Petrobras, BB e Itaú têm pior mês desde crise de 2008; “só” 9 ações do Ibovespa sobem

O mês de setembro foi marcado pelas pesquisas eleitorais demonstrando melhora de Dilma, além da alta do dólar e "novos cenários" para o campo de juros

Paula Barra

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SÃO PAULO – Se agosto foi de muita euforia, setembro viveu dias “tenebrosos” na Bolsa. No período, o principal índice de ações da Bolsa caiu 11,7%, marcando o pior mês desde maio de 2012 e voltando ao patamar de 8 de julho – dia da fatídica derrota de 7 a 1 do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo. Os principais “drivers” do mercado foram as pesquisas eleitorais, que passaram no início do mês a mostrar um fortalecimento de Dilma Rousseff (PT), enquanto Marina Silva (PSB) ia perdendo intenções de votos na disputa à Presidência da República.

A derrocada puxou fortemente as ações das estatais e bancos, que arrancaram na Bolsa de março a agosto, em meio às pesquisas eleitorais que vinham apontavam para uma possibilidade de mudança de governo – o que foi colocado em xeque neste mês. O mau humor afetou também as demais ações do Ibovespa, deixando à salvo apenas 9 ações de 69 do índice, sendo que boa parte dessas se afastaram do quadro negativo pelo perfil exportador. Se a Bolsa foi mal no mês, o dólar disparou – ontem a moeda bateu a máxima em quase 6 anos, se aproximando da marca de R$ 2,48. 

Com as últimas pesquisas apontando para o fortalecimento de Dilma, o mercado começou a trabalhar com a hipótese da continuidade do atual governo, o que puxou o dólar e os juros futuros para cima nos últimos dias. “O investidor já sabe como o mercado deverá reagir com Marina, porém, ainda é uma incógnita como se comportará com Dilma. Apenas, alguns indício são vistos. Acredito que a bolsa deverá cair no mínimo mais 10%, juros futuros em janeiro de 2016 deve se aproximar de 12% e dólar deve permanecer próximo de R$ 2,45 até dezembro deste ano”, disse Raphael Juan, gestor da BBT Asset, fundo com rentabilidade de 8,55% em 2014.

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Em meio à uma mudança de expectativa de cenário, enquanto as exportadoras se beneficiaram da alta do dólar, os papéis das imobiliárias despencaram com uma alta dos juros. 

A ponta negativa reservou espaço para as outras 60 ações do índice, onde figuraram também as ações da Vale (VALE3; VALE5), que sofreram com o preço do minério de ferro renovando mínima em 5 anos, enquanto Usiminas (USIM5) bateu a mínima de julho de 2012 diante de uma série de revisões para baixo nas recomendações dos bancos para o papel da siderúrgica.

Veja esses e outros destaques do mês de setembro:

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“Kit eleições”: estatais, bancos, Cosan e São Martinho
As ações das estatais desabaram neste mês em meio às pesquisas eleitorais, que desde o início de setembro passaram a sinalizar uma melhora de Dilma Rousseff (PT) nas intenções de voto. Vale mencionar que o mercado reage de forma negativa à melhora de Dilma, uma vez que ainda é uma incógnita como a atual presidente se comportará. 

No mês, os papéis da Petrobras (PETR3, R$ 17,25, -22,09%; PETR4, R$ 18,09, -22,53%), Eletrobras (ELET3, R$ 6,56, -19,51%; ELET6, R$ 10,10, -18,22%) e BB (BBAS3, R$ 25,30, -27,03%), Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 33,87, -16,05%) e Bradesco (BBDC3, R$ 35,00, -12,50%; BBDC4, R$ 34,84, -14,65%) figuraram entre as maiores quedas do índice. Do dia 2 de setembro – quando o Ibovespa começou a reverter a tendência de alta – até hoje, essas empresas perderam R$ 162 bilhões na Bolsa

Setembro foi o pior mês de Petrobras, BB e Itaú Unibanco desde outubro de 2008 – época da crise do subprime -; Bradesco PN desde junho de 2013; e Eletrobras PN desde novembro de 2012. Com esse desempenho, todos esses papéis, com exceção da Eletrobras, voltaram ao patamar de julho deste ano – antes da entrada de Marina Silva na disputa eleitoral. 

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Assim como as estatais e bancos, as ações do “Kit Marina” – Cosan (CSAN3, R$ 39,34, -15,40%) e São Martinho (SMTO3, R$ 39,30, -13,42%) -, empresas que começaram a subir muito forte desde que Marina Silva entrou na disputa eleitoral – começaram a desabar com o fortalecimento de Dilma Rousseff nas pesquisas.

Cemig (CMIG4, R$ 14,99, -21,76%)
Também no radar político as ações da Cemig caíram forte na Bolsa durante o mês após entrevista ao Valor indicar que 
o candidato do PT ao governo de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que lidera as pesquisas de intenção de voto, deve fazer diversas mudanças na gestão da Cemig. Em entrevista ao ValorPro, serviço de informações em tempo real, o coordenador-geral do programa de governo, Marco Aurélio Crocco, disse que entre as intenções de um futuro governo do PT no estado está a redução da tarifa de energia elétrica e de uma Cemig menos voltada ao mercado. Em fato relevante, a própria companhia confirmou que as ações estão sofrendo com o fato.

“Hoje a Cemig se orienta mais por mecanismos de mercado do que necessariamente para atender às necessidades do Estado de Minas Gerais. A empresa caiu na qualidade do atendimento. Esse comportamento é que temos que mudar. Ela não pode ser uma companhia que vise somente garantir lucros elevados para garantir distribuição de dividendos para os seus acionistas. Ela é uma empresa pública”, afirmou Crocco ao ValorPro.

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Vale mencionar que na última pesquisa eleitoral (Vox Brasil/PRB) para o governo de Minas Gerais, divulgada nesta terça-feira, Fernando Pimentel lidera as intenções de voto com 41%, aumentando sua diferença para o segundo colocado, Pimenta da Veiga (PSDB) para 22 pontos percentuais.

Imobiliárias 
As ações do setor seguiram entre as maiores quedas do Ibovespa neste mês, com destaque para os papéis da PDG Realty (PDGR3, R$ 1,10, -26,17%), Rossi (RSID3, R$ 1,08, -23,94%), Even (EVEN3, R$ 5,45, -19,50%) e Gafisa (GFSA3, R$ 2,96 -12,17%). As empresas são penalizadas pela alta dos contratos de juros futuros nos últimos dias. 

Em relatório, os analistas da Guide Investimentos dizem que: “Os movimentos que vimos na segunda-feira nos mercados devem continuar, já que o quadro eleitoral deve se manter, os dados de confiança seguem piorando e as contas fiscais de agosto devem mostrar números muito fracos do governo central e do setor público consolidado. Em suma, números ruins e a percepção de que mudanças à frente serão mais improváveis tendem a manter a bolsa em baixa e o dólar em alta. A percepção de risco caminharia junto e os juros futuros tendem a continuar pressionados para cima”.

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Vale (VALE3, R$ 26,85, -7,80%; VALE5, R$ 23,78, -8,43%)
As ações da Vale fecharam este mês em queda, mesmo que mais tímida que, por exemplo, as perdas das estatais e dos bancos. Neste mês as ações da companhia sofreram novamente com o preço do minério de ferro – principal produto da Vale -, que voltou a cair e renovou as mínimas de mais de 5 anos, enquanto o PMI da indústria chinesa ficou abaixo do esperado ao recuar de 50,5 para 50,2 – a expectativa era de estabilidade no crescimento em 50,5. Vale lembrar que o PMI marca aceleração da atividade acima de 50 e contração abaixo do limiar.

Ainda no radar de notícias da mineradora, destaque também para a proposta de dividendos, anunciadas ontem, no valor de US$ 2,1 bilhões, ou US$ 0,407499 por ação – levando como base a cotação atual do dólar (R$ 2,46), o dividendo chega a pouco mais de R$ 1,00 por cada papel. A proposta será votada pelo Conselho de Administração em 16 de outubro e, se aprovada, será paga aos acionistas dia 31 do mesmo mês.

Usiminas (USIM5, R$ 6,37, -21,16%)
Em um mês muito negativo, as ações da Usiminas chegaram a voltar nesta sessão para sua mínima desde julho de 2012. A companhia está sofrendo após recortes de recomendação tanto do BTG Pactual, quanto do Santander.

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O relatório do BTG Pactual reduziu sua recomendação e preço-alvo para as ações preferenciais da companhia, depois que o Conselho de Administração da maior produtora de aços planos do Brasil demitiu o presidente-executivo e mais dois altos executivos na sexta-feira. A recomendação do BTG Pactual para as ações da siderúrgica passou a “neutra” e o preço-alvo foi cortado em cerca de 24%, de R$ 10,50 para R$ 8,00. “A recente demissão de três importantes executivos da Usiminas, incluindo o presidente-executivo (Julián Eguren), nos surpreendeu e adicionou incerteza significativa sobre a situação”, escreveram analistas do BTG Pactual em relatório.

O relatório do Santander cortou a recomendação de compra para underperform (desempenho abaixo da média). Segundo os analistas, as ações continuam pressionadas até que a companhia ofereça mais detalhes sobre sua estratégia de negócio, assim como sobre a disputa no bloco de controle da companhia, que provocou na semana passada a destituição do presidente da siderúrgica e mais dois diretores. Ontem, a Justiça em Minas Gerais negou o pedido da Ternium, subsidiária da Techint, para tornar sem efeito as deciões da reunião do conselho. Procurada pelo InfoMoney, a companhia disse que não comenta o assunto, mas informou que vai recorrer.

Exportadoras
As ações do setor de papel e celulose Fibria (FIBR3, R$ 26,84, +15,29%) e Suzano (SUZB5, R$ 9,84, +10,44%) estão entre as principais beneficiadas pela alta do dólar, já que as receitas dessas companhias são atreladas à moeda, pois as companhias possuem perfil exportador. O dólar chegou a bater sua máxima desde 2008, cotado a R$ 2,47, na última segunda-feira.

Além disso, semana passada a Standard & Poor’s revisou a perspectiva dos ratings da Suzano de negativa para estável. Segundo a agência de classificação de risco, as medidas refletem o bem sucedido início da nova fábrica de celulose no Maranhão, inaugurada no final de 2013 e com capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas por ano, o que está em linha com as expectativas da agência.

Ainda vale mencionar a Braskem (BRKM5, R$ 16,20, +6,23%), que também tem sua receita atrelada ao dólar.

Gol (GOLL4, R$ 11,70, -15,65%)
Se o dólar beneficiou as ações das companhias que possuem perfil exportador, a Gol foi uma das principais companhias a serem penalizadas com esta alta. Isto se deve graças ao fato de que metade dos custos da companhia são em dólar – o principal gasto da empresa é com combustível, sendo que o petróleo é precificado na moeda norte-americana. 

ALL (ALLL3, R$ 6,36, -22,91%)
Entre as maiores quedas do Ibovespa neste mês, a ALL sofreu na Bolsa após suas ações chegarem a atingir seu menor patamar desde março deste ano, na semana passada. Segundo agentes do mercado, essa queda nos últimos dias pode estar relacionado a fluxo de investidores depois do fato relevante sobre a cisão com a empresa com a Cosan. Esses investidores não queriam ficar posicionados com um ativo de logística e, por isso, venderam vendido ações da ALL para se “proteger” da posição. Especialistas apontam ainda que o case da empresa é muito difícil, tendo em vista que é muito atraleado à commodity e a empresa é operacionalmente bastante alavancada. 

Telefonia
As ações da Oi (OIBR4, R$ 1,74, +20,0%) fecharam o mês como as ganhadores do Ibovespa, após período de noticiário agitado entre ela e a TIM (TIMP3, R$12,89, +2,71%), que também fechou o mês entre os ganhos, junto com a Telefônica Brasil (VIVT4, R$ 48,40, +1,73%). O Conselho de Administração da Oi autorizou a venda das participações da companhia na Africatel Holdings, representativas de 75% do capital da Africatel, e/ou seus ativos, informou a operadora de telecomunicações no fim da terça-feira.

Segundo informações da coluna Radar, da Veja, a Oi vai usar o dinheiro da venda da participação para pagar dívidas e ajudar na tentativa de comprar uma fatia na TIM. O Valor publicou que a Oi estaria disposta a negociar venda ou fusão com a TIM.

A Telecom Italia afirmou à sua controlada brasileira TIM Participações que não há nenhuma discussão em curso para uma oferta de compra da rival Oi, informou a TIM na quarta-feira.

Santander (SANB11, R$ 15,83, +2,39%)
As units do Santander foram beneficiadas durante todo este mês após ser confirmado que o leilão de Oferta Voluntária de Ações do Santander irá ocorrer em 30 de outubro. Como terá um acionista que pagará um preço fixado pelos papéis, o banco acaba ficando imune à volatilidade dentro do mercado.

Em abril deste ano o banco anunciou que sua matriz na Espanha iria lançar uma oferta voluntária de aquisição de units no Brasil e nos Estados Unidos envolvendo até a totalidade dos papéis que ainda não detém. Com a oferta, o maior banco estrangeiro no Brasil deixará o nível 2 de governança corporativa da BM&FBovespa, passando a ser listado no segmento tradicional da bolsa brasileira.

Mundo X 
As companhias de Eike Batista têm vivido momento de muito pessimismo na Bolsa, com as ações registrando quedas da companhia após toda “confusão” com o empresário, que teve parte dos seus bens bloqueados ao longo de setembro. Vale mencionar que os papéis da OSX (OSXB3, R$ 0,25, -44,44%) estão entre as maiores quedas da Bolsa para este mês. Além delas, vale comentar que as outras companhias “x”, também fecharam a semana no vermelho: MMX (MMXM3, R$ 0,57, -30,49%), Eneva (ENEV3, R$ 0,70, -42,15%) e CCX (CCXC3, R$ 0,38, -43,28%).

Neste mês, a CVM estendeu o prazo para Eike apresentar sua defesa em processo da OGX e o Ministério Público Federal denunciou o empresário de induzir os investidores a erro. O empresário e mais mais sete ex-diretores da OGX Petróleo são acusados de induzir milhares de investidores a erro ao anunciarem informações inverídicas sobre o potencial da empresa. O prejuízo estimado aos investidores passa de R$ 14,4 bilhões. Da abertura de capital, em junho de 2008, até agora, as ações da empresa desabaram mais de 98%. Se condenado, Eike Batista pode ser obrigado a cumprir de quatro a quatorze anos de prisão. A denúncia foi protocolada ontem pelo MPF-SP na Justiça Federal.

Para a OSX, contribui para a queda a notícia de hoje, de que a Justiça determinou ontem pelo arresto de dois navios-plataformas da OSX Leasing, subsidiária estrangeira da companhia de construção naval OSX Brasil. A decisão ocorre após pedido da empreiteira Acciona, que tem a receber R$ 300 milhões do grupo. Já para a CCX, vale mencionar que hoje era o último dia para a venda de ativos para a Yildirim por um valor 72% abaixo do previsto em memorando, mas logo em meados deste mês já havia a sinalização de que o negócio não iria acontecer.