Conflito na Ucrânia traz dinâmica geopolítica que favorece preço do ouro, diz CEO da Aura Minerals

Executivo diz que a commodity deveria ser um investimento estratégico e não especulativo

Mitchel Diniz

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Ainda que tenham apresentado lucros menores que os de 2020, os resultados da Aura Minerals (AURA33) no quarto trimestre do ano passado e no acumulado de 2021 foram elogiados pelos analistas. Casas como XP e Itaú BBA destacaram o aumento nas vendas e a redução de custos da mineradora. Junto com os balanços, a empresa também trouxe um guidance para 2022, prevendo aumento de produção.

A Aura Minerals teve lucro líquido de US$ 22,6 milhões entre outubro e dezembro do ano passado e de US$ 44 milhões no acumulado de 2021. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado ficou em US$ 56 milhões, 7% acima do projetado pelo Itaú BBA. “A performance foi impulsionada por um aumento de 22% nas vendas com o custo melhor”, escreveram os analistas do banco.

Já a XP destacou o potencial de crescimento da empresa. Em 2021, a produção de ouro da Aura Minerals ficou em 269 mil onças. Para 2022, o guidance é de 260 mil a 290 mil onças, ou seja, até 8% mais. Para 2024, a meta é ainda mais ambiciosa: a empresa espera que sua produção fique entre 400 mil e 480 mil onças. “Vemos a Aura como uma história de crescimento com pagamento de dividendos robusto, dado seu potencial de crescimento de produção no futuro”, afirmam os analistas da XP.

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Em entrevista ao InfoMoney, Rodrigo Barbosa, CEO da Aura Minerals, afirmou que a empresa é “muito imune à volatilidade brasileira” e destaca que a performance do ouro tem evoluído ao longo dos últimos trimestres. Na avaliação dele, a situação de guerra na Ucrânia tende a deixar o preço do metal em patamares ainda mais elevados, reforçando a visão de gestores que escolheram o ouro como commodity para operar com riscos geopolíticos.

Confira os destaques da entrevista com o CEO da companhia.

InfoMoney: De que maneira os conflitos na Ucrânia tendem a impactar os preços do ouro?

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Rodrigo Barbosa: Na minha opinião, a guerra vai durar pouco, pois a Ucrânia não tem muitas condições de se defender. De qualquer forma, há uma nova dinâmica geopolítica que vai obrigar os países a investir em exércitos. Inflação alta combinada com juros baixos [como ocorre nos Estados Unidos] é muito promissor para o ouro. Minha provocação é: o ouro deveria ser um investimento estratégico e não especulativo. Compor um portfólio com ouro e empresas do setor traz saúde financeira e reduz volatilidade. Geralmente a gente vai bem quando as outras [empresas] vão mal. 

IM: Mas os Estados Unidos estão se preparando para subir juros….

RB:  O que prejudica o ouro é se os juros subirem mais do que a inflação. No final do ano passado, o ouro acabou sofrendo com a expectativa de aumento de juro real. Com a atual tensão geopolítica, países da Otan [Organização do Atlântico Norte] e Estados Unidos devem aumentar gastos na área militar. E hoje a gente vê os EUA com o maior endividamento desde a Segunda Guerra Mundial, inflação alta e um déficit gigantesco. O Federal Reserve está perdendo margem de manobra para aumentar juros real. É fato que a taxa vai subir, mas talvez não tenha espaço para subir tanto.

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IM: Os juros altos aqui no Brasil podem impactar custos para financiar o crescimento da empresa?

RB: A gente capta em dólar, então estamos mais vinculados à taxa de juros nos Estados Unidos do que no Brasil. Hoje estamos tomando empréstimos em juros de 3% ao ano. Então estamos tendo um rápido acesso a capital.

IM: Como vocês pretendem viabilizar o guidance para 2022 e os próximos anos?

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RB: Crescemos 32% de produção em 2021 comparando com o ano anterior e estamos mostrando que temos condição de crescer. Pagamos 13,5% de dividend yield [valor do dividendo sobre o preço da ação] no ano passado, o que nos faz a maior pagadora de dividendos no segmento de ouro no mundo. Avançamos muito nos projetos Almas [no Tocantins] e Matupá [em Mato Grosso], eles vão dar mais 50% de crescimento até 2024. Somando esses dois projetos, são mais de 400 mil onças em 2024. Chegar em 500 mil, 600 mil onças/ano nos coloca entre as majors no mundo e melhoraria o nosso valuation.

IM: E no caso de um crescimento via fusões e aquisições, quais são os ativos em potencial?

RB: Têm muitos ativos nas Américas com pouca visibilidade no Brasil. Existem minas brasileiras listadas em Toronto, que não são conhecidas por investidores daqui, além de projetos não listados. Eles têm potencial de produção entre 60 mil e 100 mil onças, e nesse patamar, existem inúmeras possibilidades. Quando é um projeto de mais de 150 mil, sai caro ou é difícil de encontrar.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados