em conta o preço de opções do S&P 500 para 30 dias – a ideia é que a variação do valor fixada nestes derivativos fornecem as expectativas do mercado para a volatilidade neste período.

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“O VIX é um barômetro que mede a incerteza do mercado e proporciona para nós, investidores, uma medição da volatilidade constante no mercado”, explica Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed.

As fortes oscilações do Volatility Index dos últimos dias mostram que as opções para o S&P 500 com vencimento no prazo de um mês estão distorcidas, sem uma direção exata.

Esses contratos, em que são negociados o direito de comprar ou vender o índice a uma determinada pontuação, são utilizados por investidores que querem minimizar riscos – e por especuladores que buscam maximizar lucros.

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“Fortes movimentos na economia influenciam o VIX, fazendo ele subir, o que mostra que o mercado está estressado e incerto. Se os investidores estão mais tranquilos, e a performance dos ativos de risco lateralizada, a tendência é o VIX ficar baixo e comportado, mostrando um mar mais “calmo”, contextualiza Oliveira.

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Incertezas quanto à economia americana pesaram sobre VIX

O especialista da Quantzed explica que o índice vem oscilando bastante pois os investidores estão incertos quanto ao futuro da economia americana, a mais importante do mundo. O mercado estaria tentando modelar para onde as taxas de juros dos EUA irão nesta quarta-feira (14), dia de Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês).

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Com a divulgação da inflação do quinto mês do ano, com alta de 1%, acima daquilo que o mercado esperava, grandes players passaram a duvidar de como o Federal Reserve se portará – se manterá aquilo que sinalizou anteriormente, subindo a fed funds em 0,50 ponto percentual, ou se acelerará o ciclo de altas, elevando a taxa em 0,75 ponto.

Goldman Sachs, Barclays e Jeffries, por exemplo, são algumas das grandes instituições financeiras que passaram a apostar que o Fed trará uma alta de 75 pontos-base.

Uma alta mais acelerada da taxa de juros pesaria sobre os ativos de risco, com três impactos mais proeminentes: minando a expectativa de crescimento da economia, aumentando os gastos das companhias com juros e levando um fluxo de capital para títulos do tesouro. A manutenção da alta de 50 pontos, por sua vez, beneficiaria a bolsa americana e o resultado das empresas, mas poderia trazer mais incertezas sobre a ancoragem das expectativas de inflação.

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”Vemos essa alta no VIX devido a todo o stress que o CPI americano trouxe pro mercado, fazendo os investidores acreditarem que o Fed pode acelerar a alta de juros na reunião de amanhã para 75 pontos-base, quando o mercado tinha claro até semana passada que seria de 50 pontos”, diz Oliveira.

É normal que investidores comprados em S&P 500 contratem opções de venda do índice em um patamar abaixo do atual, minimizando as chances de grandes baixas, fazendo o chamado hedge. No caso de o Fed realmente impor uma alta de 0,75 ponto percentual, o prejuízo, com isso, seria menor.

Segundo divulgado pela Bloomberg, investidores agora veem que há 98% de chances de o Federal Reserve ser mais agressivo em sua decisão monetária amanhã. A incerteza, então, diminuiu – e isso é parte, de acordo com os especialistas, do motivo de o índice Vix ter recuado 3,91%, para 32,69, no pregão de ontem (após ter flertado com o patamar de 35 na segunda).

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Índice é ferramenta interessante para investidores

Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inv, explica que o VIX é um índice indicativo. “Diferentemente do Ibovespa, que é composto por uma quantidade de ações, cada uma com um peso, ele pega as opções do S&P 500 e seus preço-alvos”, diz o especialista “Ele utiliza o modelo de Black and Scholes para calcular a volatilidade implícita em opções e representa as expectativas para o próximo mês,”.

De acordo com Natali, o VIX sinaliza que o mercado, em momentos de incerteza, está aceitando pagar mais caro em contratos de opções para se proteger de grandes oscilações. “Quando o mercado está em pânico, há grandes variações de preço, por isso esse índice é tido como um termômetro de medo”, comenta.

Para ele, investidores têm de levar o VIX como um guia: no caso atual, por exemplo, se a decisão de amanhã do Federal Reserve não diminuir a pontuação do índice isso sinalizará que investidores veem as incertezas atuais como estruturais e não dependentes de esse único evento.

“Quando você olha a bolsa em conjunto com ele, você consegue ter dicas do motivo e fazer suposições do que vai acontecer no caso de um evento sair melhor ou pior do que o esperado”, avalia. “VIX até 20, o mercado está saudável. Entre 20 e 30 pontos, atenção. Acima de 30 pontos, sinal de muita volatilidade. Hora de maneirar as posições e focar em ativos mais líquidos”, finaliza.

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