Como aproveitar as férias mais esquisitas de todos os tempos – e evitar micos

Planejando viagem? Saiba como o comportamento dos turistas mudou por conta de pandemia e como se preparar para férias no novo normal

Mariana Fonseca

Ilustração (Zoff-photo/GettyImages)

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SÃO PAULO – As próximas férias escolares serão muito diferentes das anteriores. A pandemia de covid-19 já apagou um terço das rotas aéreas globais – apenas as aéreas brasileiras chegaram a ter redução de 99% nos meses de pico de circulação do vírus e das medidas de isolamento social.

Este dezembro já mostra um cenário de recuperação: a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) projeta uma retomada de 80% da capacidade doméstica do setor aéreo, na comparação com dezembro de 2019. Nos voos internacionais, aéreas deverão operar com 45% da capacidade. Os Estados Unidos avaliam a reabertura para viagens do Brasil e Europa, enquanto o Ministério do Turismo celebra aeroportos e hotéis “lotados” em terras nacionais.

Mesmo assim, viajar não será como antes – pelo menos no curto prazo. “A gente tem esse pensamento de que vai virar uma chave junto com o Réveillon. Mas não existe nenhuma prova disso. Estamos muito mais dependendo da vacina do que da virada do ano para que comportamentos vistos na pandemia mudem”, afirma Luísa Dalcin, diretora de comunicação do Viajala, portal de comparação de viagens.

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Neste cenário, como aproveitar as férias do final de ano ou começo de 2021? O InfoMoney ouviu especialistas para entender o novo comportamento dos viajantes, estimar preços atuais e futuros das passagens e listar dicas de como garantir que o turismo seja proveitoso – ainda que esquisito.

Qual seu comportamento como viajante?

Ricardo Freire, escritor do portal Viaje na Viagem, identificou cinco perfis de viajantes durante esta pandemia. Os “abstinentes” ficariam sem viajar até o fim da pandemia. Os “ressabiados” viajariam apenas quando as curvas de contágio começassem a cair. Entre os que poderiam viajar primeiro, Freire os separou entre “fugitivos” (aqueles que viajariam para trocar o isolamento em suas casas pelo isolamento num outro CEP, com direito a horizonte e natureza), “desconfinados” (os que estariam retomando a vida nas cidades, adaptados aos novos protocolos, e se sentiriam à vontade para viajar) e os “tô-nem-aíners” (que não se preocupam com a pandemia e viajariam para qualquer destino que já estivesse funcionando).

Neste momento, com a retomada praticamente generalizada das atividades, Freire vê uma fluidez entre os perfis.

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“Ainda há muitos abstinentes, claro, e eles já sabem quando viajarão: depois da vacina. Muitos ressabiados se tornaram fugitivos ou engrossaram o time dos abstinentes, mais ressabiados do que nunca. Outros ressabiados, como eu, viraram desconfinados, usando a máscara como passaporte para sair de casa ou da sua cidade. Mas muitos dos primeiros desconfinados hoje se sentem tão seguros que acabam relaxando nos protocolos durante viagens, tornando-se autênticos tô-nem-aíners”, diz o escritor.

“Questões como repique de contágios, segunda onda e início da vacinação vão continuar mexendo no comportamento dos viajantes e dos que se recusam a viajar. Mas, depois que todo mundo se vacinar, vai ser um carnaval.”

Alerta: será difícil economizar nos voos

No começo da pandemia, o preço das passagens foi bastante afetado. De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) coletados pela MaxMilhas, plataforma de compra de passagens aéreas e venda de milhas, a tarifa média doméstica do segundo trimestre deste ano foi de R$ 294,92. O valor teve redução de 34,3% em comparação com o mesmo período de 2019, quando a média praticada foi de R$ 448,65. “Essa foi a maior redução, em percentual, registrada no segundo trimestre desde 2009”, diz Max Oliveira, fundador da MaxMilhas.

“No auge da pandemia, vimos muitas promoções. As aéreas precisavam colocar dinheiro dentro do caixa. Mas não aconteceram tantas vendas, porque muitas pessoas efetivamente não conseguiram viajar”, completa João Machado, vice-presidente na Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).

Segundo a Anac, a média de preços mês a mês de voos nacionais de todo o mercado aéreo apresentou uma leve alta desde julho. Os valores das passagens voltaram a se regularizar – e podem inclusive alcançar preços acima dos vistos no pré-pandemia nos próximos meses.

Segundo Oliveira, os valores tendem a voltar ao normal até as férias de 2021, comparando a média atual das tarifas com a média dos meses de janeiro, fevereiro e março de 2020. “Mas alguns trechos ainda estão mais em conta do que antes da pandemia, como a ponte aérea Rio-São Paulo.”

Já Machado diz que os preços podem até mesmo chegar a patamares acima do pré-pandemia em breve. “Os passageiros já estão ávidos por viajar e as aéreas podem pedir inclusive um pouco mais. Os valores seguirão tanto a relação entre demanda e oferta quanto o câmbio para viagens internacionais. Mesmo dentro do Brasil, as tarifas não estão mais tão promocionais. Só com antecedência.”

Como aproveitar as férias? Dicas práticas para começar a planejar

Até que tenhamos vacina para todos e a pandemia esteja completamente superada, Machado vê pessoas tomando mais cuidados contra contágios, viajando em grupos menores e escolhendo destinos mais seguros contra a Covid-19. Por exemplo, áreas sem aglomerações e em lugares abertos. “Shows ou ruas lotadas em Nova York não são preferências. Montanhas e praias estão em alta, com viagens para Bonito [em Mato Grosso do Sul] e para o Nordeste”, diz Machado. “Serras, grutas, cachoeiras, trilhas e outros locais pouco explorados e que não costumam ter aglomeração de pessoas devem ser a opção de boa parte dos turistas”, concorda Oliveira.

Luísa concorda que as férias esquisitas de 2021 passarão longe de filas e pontos turísticos. “As viagens se traduzirão em dois momentos. O primeiro é de rever os familiares que você deixou de visitar durante vários meses de pandemia. O segundo é de descanso. A quarentena foi estressante e muitos perderam pessoas próximas”, diz a diretora de comunicação da Viajala. “Não é o momento de conhecer pontos turístico, mas sim descobrir o país e até o próprio estado. Pense em passeios menores e mais próximos: uma fazenda de café ou um cânion, sem o fervor das lotadas praias nordestinas. Busque ar livre e isolamento. Ainda é cedo para procurar uma viagem internacional, seja pelo dólar ou pelas restrições à entrada de brasileiros.”

Inclusive, a exploração de cidades brasileiras se firmou com a pandemia. Na MaxMilhas, os voos domésticos totalizaram 94% das buscas em novembro. “Essa nova tendência fortalece o turismo nacional e acelera sua retomada, depois da grande crise que o setor enfrentou. Os brasileiros voltaram seus olhos para dentro do país e acredito que essa é uma tendência que irá se manter no ano que vem”, diz Oliveira. Para Machado, as fronteiras fechadas em muitos países e o câmbio desfavorável influenciam, mas contam também a segurança de estar a apenas algumas horas de casa e de receber um possível tratamento médico no próprio país.

Segundo Freire, esse aumento de voos domésticos não necessariamente indica que voos para o exterior diminuam sua presença no longo prazo. “Depois da vacina, haverá grande procura por viagens internacionais. Os destinos nacionais não ficarão mais nessa situação de alta temporada permanente, como estão agora. Se as viagens a trabalho não voltarem, e eu acho que dificilmente retornarão ao patamar anterior mesmo se a economia reagir, as companhias aéreas vão ter que continuar priorizando rotas turísticas. Elas nunca fizeram isso antes.”

De acordo com Oliveira, as compras planejadas de passagem voltaram e o período de férias escolares continua como preferido de muitos. Os passageiros já estariam acelerando planos de viagem e aumentando o tempo de permanência no destino. “Mais pessoas estão procurando passagens para viajar em dois meses ou mais, antecedência preferida dos que buscam economia nos voos. Esse número representou mais de 30% das pesquisas por passagem feitas em novembro.”

Por isso, a primeira dica é: quanto antes conseguir programar a viagem, melhor. “Serão melhores tarifas e melhores informações de lugares para ir. Quando a data da viagem fica muito próxima, hotéis e lugares ficam ocupados, especialmente porque estão trabalhando com capacidade reduzida neste momento”, diz Machado.

Porém, as restrições ao deslocamento e ao turismo jogam contra essa dica, na visão de alguns especialistas. Ainda é possível que novas ondas de contágio aconteçam e, com isso, viagens sejam suspensas repentinamente.

“Depois da vacina, as passagens certamente vão subir. Ou, pelo menos, as promoções vão ficar mais raras”, diz Freire. “Mas muita gente vai ter dor de cabeça para conseguir usar essas passagens, devido ao vaivém das restrições ao deslocamento e ao turismo. Marcar uma viagem internacional antes da vacina é comprar um estresse que vai durar até o embarque – e talvez continue durante a viagem, se ainda houver restrições de atividades. Não há oferta que compense”, completa.

O planejamento ficou mais difícil, concorda Luísa. “Normalmente, a chave para economizar é se programar com antecedência. Mas a gente não sabe como a situação ficará daqui a dois ou três meses”, diz a diretora do Viajala.

Quando for agendar voos, hospedagens e passeios, fique de olho nas políticas de cancelamento e remarcação. Freire alerta que o adiamento prevê um aumento nos valores na maioria dos casos. “Remarcar passagem com essa diferença tarifária pode inviabilizar os planos de quem só pode viajar por causa da ‘tarifa megapromo’.”

Outro cuidado, ressaltado por Machado, é contratar um seguro de viagem que inclua exames e tratamentos para Covid-19 no seu destino. Em termos financeiros, pacotes internacionais já costumam ser contratados com conversão para reais, mas ainda existem custos a serem pagos só na hora da viagem – como refeições e presentes. “Sempre é válido comprar a moeda de escolha pouco a pouco, conseguindo uma média de câmbio. Não dá para dizer como as cotações vão se comportar daqui a meses”, diz o vice-presidente da Abav.

“Quem poupa em moeda estrangeira para viajar não é pego de surpresas por altas repentinas do dólar”, concorda Freire. “Eu pouparia num cartão pré-pago em dólar ou euro, ou numa dessas novas contas em moeda forte oferecidas por bancos digitais.”

Já no local desejado, tenha cuidado com eventos – onde mais acontecem as confraternizações entre diferentes círculos sociais. “Acredito que a preocupação com a segurança atingiu um outro nível em 2020 e isso é algo que deve permanecer no ano que vem”, diz Oliveira. “Continuará sendo fundamental procurar saber sobre as medidas sanitárias adotadas nos aeroportos, aviões e nos destinos para os quais se pretende viajar.”

Fuja destes micos!

Com ou sem vacina contra a Covid-19 próxima, é preciso continuar se cuidando para que a viagem seja a mais segura possível. Os grandes micos que você verá a seguir comprometem não apenas a sua saúde, mas a de outros viajantes e a dos profissionais que trabalham com turismo.

O primeiro mico acontece logo no avião. As regras mudaram, afirma Luísa, do Viajala. A saída dos voos agora é liberada por fileiras, evitando que as pessoas fiquem em pé e encostadas nos corredores da aeronave. Nos voos nacionais, também não existe mais serviço de bordo, com o objetivo de que as pessoas não tirem a máscara durante o voo.

“Já peguei alguns aviões durante a pandemia e vejo diversos micos. Por exemplo, pessoas trazendo lanche de casa e tirando a máscara para comer durante o voo. Respeite as regras da companhia aérea e faça lanches antes ou depois do voo”, recomenda Luísa.

Mais um mico de avião: não apenas tirar a máscara, mas puxar papo com o viajante ao lado. “Este não é o momento de conversar, porque estamos em uma posição sem nenhum distanciamento”, diz a diretora de comunicação do Viajala.

Depois de desembarcar, outro mico a ser evitado é andar sem máscara em ambientes com outras pessoas, além das suas mais próximas, como cônjuge ou filhos. A máscara só deve ser retirada nesse cenário mais intimista ou estritamente enquanto você bebe e se alimenta.

Principalmente nos bares e restaurantes, um mico é aproveitar para andar pelo estabelecimento sem a máscara – para ir ao toalete ou para pagar a conta, por exemplo. Lembre-se: não existe “tirar a máscara só por um tempinho”.

“Eu estava em um resort e as pessoas iam pedir bebidas no bar da piscina sem máscara. Os funcionários relembravam o uso das máscaras, e as pessoas explicavam que era rapidinho, que só tinham ido pedir a bebida. Isso está errado: vá sempre de máscara, para proteger si mesmo e os funcionários”, diz Machado, da Abav.

Esse mesmo mico funciona inclusive para ambientes bem abertos, como uma praia. Se você vai circular entre as pessoas e pedir uma água de coco, por exemplo, mantenha a máscara no rosto. “É pela sua segurança, pela das pessoas que estão nos guarda-sóis perto de você e pela equipe que vai fazer sua bebida”, diz Luísa. Outro exemplo: ao falar com pessoas na praia, como ao pedir para olharem seus pertences enquanto você dá um mergulho, também faça uso da máscara. Apenas a tire quando for mesmo mergulhar.

Mais um mico é não praticar o distanciamento e escolher a aglomeração. Por exemplo, nada de instalar seu guarda-sol bem ao lado do companheiro de praia, por exemplo. “Mantenha o distanciamento recomendado, mesmo em lugares ao ar livre. É uma forma de respeito aos outros”, afirma Machado.

“Existem ainda alguns passeios de barco com muita gente. Algumas pessoas não usam máscara por motivos não justificáveis, como ‘faz muito calor’ ou ‘é um ambiente aberto’. Estamos em um momento de repensar passeios com aglomeração”, completa Luísa.

Outro mico é não usar a máscara ao praticar exercícios físicos, seja na academia do hotel, em quadras de esporte ou ao praticar uma corrida ao ar livre. “Em atividades em que a máscara não seja um impeditivo fundamental, como entrar no mar, opte sempre por usar”, recomenda Machado.

Outros cuidados

Antes de viajar, reveja os cuidados básicos para prevenir o contágio pela Covid-19. Entidades representativas dos setores de viagens e turismo criaram um “Guia do Viajante Responsável”.

Certifique sua saúde antes de fazer qualquer viagem – adie se estiver com coriza, febre ou tosse. Apenas viaje com seguro-viagem e opte por check-ins online e com antecedência sempre que puder.

Nas aeronaves, os filtros renovam o ar a cada três minutos. Use máscara durante todo o percurso e leve máscaras reservas. Troque-a após três horas de uso ou caso ela suje. Higienize sempre as mãos, fazendo uso do álcool gel quando não puder lavá-las. A bagagem também deve ser desinfetada com álcool 70% quando chegar ao hotel e quando você voltar para casa.

Pesquise regras e protocolos das companhias aéreas, dos hotéis, das atrações e de todo o país de destino. Um mapa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) mostra detalhes sobre as regras que precisam ser seguidas para entrada em cada país.

Mantenha distanciamento de outras pessoas e de grupos, preferindo passeios ao ar livre. Mesmo assim, continue usando máscaras. Priorize olhar cardápios e pagar pelo celular, por meio de QR Codes. Sempre que possível, use seu próprio squeeze, copo e canudo reutilizável. Por fim, saiba onde fica o hospital mais próximo do seu destino e salve o contato do local.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.