Risco político volta pesar e Ibovespa freia ganhos com expectativa de corte para Selic

BC optou por não dar pistas sobre suas decisões futuras em relação aos juros no ano que vem, mantendo o cenário aberto para agir conforme o panorama econômico, apontou o documento

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Depois de subir 0,50% e atingir máxima em 75.141 pontos, o Ibovespa perdeu força de compra verificada na abertura e registrava baixa de 0,52%, aos 74.411 pontos, às 11h42 (horário de Brasília) desta terça-feira (31), com o cenário político ainda trazendo risco ao mercado, com mais uma pesquisa apontando Lula na liderança para 2018 e as dificuldades encontradas por Temer passada a segunda denúncia. Destaque também para os papéis dos bancos, repercutindo as previsões conservadoras do Itaú Unibanco (ITUB4) em teleconferência de resultados.

A exemplo do Ibope, nova pesquisa DataPoder360 mostrou, um ano antes da eleição, a consolidação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do deputado federal Jair Bolsonaro na frente da disputa para a corrida presidencial de 2018. Dependendo do cenário traçado, Lula pontua de 28% a 32%, enquanto Bolsonaro registra de 20% a 25% das intenções de voto – clique aqui para saber mais sobre o levantamento

Enquanto 2018 não chega, o noticiário sobre as dificuldades políticas do governo Michel Temer seguem sendo destaque. Segundo informações da Bloomberg, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, busca se distanciar do peemedebista para construir uma imagem positiva e que deixe um legado no cargo. O movimento de Maia é visto com naturalidade pelos aliados de Temer, de acordo com fontes ouvidas pela agência. 

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Enquanto isso, partidos do chamado Centrão deram ultimato ao governo de Michel Temer, segundo informa o blog de Gerson Camarotti, do G1: eles afirmaram que não vão aceitar o adiamento da reforma ministerial para março ou abril de 2018. Interlocutores de Temer foram advertidos de que, se isso acontecer, o presidente terá perdido a última chance de aprovar uma versão reduzida da reforma da Previdência e ainda corre o risco de ser derrotado na votação das medidas provisórias do ajuste fiscal, aponta o jornalista.

Maia deixou bem claro que se o presidente quisesse aprovar a agenda de reformas precisaria “repactuar o espaço no governo”, ou seja, fazer uma reforma ministerial para atender os partidos do “centrão” que ajudaram Temer na segunda denúncia.

Temer vs Maia

Falando sobre medidas provisórias, o governo apresentou ontem a nova versão do Orçamento de 2018 e encaminhou, dois meses após o anúncio, as MPs (Medidas Provisórias) que vão garantir R$ 12,6 bilhões extras no ano que vem com aumento de arrecadação e corte de despesas. Para aumentar a receita em 2018, o governo elevou a alíquota previdenciária dos servidores federais de 11% para 14% e adiou o reajuste deles para 2019, como também o aumento do Imposto de Renda para fundos exclusivos. 

O envio das MPs, que têm vigência imediata, estiveram no centro de um impasse entre a equipe econômica, o Palácio do Planalto e Rodrigo Maia, que reclamou recentemente do excesso de MPs enviadas por Temer e ameaçou devolver novas propostas, que deveria mandar suas propostas por projetos de lei, exatamente o oposto que foi feito. O presidente da Câmara já tinha dito que “o governo poderia se surpreender na votação das medidas do Orçamento” caso fosse pelas MPs.

Destaques do mercado

Do lado negativo, destaque para as ações da Braskem (BRKM5), que sofrem ajuste após dispararem 12% na sessão passada com rumores para compra do controle da empresa (veja mais aqui). Além disso, os papéis do Itaú recuam cerca de 2% e pressionam todo o setor financeiro, que possuem relevante participação no índice, após o presidente do banco, Candido Bracher, afirmar que o desempenho do crédito e margem financeira com clientes finalizarão 2017 no piso da previsão.

Do outro lado, os papéis da Cielo (CIEL3) sobem após resultado acima do esperado pelo mercado. “O número melhor do que o esperado foi reflexo de volumes bastante fortes e aumento da receita de pré-pagamento, devido a melhora da venda de varejo e um ambiente favorável de crédito”, descrevem os analistas do Credit Suisse.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRKM5 BRASKEM PNA 51,58 -3,14 +50,60 40,93M
 GGBR4 GERDAU PN 10,95 -2,67 +1,57 74,40M
 ELET6 ELETROBRAS PNB 25,61 -2,59 +5,07 5,66M
 ITSA4 ITAUSA PN 10,58 -2,40 +31,55 37,40M
 BBDC3 BRADESCO ON 32,39 -2,32 +23,66 10,75M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CIEL3 CIELO ON 21,96 +7,38 -2,55 150,26M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 28,86 +1,98 +85,83 30,29M
 KROT3 KROTON ON 18,25 +1,28 +39,81 29,50M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 19,22 +1,00 +11,05 3,65M
 SMLS3 SMILES ON 86,80 +0,93 +108,81 6,51M
* – Lote de mil a??es
1 – Em reais (K – Mil | M – Milh?o | B – Bilh?o)

Ata do Copom

A ata era guardada pelos investidores em vista das dúvidas deixadas pelo BC após o comunicado pós-reunião, quando retirou o termo “encerramento gradual do ciclo” do texto, o que deixou margem para interpretações sobre o fim do ciclo, que para uns já estava certo que seria encerrado em dezembro, fechando em 7% ao ano. Porém, ao contrário do precificado, o Copom “deixou a porta aberta para novos cortes”, afirma Paulo Petrassi, sócio da Leme Investimentos. O BC optou por não dar pistas sobre suas decisões futuras em relação aos juros no ano que vem, mantendo o cenário aberto para agir conforme o panorama econômico, apontou o documento: “houve consenso em manter liberdade de ação e adiar qualquer sinalização sobre as decisões futuras de política monetária”, revela a ata.

“O BC surpreendeu com uma ata muito mais tranquila do que o comunicado”, revela Petrassi, deixando de lado a tese de que o fim do ciclo já está pavimentado. Contudo, o BC condicionou novos cortes ano que vem, levando a Selic abaixo de 7%, ao andamento da agenda de reformas, o que preocupa o sócio da Leme Investimentos, tendo em vista a dificuldade do governo em aprovar a Previdência: “uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”, aponta a ata.

“Condicional ao cenário projetado pelo Banco Central, a ata reforça nossa projeção de Selic em 6,75% no começo de 2018, o que incorpora um corte de 50 pontos-base na reunião de dezembro (encerrando o ano em 7%) e um novo corte de 25 pontos na reunião de fevereiro do ano que vem”, projetam os economistas da Rosenberg Associados.

Com a possibilidade do fim do ciclo de cortes deixada de lado, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 operavam em baixa de 5 pontos-base, cotados a 7,29%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 recuavam 3 pontos, aos 9,19%. Enquanto isso, o dólar futuro com vencimento em novembro registrava desvalorização de 0,64%, aos 3.279 pontos, em dia de formação da Ptax (entenda porque isso deixa a moeda mais volátil)

Bolsas mundiais

As bolsas europeias registram leve alta, com o mercado monitorando indicadores e avanço da reforma tributária de Donald Trump, enquanto espera da reunião do Fed amanhã. Na véspera, o dia foi de aversão ao risco, após o mercado ser pego de surpresa com rumores sobre um plano gradual de 5 anos para corte de impostos corporativos nos Estados Unidos. 

Na China, o dia foi de recuperação, em meio à estabilização do mercado de bônus, que ontem havia sofrido uma nova onda de liquidação, e a volta de rumores sobre a possível construção em Xangai de um porto destinado ao livre comércio. Com isso, ficou em segundo plano dados oficiais mostrando que a atividade industrial da China se expandiram em ritmo mais fraco neste mês. O PMI da indústria chinesa caiu de 52,4 em setembro para 51,6 em outubro, enquanto os analistas de mercado esperavam 51,8 no período.

Às 11h42, este era o desempenho dos principais índices:

*Dow Jones (EUA) +0,10%

*S&P 500 (EUA) +0,12%

*Nasdaq (EUA) +0,23%

*CAC-40 (França) +0,16%

*FTSE (Reino Unido) +0,08%

*FTSE MIB +0,02%

*Hang Seng (Hong Kong) -0,32% (fechado)

*Xangai (China) +0,12% (fechado)

*Nikkei (Japão) 0% (fechado)

*Petróleo WTI -0,18%, a US$ 54,04 o barril

*Petróleo brent -0,10%, a US$ 60,84 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian 0%, a 428 iuanes

*Minério de ferro spot (à vista) no porto de Qingdao, na China, -0,39%, a US$ 58,52 a tonelada