Gerdau: a ação brasileira que mais tende a ganhar com o pacote trilionário de Biden, segundo analistas

Aço longo deve ser a grande estrela do megapacote de infraestrutura, material que é o ponto forte da Gerdau (GGBR4)

Priscila Yazbek

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SÃO PAULO – As análises sobre os impactos do megapacote de infraestrutura de US$ 2,2 trilhões do presidente americano Joe Biden estão só começando. Afinal, um plano dessa magnitude, focado em estimular o principal motor da economia global, os Estados Unidos, traz reflexos para o mundo todo. Aqui no Brasil, entre as interpretações já feitas, uma foi constante: ações ligadas a commodities devem se beneficiar. Dentre elas, uma foi destacada como a preferida por diferentes analistas: Gerdau (GGBR4).

Entre os pilares do plano americano, estão previstos: gastos de US$ 621 bilhões em infraestrutura voltada para transporte, como pontes, estradas, transporte público, portos, aeroportos e desenvolvimento de veículos elétricos; e US$ 300 bilhões na construção e reforma de moradias populares, junto com a construção e reforma de escolas. Ou seja, materiais básicos serão necessários, e entre eles uma das grandes estrelas deve ser o aço.

Em relatório sobre o plano e seus impactos na Bolsa, o Bradesco BBI detalhou que o projeto prevê a modernização de 20 mil milhas (32 mil quilômetros) de rodovias e de dez das pontes economicamente mais significativas dos EUA, que estão em mau estado de conservação. O pacote também inclui reformas em outras 10 mil pontes e um investimento de US$ 174 bilhões só para o mercado de veículos elétricos.

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“O American Iron and Steel Institute (AISI, entidade que representa o setor de mineração nos EUA) comentou que cada US$ 1 bilhão em gastos com infraestrutura requer cerca de 50 mil vergalhões de aço. […] O plano de infraestrutura proposto é um bom presságio para o crescimento futuro da demanda por aço nos Estados Unidos, já que uma grande parte do pacote deve ser direcionada a projetos intensivos em aço“, afirma o BBI.

Os analistas do banco dizem, portanto, que siderúrgicas nacionais devem ser as mais beneficiadas pelas medidas, citando especificamente a Gerdau. O BBI tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, ou equivalente à compra) para as ações e o último preço-alvo definido para a empresa (do relatório do dia 13 de março) era de R$ 33 para as ações GGBR4.

O Morgan Stanley também divulgou um relatório sobre o plano, destacando que dentre os materiais usados nas obras previstas pelo megapacote o vergalhão (aço longo) é o produto de aço mais usado em aplicações de infraestrutura tradicionais, que serão o foco do novo projeto.

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Dentre as ações de siderurgia brasileiras, a gaúcha Gerdau é a principal produtora de aço longo, até por essa razão é citada por analistas como a ação mais exposta ao setor de construção civil. Não à toa, os bancos mencionam a empresa como a mais bem posicionada para capturar os impactos do novo pacote americano. “A Gerdau é a que mais se beneficia dentre as ações da nossa cobertura de aço na América Latina“, diz o Morgan Stanley, que tem recomendação de compra e preço-alvo de R$ 30 para as ações.

Thomas Giuberti, sócio e economista da Golden Investimentos, diz que siderúrgicas e mineradoras como CSN (CSNA3), CSN Mineração (CMIN3), Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3) no geral podem ser positivamente impactadas com o avanço do pacote. Mas também afirma que tem preferência pela Gerdau. “É uma empresa que tem uma exposição bem importante à infraestrutura e a parcela da sua receita proveniente dos Estados Unidos vem aumentando.”

Entre as concorrentes do setor, a Gerdau de fato é a que tem maior exposição ao mercado internacional, uma vez que possui plantas nos Estados Unidos e no Canadá, além de outras espalhadas pela América Latina.

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Outras ações do setor

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha, lembra que as empresas de siderurgia e mineração já vinham apresentando uma tendência de alta com a retomada global, puxada principalmente pela China. Portanto essas empresas agora “encontram mais um motivo para se beneficiar” do cenário macroeconômico global favorável às commodities.

Ainda que o pacote tenha animado o mercado em relação à Gerdau, análises anteriores destacam também as vantagens de outras empresas do setor. Ao comparar CSN, Gerdau e Usiminas, o banco Credit Suisse, por exemplo, vinha reforçando ao longo de 2021 a preferência pelas ações da CSN. Em relatório de fevereiro, o banco suíço afirmou que, em contraste com 2020, neste ano o mercado brasileiro de aços planos deve superar o de aços longos com um crescimento de 10% dos planos, contra 7% dos longos.

“No setor, preferimos a exposição à CSN principalmente devido aos altos preços do minério de ferro, o que deve resultar em uma forte desalavancagem da empresa nos próximos trimestres. Entre Gerdau e Usiminas, preferimos Usiminas, pois vemos a demanda de aços planos superando os longos em 2021 e acreditamos que os valuations da Usiminas são mais atraentes”, afirmou o Credit em relatório de fevereiro.

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Os aços planos, mais produzidos pela Usiminas, são usados na fabricação de automóveis, daí a preferência do Credit, que à época argumentava que a recuperação do setor automotiva impulsionaria as ações USIM5.

Há também no mercado bastante otimismo com a Vale, por causa do minério de ferro aquecido, na esteira do aumento da demanda na China e nos Estados Unidos com a retomada de ambas as economias. Mas alguns analistas preferem não comparar Vale às empresas do setor de siderurgia, já que a Vale é focada em minério.

De acordo com o provedor de dados Refinitiv (ex-Reuters), que compila as recomendações dos principais bancos e casas de análise do país, as ações da Gerdau hoje têm oito recomendações de compra, seis neutras e nenhuma recomendação de venda. O preço-alvo médio das ações é de R$ 29,69, o que representa um potencial de valorização de 1,43% sobre a cotação da tarde de hoje, de R$ 29,27 (cotação das 14h desta quinta-feira, dia 1/04).

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Empresa Compra Neutra Venda Preço-alvo (potencial de valorização %*)
CSN (CSNA3) 7 2 0 R$ 38,09 (+3,28%)
Gerdau (GGBR4) 8 6 0 R$ 29.26 (+1,43%)
Usiminas (USIM5) 6 4 1 R$ 17,21 (+3,61%)
Vale (VALE3) 8 1 0 R$ 113,01 (+16,31%)

Fonte: Refinitiv / *Em relação à cotação das 14h desta sexta-feira, dia 1/04. 

Entre as quatro ações, a Gerdau tem o menor potencial de valorização e a Vale é a que mais entusiasma os analistas, com mais recomendações de compra e menos avaliações neutras ou de venda.

Vale ressaltar que os preços-alvos muitas vezes ficam desatualizados. Por outro lado, eles também refletem um ponto muito levantado por analistas do setor: apesar das boas premissas, como o minério de ferro aquecido, o pacote de infraestrutura dos EUA e o “boom” das commodities, será que essas ações já não subiram demais?

Vale lembrar que a CSN foi a empresa que mais se valorizou dentre as ações do Ibovespa em 2020, com alta de 126%. Gerdau (+25%), Usiminas (+53%) e Vale (+70%), ainda que com altas menores, também se destacaram, mesmo em um ano de forte volatilidade para a Bolsa brasileira.

No Radar, programa diário do InfoMoney com notícias do mercado, especialistas analisaram de forma detalhada os efeitos do pacote de Biden para a economia global e brasileira. No vídeo abaixo, é possível conferir a edição desta quinta-feira (1), com as visões dos economistas sobre os impactos na inflação global e nos juros e ainda quais ações, além da Gerdau e das outras siderúrgicas, podem se beneficiar em um cenário de alta de preços. Confira.

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Priscila Yazbek

Editora de Finanças do InfoMoney.