O que a queda do Império Romano tem a ver com seu investimento na bolsa?

O diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt, contextualiza a crise europeia e aponta suas consequências

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Os problemas econômicos globais afetam de forma importante os seus investimentos, especialmente as aplicações no mercado de renda variável. Basta analisar toda a volatilidade da bolsa brasileira nos últimos tempos, que muitas vezes oscila ao de acordo com o humor dos agentes com as notícias sobre a crise europeia, que já vem se arrastando há alguns anos sem uma solução definitiva.

Mas esta crise tem suas origens em problemas anteriores, que remontam à formação do bloco comum europeu, no final da década de 1990. Quem explica é o diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt, que no próximo sábado (21) fará uma palestra com o tema: “Formação da Europa. Do Império Romano até a Crise Atual”, em São Paulo.

“A União européia é o resgate de uma ideia que nasceu por volta de meados do século XIX, quando alguns ideólogos, olhando a história da Europa, perceberam que a grande fraqueza do continente era a fragmentação que aconteceu depois da queda do Império Romano”, explica.

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Depois de mais de um século, em 1999, a União Europeia finalmente saiu do papel, mas o executivo aponta que houve algumas falhas neste processo, que culminaram na crise que os europeus vivem atualmente. “Esse modelo de unificação ficou incompleto”, diz. Segundo ele, um dos problemas foi a necessidade de abolir a moeda de cada país. “Houve uma discussão gigantesca sobre isso. A população tinha um forte vínculo sentimental com suas respectivas moedas: alemães com o Marco, italianos com a Lira e por isso foi muito delicado tirar a moeda de cada nação”, diz Bittencourt.

Outro problema, e o mais grave, foi a questão da união fiscal. Alguns países queriam proporcionar à população condições de bem estar iguais às das nações mais ricas do continente, o que fez com que se endividassem mais e mais. “A população da Grécia, Espanha, Portugal, começa a reivindicar melhores condições, mais assistência, assim como recebiam os alemães e franceses, por exemplo. E os países foram se endividando cada vez mais”, explica Bittencourt. “O desejável seria que houvesse um controle do BCE (Banco Central Europeu) sobre o máximo de endividamento que um país poderia atingir. Algo em torno de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto)”, afirma.

Entretanto, ele aponta que, para isso, seria necessária uma interferência do bloco na política fiscal de cada país, o que inviabilizaria a criação da união europeia naquele momento. “Se tentassem forçar isso na criação da União Européia, tenho certeza que não chegariam a um consenso e talvez a unificação nem saísse do papel”, afirma o executivo.

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Como isso tudo nos influencia?
Toda esta questão política e econômica que envolve a Europa acaba afetando a vida de pessoas do mundo todo, inclusive de nós brasileiros. Em relação aos investimentos, é inegável que os problemas na Europa têm causado um movimento de aversão ao risco e provocado grande volatilidade na bolsa brasileira, assustando muitos investidores e os afastando do mercado de renda variável. Prova disso é a diminuição do número de investidores pessoa física cadastrados na bolsa nos últimos anos. De acordo com a BM&FBovespa, de 2010 até junho deste ano, o número recuou quase 5%, para 580 mil pessoas.

Dos que permaneceram investindo em ações, muitos procuraram por papéis mais defensivos. “Em um cenário como estamos vivendo agora, você precisa escolher empresas de setores que estão mais adaptados”, aponta o diretor da Apogeo.

Entre as apostas da gestora para este momento está o fundo de dividendos, que investe em ações de empresas que são boas pagadoras de proventos. Este ano, estes fundos têm se destacado em termos de rentabilidade. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capital), eles renderam, em média, 10,93% no primeiro semestre. Para comparar, o Ibovespa (principal referencial do mercado acionário brasileiro), recuou 4,23% no mesmo período.

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Mas o diretor aponta que também podem existir boas oportunidades em ações que desvalorizaram bastante com a crise, mas que tem um bom potencial de recuperação. “É importante diversificar. Eu não deixaria de lado também um investimento em um fundo mais agressivo de ações, em uma proporção menor, se o seu objetivo for para uma aposentadoria, por exemplo”, conclui.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip