Contratação de jovens negros para estágio e trainee mais que dobra em 2020, diz Cia de Talentos

Jovens negros e negras viram 118% mais contratações nesses programas, comparando janeiro a dezembro do último ano com o mesmo período de 2019

Mariana Fonseca

(Christina Morillo/Pexels)

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SÃO PAULO – A participação de jovens negros e negras nos programas de estágio, trainee e jovens executivos aumentou. O número de contratações desses jovens mais que dobrou na comparação entre 2020 e 2019, segundo estudo do grupo Cia de Talentos, empresa de processos de atração, seleção e desenvolvimento de jovens e média gestão.

A Cia de Talentos analisou o número de contratações de jovens negros e negras para programas de estágio, trainee e jovens executivos. O aumento foi de 118% de janeiro a dezembro de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019.

Segundo a Cia de Talentos, em empresas como Basf, Bayer, Bunge, Itaú (ITUB4), Nestlé, Pepsico (PEPB34), PwC, Suzano (SUZB3), Telefônica Vivo (VIVT4) e Unilever (ULEV34), os percentuais de contratação desses jovens superaram 42% do total de contratados.

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Ao todo, 60 companhias foram pesquisadas para a análise comparativa. “Nesse ritmo, veremos uma realidade muito mais diversa nos cargos de liderança dessas organizações até 2025”, afirma Sofia Esteves, fundadora do Grupo Cia de Talentos, em comunicado sobre o estudo.

Desafios para a inclusão

“Temos que comemorar, mas com a consciência de que ainda estamos muito distantes dessas práticas estarem consolidadas em todo o mercado de trabalho. Ainda há um longo caminho a percorrer para realmente sermos um país inclusivo e nos redimirmos dessa realidade vergonhosa”, alerta Sofia.

De acordo com a Cia de Talentos, a falta de acesso à educação de qualidade é um obstáculo ao ingresso de jovens negros e negras no mercado de trabalho. Essa falta de ensino qualificado dificulta o acesso e a conclusão do ensino superior.

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“No Brasil, as melhores oportunidades e condições de trabalho são para profissionais com terceiro grau completo”, escreve a Cia de Talentos sobre o estudo. “Implementada no país em 2012, a política de cotas raciais em universidades e institutos federais de ensino foi uma revolução silenciosa e que gerou avanços importantes. Eles devem ser continuados e expandidos.”

Além de batalhar pela entrada desses jovens negros e negras no mercado formal de trabalho, também é preciso fomentar o crescimento profissional depois da contratação. O objetivo final deve ser aumentar a presença de lideranças negras.

“Até aqui, a luta foi para proporcionar acesso às pessoas negras, para que tivessem a chance de participar de processos seletivos e mostrar seu potencial. Agora, temos que intensificar as ações que garantam a permanência e ascensão desse público dentro da organização”, completa a Cia de Talentos.

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O que as empresas devem fazer?

Segundo a Cia de Talentos, jovens negros e negras só ficarão em uma companhia se ela promover um espaço com maior inclusão.

A Pesquisa Carreira dos Sonhos, estudo anterior do grupo, realizado entre janeiro e março de 2020, falou com 123.579 mil estudantes e profissionais brasileiros. 46% dos universitários e recém-formados, 54% dos profissionais de média gestão e 47% da alta liderança dizem que a empresa em que atuam não tem um ambiente inclusivo.

Os líderes devem refletir sobre quão preparada a empresa está para incluir esses profissionais e batalhar vieses inconscientes presentes entre os funcionários. Os vieses inconscientes são estereótipos criados sobre grupos de pessoas, a partir de experiências próprias ou compartilhadas, e que podem levar a atitudes discriminatórias.

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Por outro lado, também é preciso fortalecer a estrutura emocional dos jovens negros e negras. Uma possibilidade é criar grupos para conversas sobre “valorização de suas histórias de vida, sobre protagonismo e sobre capacidade de transformação”, exemplifica em comunicado Danilca Galdini, diretora de pesquisa e insights da Cia de Talentos.

Algumas empresas criaram programas de estágio, trainee e jovens executivos apenas para profissionais negros no ano passado – tendo como caso mais emblemático a varejista Magazine Luiza (MGLU3).

Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração, declarou na época que descobriu em sua empresa poucos executivos negros em altos cargos e, por isso, optou pelo programa de trainee exclusivo a pessoas negras.

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“O racismo estrutural está inconsciente nas pessoas. Temos que entender mais o que é racismo estrutural. O dia que entendi até chorei, porque sempre achei que não era racista até entender o racismo estrutural”, afirmou Luiza durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Após críticas e ações judiciais, o Magazine Luiza divulgou nesta semana os resultados desse processo seletivo de trainees, com contratação de 19 jovens negros e negras.

Engana-se quem considera que esse tema é apenas um modismo, segundo a Cia de Talentos. “O consumidor avalia a marca como instituição, enquanto o profissional olha para a marca empregadora. A tendência é que a pressão para que empresas se envolvam na construção de soluções para acabar com o preconceito aumente. A maior parte dos brasileiros espera que as empresas promovam causas sociais relacionadas ao tema diversidade – como igualdade racial e de gênero, inclusão de PcDs e direitos LGBTQ+”, diz o grupo sobre seu novo estudo. “As organizações e líderes que não se adaptarem a nova realidade estarão fadados a desaparecer.”

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.