O relatório do Credit que “ajudou” os 4 principais bancos a aumentarem seu valor em R$ 15 bi

O Credit Suisse elevou recomendação para Bradesco, Itaú e Itausa, diante da redução de risco soberano do país e da queda de impasses políticos ao longo dos últimos dois meses - mas cenário segue desafiador no curto prazo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após 15 meses com uma visão bastante negativa sobre os bancos brasileiros – em meio ao cenário bastante desafiador para a economia brasileira e de perspectivas bastante ruins para aumento da inadimplência -, o Credit Suisse voltou a olhar de forma mais positiva para as instituições financeiras nacionais – e impulsionou as ações do setor de bancos na BM&FBovespa na sessão desta quinta-feira.

Outros fatores, como o cenário político e o ambiente internacional mais positivo impulsionaram os papéis na Bolsa, mas as instituições financeiras tiveram um forte destaque de alta também por conta do relatório do banco suíço. Nesta sessão, o valor dos quatro principais bancos brasileiros na Bovespa (Bradesco, Itaú, BB e Santander Brasil) subiram R$ 15 bilhões com a alta dos papéis. 

Os analistas Marcelo Telles, Lucas Lopes, Alonso Garcia e Victor Schabbel elevaram a recomendação para as ações do Bradesco (BBDC3, R$ 29,00, +3,35%; BBDC4, R$ 28,30, +4,12%) de underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para outperform (desempenho acima da média do mercado), com o preço-alvo de R$ 33,00, enquanto o Itaú Unibanco (ITUB3, R$ 28,60, +3,17%; ITUB4, R$ 33,57, +2,85%) teve a recomendação elevada de undeperform para neutro, com preço-alvo de R$ 35,00; já o Itaúsa (ITSA3, R$ 7,81, +3,58%; ITSA4, R$ 8,22, +4,45%) também teve a recomendação elevada, com target de R$ 8,70. Já Banco do Brasil (BBAS3, R$ 19,01, +5,32%) segue com recomendação underperform, enquanto o Banrisul (BRSR6, R$ 9,82, +4,03%) segue com recomendação neutra. 

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Nesta sessão, o Bradesco teve o maior ganho de valor de mercado, de R$ 5,72 bilhões, enquanto o Itaú registrou uma alta no seu valor de mercado de R$ 5,412 bilhões. O BB, mesmo com sua recomendação underperform mantida, viu seu valor de mercado subir R$ 2,75 bilhões nesta quinta-feira, enquanto o Santander aumentou seu valor de mercado em R$ 1,27 bilhão. Já a holding Itaúsa passou a ter um valor R$ 2,37 bilhões maior. 

Em outubro de 2015, o banco havia rebaixado a recomendação para o setor como um todo, destacando a deterioração rápida dos indicadores econômicos nacionais. A grande preocupação dos últimos meses com o aumento da inadimplência e com crescimento de NII (receita líquida de juros), levando a consequentes revisões para baixo do lucro por ação para 2016 e 2017. 

Enquanto o operacional deve continuar difícil nos próximos 12 a 18 meses, o risco País caiu significativamente com o anúncio da nova equipe econômica de Michel Temer”, afirmam os analistas. Vale destacar que, em outubro do ano passado, o cenário apontado era bastante negativo, com os analistas destacando que o cenário só mudaria com uma súbita mudança no cenário político do Brasil, o que elevaria a confiança do mercado em uma política fiscal sustentável e melhores perspectivas de crescimento a longo prazo, o que se traduziria em um menor custo de capital próprio. 

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Aliás, o custo de capital próprio é um dos pontos de destaque no relatório de julho de 2016. Eles destacam que estão incorporando um custo menor, o que proporciona maior valuation para os bancos brasileiros. 

Aumentamos marginalmente as nossas estimativas, mas ainda continuamos de 13 a 14% abaixo do consenso. Acreditamos que o mercado ainda está muito otimista com crescimento de crédito e NII e na magnitude de melhora do custo de risco. Enxergamos espaço para corte de estimativas no mercado com relação ao Banco do Brasil, Banrisul e Itaú. Já o Bradesco é a unica exceção e é o nosso top pick pro setor, já que estamos apenas 5% abaixo do consenso. A incorporação do HSBC deve trazer um fluxo de notícias positivo no nível microeconômico, alem de ganhos no curto e médio prazos, perspectiva saudável de crescimento de NII e valuation descontado”, resssaltam os analistas. Assim, apesar das atualizações mais positivas, o Credit ainda não adota postura “bullish” no setor, ainda preferindo Peru e México na América Latina. 

Os analistas destacam seis pontos positivos para o setor: i) o menor custo de capital próprio, que parece ter vindo para ficar; ii) desempenho dos bancos é explicado pelo menor risco-País, que animou os mercados; apesar dos fortes ganhos no ano, o valuation do setor está barato se levar em conta o cenário do final do ano passado; iii) após a euforia com o impeachment, o ERP (prêmio de risco dos ativos) de bancos teve uma forte queda em março, o que foi visto como exagerado e explicou a queda de ações do setor após o impeachment. Assim, agora, o ERP voltou para a média histórica, o que parece mais razoável se comparado com o valuation do Credit para os bancos; iv) os preços dos ativos levando em conta os lucros pré-provisão de perdas parecem mais razoáveis; v) as revisões para baixo nos lucros dos bancos estão “finalmente” acontecendo; vi) o Brasil parece estar perto de sair do fundo do poço, que deve ocorrer em quarto trimestre; as perspectivas são mais positivas com a redução das incertezas políticas e com uma agenda de reformas, o que deve gerar uma estabilização dos índices de inadimplência.

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Por outro lado, há quatro pontos negativos que devem ser monitorados: i) mais revisões para baixo nas estimativas estão por vir e veem o BB com o maior risco de revisão para baixo, enquanto o Bradesco apresenta o menor risco; ii) os retornos sobre o patrimônio líquido devem seguir pressionados nos próximos 18 meses; iii) perspectiva de menor crescimento nas receitas e expectativa por alta das previsões de devedores duvidosos, uma vez que o ciclo de recuperação é longo e iv) potenciais mudanças nas taxações seguem como um grande risco em potencial. 

Sobre a preferência pelo Bradesco no setor, o Credit ressalta que a performance individual das ações dos bancos estão divergindo significativamente este ano, dadas as revisões de lucros, bem como as revisões para os prêmios de risco.

“Acreditamos que será fundamental a seleção de ações este ano e vemos grandes diferenças entre a avaliação do mercado e as nossas expectativas. Por esta razão, nós preferimos os bancos que oferecem melhor combinação de ganhos e menor expectativa de revisões para baixo. Por esta razão, nós revisamos o Bradesco para outperform, Itaú Unibanco e Banrisul em neutro e mantivemos Banco do Brasil e Santander Brasil em uderperform”, destacam os analistas. 

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Confira as revisões feitas pelo Credit Suisse para o setor bancário:

Banco Ticker Recomendação anterior Recomendação atual Preço-alvo anterior Preço-alvo atual Variação (%)  Potencial de valorização*
Itaú Unibanco ITUB4 Underperform Neutra  R$ 25,00  R$ 35,00  +40%  +7,23%
Bradesco BBDC4 Underperform Outperform  R$ 22,00  R$ 33,00  +65%  +21,41%
Banco do Brasil BBAS3 Underperform Underperform  R$ 12,50  R$ 18,00  +44%  -0,28%
Santander Brasil SANB11 Underperform Underperform  R$ 15,00  R$ 18,00  +20%  -4,86%
Banrisul BRSR6 Neutra Neutra  R$ 7,00  R$ 10,50  +50%  +11,23%
Itaúsa ITSA4 Underperform Neutra  R$ 7,50  R$ 8,70  +16%  +10,55%

*em relação ao fechamento da última quarta-feira (13)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.