Bradesco: lucro supera projeções e banco mostra progressos, mas por que BBDC4 caiu?

Ainda que não tenha sido um resultado brilhante, o lucro líquido ficou acima do esperado, mas analistas ainda têm dúvidas sobre recuperação

Lara Rizério

Agência do Bradesco na avenida Paulista, em São Paulo (Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo/AE)

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Não é exagero dizer que os olhos do mercado na temporada de balanços do primeiro trimestre de 2024 (1T24) dos “bancões” estavam voltados principalmente para o Bradesco (BBDC4). Após trimestres bastante difíceis, mudanças na direção e um “plano de virada” que não convenceu o mercado, os resultados divulgados na manhã desta quinta-feira (2) eram bastante esperados para entender os caminhos da instituição financeira em busca de uma recuperação.

Os números trouxeram boas notícias. Ainda que não tenha sido um resultado brilhante, o lucro líquido recorrente ficou acima do esperado a R$ 4,2 bilhões, mesmo tendo queda de 1,6% na comparação anual, apresentando uma alta de 46,3% em relação ao apresentado no 4T23.

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De acordo com o próprio Bradesco, a melhoria trimestral foi fruto da queda das despesas com provisões com inadimplência e dos resultados da Bradesco Seguros. Por outro lado, a margem financeira ainda pressionada impediu uma melhoria mais forte dos números. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) foi de 10,2%, baixa de 0,4 ponto porcentual em um ano, mas uma alta de 3,3 pontos percentuais (p.p.) em um trimestre.

A reação do mercado ao balanço, contudo, começou tímida na sessão desta quinta, para depois as ações amargarem perdas. Os papéis abriram em leve queda, que se intensificou ao longo do dia, ainda que amenizando durante a sessão. As ações BBDC4 chegaram a cair mais de 2% (-2,26%, a R$ 13,68) e fecharam em baixa de 1,14%, a R$ 13,84, isso em um dia de otimismo para o Ibovespa, que subiu 0,95% na sessão.

Mas o que explica esse movimento?

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De um lado, analistas destacaram que a instituição financeira teve uma boa recuperação da rentabilidade. Por outro, houve quem destacasse um crescimento ainda desafiador da receita e outros vários pontos de interrogação para o bancão em sua trajetória de recuperação.

A XP viu os números como fracos e ainda longe do guidance para o ano. O lucro surpreendeu em 11% as suas projeções, mas a margem financeira com clientes permaneceu pressionada devido ao mix de crédito com spreads mais baixos. A carteira de crédito ampliada cresceu tímidos 1,2%, bem abaixo do piso do guidance. A qualidade da carteira de crédito foi o destaque positivo em todos os segmentos. Apesar da baixa sazonalidade no 1T, o índice de inadimplência (NPL) acima de 90 dias caiu 30 pontos-base (bps) no trimestre.

O Goldman Sachs apontou que o lucro ficou 1% abaixo do que esperava, mas foi 9% acima da projeção da Bloomberg. O ROE teve melhora ainda beneficiando de uma baixa taxa efetiva de imposto de 14% no 1T24. “Apesar de ter batido o consenso de mercado em relação aos lucros, ainda observamos tendências suaves no crescimento das receitas, particularmente na margem financeira líquida (NII) de clientes e de mercado, o que exigiria uma aceleração nos próximos trimestres para cumprir o guidance. As provisões foram a principal fonte de surpresa positiva, com a qualidade dos ativos mostrando melhora sequencial e o índice de cobertura [que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes] ficando relativamente estável em 164%”, avalia o Goldman.

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O banco americano destacou antes da abertura do mercado acreditar que as ações reagiriam positivamente aos resultados financeiros acima das projeções, o que não ocorreu, embora ponderasse que as perspectivas de crescimento dos lucros permaneçam um ponto de interrogação.

O lucro, enquanto foi um pouco abaixo do esperado pelo Goldman, ficou 11% além da projeção do JPMorgan, com uma forte recuperação em relação ao 4T23. “Tanto os otimistas (bullish) quanto os pessimistas (bearish) terão coisas a sinalizar mas, dadas às baixas expectativas, tendemos a ter uma primeira visão positiva”, avaliaram os analistas do JPMorgan.

Do lado positivo, apontam os analistas: (i) o EBT (lucro antes de impostos) superou em 20% com provisões inferiores ao esperado, enquanto (ii) o Bradesco está cumprindo seu plano de eficiência, fechando agências, reduzindo número de funcionários e caixas eletrônicos próprios; (iii) a qualidade dos ativos melhorou e (iv) a empresa está reacelerando o crescimento (ou seja, especialmente em empréstimos pessoais, com aumento de 10% em relação ao trimestre anterior) e com o JPMorgan também saudando o aumento do TPV (Volume Total de Pagamentos) dos cartões no trimestre, apesar da sazonalidade.

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No entanto, do lado negativo, o JPMorgan ressalta que o chamado capital de nível 1 (CET1, na sigla em inglês), que é aquele de melhor qualidade, caiu 50 pontos base, enquanto as receitas foram mais fracas.

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O Morgan Stanley, após os resultados, manteve sua recomendação equivalente à compra (exposição acima da média do mercado, ou overweight) para o Bradesco, destacando que o forte crescimento do lucro trimestral e a surpresa positiva em relação às estimativas foram impulsionados por provisões para perdas com empréstimos muito mais baixas – “um importante componente cíclico que argumentamos estar se recuperando no Bradesco”, apontou.

Após a divulgação das primeiras impressões sobre o balanço, o Morgan divulgou outra nota ressaltando três importantes visões negativas em relação ao resultado que estavam rondando o mercado: i) que o Bradesco está perdendo em principalidade, ou seja, não é mais a primeira escolha dos clientes quando precisam de serviços financeiros; ii) está crescendo em segmentos de maior risco, notadamente empréstimos pessoais para pessoas físicas e iii) o lucro superando projeções, segundo algumas análises, foi acima do esperado por conta de queda das provisões.

Porém, sobre o ponto i), os analistas veem que não há uma métrica sobre isso, sendo algo mais “instintivo” do que mostrando dados concretos. Sobre o ponto ii), o Morgan ressalta que os dados não suportam essa visão, uma vez que a carteira de empréstimos para pessoas físicas aumentou 2% na base anual – muito abaixo da inflação. E, mais importante, o impulsionador desse crescimento foram os empréstimos consignados, que aumentaram 5%. Já sobre iii) as provisões diminuíram, mas também porque a inadimplência diminuiu, enquanto o índice de cobertura ficou estável. Assim, os analistas reforçaram a recomendação positiva.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.