O futuro da Eternit após a morte do presidente Élio Martins

Redução de custos administrativos é um pleito antigo de alguns acionistas relevantes da empresa - e pode agora entrar na pauta

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Élio Martins obteve grande êxito à frente da Eternit (ETER3) – tendo reestruturado a companhia com sucesso depois de sua maior crise, no início da década de 2000. O executivo transformou a empresa, famosa pelo uso de uma matéria-prima controversa, o amianto, em uma das maiores produtoras de materiais de construção da América Latina.

Élio morreu no dia 20 de outubro, vítima de um infarto agudo do miocárdio em Goiânia, onde foi enterrado. A empresa para a qual dedicou 38 anos de sua vida, porém, continuará em pé. E deverá, em breve, começar um processo para decidir seu presidente definitivo, depois de 13 anos com Martins no cargo. No momento, Nelson Pazikas, diretor financeiro da companhia, assume, como manda o estatuto.

O “preço” da eficiência
O executivo soube erguer a companhia após o término da parceria com a Saint-Gobain, dona da marca Brasilit. E tinha planos para o futuro próximo da empresa, sobretudo para o que será da empresa caso o amianto seja banido do País. Seu estilo e planos, porém, estavam sendo questionados recentemente – o que pode fazer com que a empresa tome um outro caminho nos próximos meses.

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Por sua proximidade com Lírio Parisotto – um dos principais acionistas pessoa física da empresa, com 15,25% de participação -, Élio era na prática “o controlador” da Eternit: pode-se dizer que muito das qualidades da empresa eram de sua autoria e que cada vez mais sua filosofia estava sendo implantada na empresa. Contudo, os princípios do ex-presidente estavam gerando alguns desgastes entre os acionistas que desejavam uma empresa mais eficiente em termos de custos, segundo um acionista que participa ativamente da gestão da empresa e que pediu para não ser identificado.

Élio sempre se esforçou para transformar a Eternit e a subsidiária SAMA (que detém a mina de amianto) em ótimos lugares para trabalhar – e conseguiu. Alguns acionistas, porém, acham que o custo disso é muito alto: a Eternit gasta R$ 120 milhões por ano com despesas administrativas, mais até do que o lucro no ano passado, que foi de R$ 113 milhões. Empresas de porte similar gastam cerca de R$ 60 a R$ 80 milhões.

Os salários dos diretores estão acima da média do mercado, o que ajudou Élio a reter seus melhores talentos – mas tornou-se custoso. Esse pode ser o primeiro ponto a ser alterado pelos acionistas da empresa, que podem ter mais voz na companhia com a morte do executivo. Mas também podem perder o ponto de equilíbrio do conselho, o que poderia ocasionar em mais brigas entre os principais acionistas.

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“Do chão ao teto”?
Uma das questões que entrará em discussão deverá ser o projeto atual da Eternit, de diversificar a sua linha de produtos e se expor menos ao amianto – cuja legalidade do uso está sendo questionada no STF (Supremo Tribunal Federal). A visão de alguns dos acionistas é que muitos projetos de Élio, como a compra da Tégula em 2010, foram feitos apenas para “garantir a continuidade da empresa caso o amianto fosse banido”. 

Ao adquirir a empresa que fabrica telhas de concreto, a Eternit gastou R$ 35 milhões, e até hoje esse segmento não dá um retorno relevante para a empresa. Há uma discussão a respeito desse dinheiro, se o mais interessante teria sido distribuir essa quantia em dividendos – e deixar os acionistas fazerem o que queriam com ele. 

Mas Élio achava bom garantir que a empresa continuasse funcionando mesmo com o banimento do amianto. Não que a diversificação planejada por ele será interrompida. O mais provável é que os projetos sejam discutidos com maior ênfase financeira no conselho de administração da companhia – e que os projetos de diversificação mais rentáveis continuem a ser aprovados.

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Dividendos mantidos
Uma coisa é clara para a companhia e deverá continuar, a sua política de dividendos – chamada informalmente de “crescidendo” e “dividendo fixo” pela direção da empresa. Se os acionistas minoritários aumentarem sua influência na companhia, é improvável que haja mudanças drásticas na política de dividendos, que é de pagar R$ 0,20 a cada trimestre.

E caso a empresa realmente foque em resultados financeiros de agora em diante, pode ser que os proventos sejam elevados após a morte de Élio. Esse, inclusive, é um pedido constante nas assembleias entre acionistas, que concentra três dos maiores investidores pessoas físicas do Brasil, todos voltados para dividendos: Lírio Parisotto – com 15,25% -, Luiz Barsi, detentor de 13,56% da empresa e Victor Adler, que tem 6,70% da Eternit.