Super quarta ainda mais decisiva para os mercados: o que esperar das reuniões do Fomc e do Copom?

Em momentos diferentes do ciclo de aperto monetário, Federal Reserve e Banco Central do Brasil enfrentam desafios para conter a inflação

Lara Rizério

(Montagem: Divulgação e Agência Brasil)

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Normalmente, a super quarta para os mercado, como é conhecido o dia em que ocorrem as decisões de política monetária nos EUA e no Brasil, é acompanhada de perto pelos investidores. Contudo, o que será decidido nesta quarta-feira (15) será monitorado ainda mais de perto, tanto pelas viradas de última hora na percepção do mercado quanto às políticas a serem adotadas quanto pela incerteza sobre os caminhos a serem tomados nas próximas reuniões.

Em uma reviravolta às vésperas da decisão de política monetária do Federal Reserve, os investidores estão apostando com quase certeza que o Fed anunciará um aumento de 0,75 ponto percentual (ou 75 pontos-base) nos juros – o maior desde novembro de 1994 –  ao fim de sua reunião de política monetária, com a decisão sendo conhecida às 15h (horário de Brasília) da próxima quarta.

De acordo com a Bloomberg, o mercado vê as chances de tal movimento em 98%. Os mercados também veem uma probabilidade de 89% de um movimento subsequente de 0,75 ponto em julho, seguido por outro de 0,5 ponto (ou 50 pontos-base) em setembro.

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“É a reunião que todo mundo tem em seu radar… e o mercado vai avaliar cada palavra que o chair do Fed, Jerome Powell, tem a dizer”, disse Chris Weston, chefe de pesquisa do Pepperstone Group Ltd, corretora de câmbio da Austrália, à Reuters. “O mercado quer respostas sobre seu compromisso de vencer a inflação.”

O dado preocupante de inflação ao consumidor de maio apresentado na sexta-feira (10), com alta de 1% na base mensal e de 8,6% na comparação com maio de 2021 foi o grande fator para essa mudança nas estimativas.

Antes de os dirigentes do Fed iniciarem seu período de silêncio pré-reunião em 4 de junho, eles sinalizaram que estavam preparados para aumentar as taxas de juros em meio ponto porcentual nesta semana e novamente em sua reunião em julho. Mas eles também disseram que suas perspectivas dependiam da evolução da economia.

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Leia mais: Inflação acima do esperado aumenta chance de que Fed surpreenda com alta de 75 pontos-base; bancos revisam projeções

Na semana passada, logo após o dado de inflação ao consumidor, alguns analistas de mercado já haviam elevado as projeções para a alta de juros pelo Fed, mas ainda mantendo a projeção de avanço de 0,5 na reunião de junho. Contudo, posteriormente, ganhou força a tese de um avanço de 0,75 ponto, como é o caso das projeções dos bancos de investimento Barclays e Jefferies.

“Acreditamos que as considerações de gestão de risco exigem ação agressiva para reforçar a credibilidade do Fed no combate à inflação”, escreveram economistas do Barclays em relatório na segunda-feira. Embora tal movimento “vai contra as comunicações que levam ao período de apagão”, o relatório disse que “os riscos de inflação prolongada se intensificaram”, justificando o aumento maior da taxa.

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Autoridades do Fed disseram que gostariam de responder agressivamente aos sinais de que as expectativas de inflação estavam subindo, ou se “desancorando”, porque acreditam que o processo de arrancar a inflação da economia se tornará muito mais difícil se isso acontecer. “É um golpe duplo”, disse Diane Swonk, economista-chefe da Grant Thornton. “Eles têm que ir agora com 75 pontos-base. O Fed está atrás da curva, e eles sabem disso”.

O Goldman Sachs também mudou suas projeções, destacando um artigo no Wall Street Journal de Nick Timiraos de que as autoridades do Fed provavelmente “considerarão um aumento da taxa de juros de 0,75 ponto percentual na reunião desta semana”. O artigo, aponta o banco, difere de outra publicação de Timiraos de apenas um dia antes, que havia caracterizado tal movimento como “improvável”.

“Nosso melhor palpite é, portanto, que o artigo é uma dica do Fed de que uma alta de 75 pontos-base está chegando na reunião de junho do Fomc, na próxima quarta-feira”, apontam os economistas do banco.

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Assim, o Goldman revisou sua projeção para incluir altas de 75 pontos-base nas próximas reuniões, em junho e julho. Isso redefiniria rapidamente o nível da taxa de juros em 2,25-2,5%, a estimativa mediana do Fomc para a taxa neutra (que não acelera nem esfria a economia). Na sequência, o banco espera um aumento de 50 pontos-base em setembro e de 25 pontos-base em novembro e dezembro, para uma taxa terminal inalterada de 3,25%-3,5%.

Alberto Bernal, estrategista para emergentes da XP, acredita que uma elevação dos juros em 0,75 ponto nesta reunião, seguida por outra alta de 0,5 ponto em setembro, é um erro de política.

“Mas a realidade atual é que infelizmente, para o Fomc, as ‘estrelas não conseguiram se alinhar’ e as circunstâncias estão forçando o banco central dos EUA a entregar aperto excessivo em um ambiente de dados de atividade já mostrando evidências materiais de desaceleração”, avalia em relatório em que revisou a projeção de alta dos juros na quarta de 0,5 ponto para 0,75 ponto. A preocupação maior, aponta o especialista, é com o mercado imobiliário dos EUA, vendo que o risco de uma parada repentina aumentou substancialmente devido a condições financeiras muito mais restritivas.

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Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos, aponta que esta aceleração da alta de juros, se efetivada, sinalizaria uma mudança na estratégia do Fed, apontando que está cada vez mais difícil conter a inflação, o que eleva a aversão ao risco do mercado, já preocupado com o crescimento da economia e com a recessão.

Já Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, avalia que estas revisões recentes na visão do mercado levaram a um aumento da volatilidade, com valorização do dólar e queda do Ibovespa. Porém, acredita que, com o mercado já precificando as notícias, quando elas chegarem efetivamente, haverá um alívio nos mercados acionário e na taxa de câmbio.

Impacto no Copom

Lohmann avalia que essa nova sinalização do BC americano pode ter impacto inclusive na decisão do Copom. “Esse novo paradigma pode impedir o BC de encerrar o ciclo de alta de juros como muitos analistas pensavam”, avalia.

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A visão majoritária do mercado é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve elevar a Selic (a taxa básica de juros) em 0,50 ponto porcentual – de 12,75% para 13,25% ao ano. Contudo, na avaliação do mercado, o colegiado ainda não deve indicar uma data para o encerramento do ciclo de aperto monetário.

Para o economista da Constância, além da alta de 0,5 ponto já contratada na próxima reunião, deve haver mais um avanço de 0,5 ponto e o Copom ainda pode deixar uma porta aberta para setembro, colocando a Selic em um patamar entre 14% e 14,25%.

Desde a última reunião, a inflação global voltou a assustar e os riscos fiscais se intensificaram no Brasil, com o novo pacote do governo para os combustíveis, sem sinais firmes de melhora do cenário de preços.

A redução temporária de impostos incidentes sobre os combustíveis poderia atrapalhar ainda mais a tarefa do BC de levar a inflação para a meta, com um possível efeito “rebote” aumentando as chances de um terceiro ano consecutivo de rompimento da meta em 2023.

Esta desancoragem das expectativas para 2023, que hoje é o horizonte relevante da política monetária, pode levar o BC a adotar uma política mais hawkish, adiando o fim do ciclo de aperto monetário, aponta Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

Enquanto isso, o avanço menor do que o esperado do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) de maio, de 0,47% na comparação com abril, poderia levar a um comunicado mais “dovish” (brando com relação aos juros), mas a composição da inflação ainda preocupa, avalia a economista.  Por isso, avalia Carla, a sinalização do Copom de quarta no comunicado será tão importante, ao mesmo tempo que é difícil de ser antecipada no momento.

Para a XP, dois cenários são considerados, mas a porta aberta para novas altas é mais provável. O cenário-base é de que a Selic seja elevada na quarta-feira em 0,5 ponto e, como o cenário para a inflação segue desafiador, o Copom optará por deixar a porta aberta para um ajuste adicional em agosto.

“Apesar de os números fiscais correntes continuarem melhorando, os incentivos fiscais elevam o risco em relação à sustentabilidade da dívida brasileira. Sendo assim, acreditamos que o cenário esteja ambíguo o suficiente para levar o BC a manter as portas abertas a um novo aumento da Selic em agosto, caso seja necessário”, apontam os economistas. Assim, neste cenário,  é possível que o Copom entregue uma última alta de 0,5 ponto na reunião seguinte, levando a Selic para 13,75%.

O outro cenário é o mais dovish, com alta de 0,5 ponto nesta reunião, porém com comunicação que sinalize que o BC acredita que este é o final do ciclo de altas na taxa básica de juros.

“Este cenário estaria mais alinhado às indicações que já foram dadas pelo BC em ocasiões recentes, embora não seja nosso cenário base, uma vez que as condições globais e pressões inflacionárias continuam pressionadas”, avalia a XP.

O JPMorgan revisou suas projeções para a Selic terminal, destacando que o ativismo fiscal do governo com relação aos preços de combustíveis foi decisivo para alterar a perspectiva, de 13,25% para 13,75%, com mais uma alta de 0,50 ponto em agosto. “A estratégia ótima de comunicação parece ser de o Copom deixar todas as opções na mesa, sinalizando no comunicado que considera outro ajuste em agosto como possível, em uma magnitude não superior à de junho”, disse o banco em relatório.

O sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo, afirmou ao Broadcast que o BC pode ter condições de encerrar o ciclo de alta da Selic, considerando que o pico da inflação já passou (o IPCA em 12 meses caiu de 12,13%, em abril, para 11,73% em maio) e que o juro real está em nível bem contracionista. Mas pondera que o cenário ainda recomenda que o BC não seja assertivo: “A gente ainda está em um terreno bem movediço, a maré não acalmou”.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.