Com balanços desastrosos no 1º trimestre, imobiliárias sentem o impacto na bolsa

Resultados das principais empresas do setor ficaram aquém do esperado e ações despencaram por conta desses números

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Praticamente terminada, a temporada de resultados referentes ao 1º trimestre de 2012 mostrou a fraqueza dos ativos do setor imobiliário, cujas ações dominam a ponta negativa do Ibovespa nos últimos 30 dias – e por comporem 9,80% do índice, colaboram para derrubar o desempenho do principal benchmark do mercado acionário nacional.

Neste cenário, empresas como PDG Realty (PDGR3), MRV Engenharia (MRVE3) e Brookfield (BISA3) mostraram números piores que os do ano passado – ancorados na desaceleração da economia nacional. Outras empresas, como a Gafisa (GFSA3) e Cyrela (CYRE3), tiveram melhora marginal em seus números, mas veem suas ações pressionadas pelo cenário pessimista para o setor imobiliário, que costuma mostrar grande correlação entre seus componentes.

Na avaliação dos analistas do Barclays, problemas estruturais prejudicam o desempenho das construtoras no Brasil – deseconomias em larga escala, produtividade decrescente, entre outros fatores que só deverão ser revertidos em 2013. Confira os resultados das principais imobiliárias:

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Resultado das Imobiliárias
PDG Realty
MRV Engenharia
Brookfield
Gafisa
Rossi Residencial
Cyrela
Even

PDG Realty (PDGR3, R$ 3,65, -36,31% em 2012)
Após divulgar queda de 79% no lucro líquido entre janeiro e março na segunda-feira (14), a principal imobiliária brasileira deu a tônica para o desempenho do setor. O lucro teve queda de quase R$ 200 milhões entre um ano e outro, atingindo R$ 49,8 milhões, enquanto a receita recuou 2% para R$ 1,476 bilhão. Por sua vez, o Ebitda (geração de caixa operacional) foi de R$ 221,6 milhões, um recuo de 38% na mesma base comparativa. Desta forma, a margem Ebitda (Ebitda/Receita Líquida) ajustada foi de 15%, 8,8 pontos percentuais inferior. De acordo com o presidente da companhia, a expectativa é que as margens líquidas avancem no próximo ano.

 A queda no pregão pós-resultado, dia 15 de maio, foi de 9,83%, terminando a R$ 3,67, praticamente seu patamar atual. Contabilizando com a queda também da quarta-feira, os papéis PDGR3 apresentam forte recuo de 40,65% no segundo trimestre do ano. As ações da empresa já apresentavam forte recuo antes do balanço, já que vivia grande stress após a saída de dois diretores, Michel Wurman, antigo diretor vice-presidente e de relações com investidores e Frederico Marinho Carneiro da Cunha, ex-diretor de investimentos e planejamento gerencia. A companhia afirmou pretender trocar de presidente no segundo semestre.


MRV Engenharia (MRVE3, R$ 9,65, -9,81% em 2012)
Embora a queda do lucro, de “apenas” 23,9%, não tenha sido tão grande quanto de outras imobiliárias, a MRV foi a que apresentou pior desempenho no pregão seguinte à divulgação, também no dia 14 – recuando 15,04% no dia 15 de maio. O resultado da companhia chamou a atenção pela forte queda da margem Ebitda em 6,1 p.p., atingindo os 19%, enquanto o Ebitda caiu 33,4%. “O resultado da MRV ficou abaixo das nossas expectativas e do mercado”, avaliaram os analistas Leonardo Zanfelício e Karina Freitas, da Concórdia. Mesmo assim, permaneceu acima de todas as outras imobiliárias no universo de cobertura da corretora.

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Ao explicar a situação, Rubens Menin, diretor-presidente da companhia, destacou que os primeiros meses do ano foram marcados por efeitos sazonais como o menor número de dias úteis, férias de verão, carnaval e período de chuvas. A perspectiva continua positiva para a empresa, que já viu suas ações recuarem 24,79% em abril e maio.

“Esperamos que a companhia volte a registrar resultados melhores nos próximos trimestres, e que a demanda por imóveis elegíveis no programa Minha Casa Minha Vida sofra menos com os impactos negativos da desaceleração da economia no País”, afirmam os analistas da Concórdia.


Brookfield (BISA3, R$ 3,85, -19,22% em 2012)
Uma sessão antes da MRV recuar 15,04%, BISA3, ações da Brookfield, despencaram 14,87%. Os resultados da companhia mostraram um cenário ainda pior do que a construtora mineira: o lucro caiu 94% e o Ebitda recuou 46% quando comparados com o mesmo período de 2011. Os números da companhia desapontaram até a própria direção, que destacou estar revendo custos.  

“A companhia apresentou números muito abaixos do esperado, surpreendendo negativamente com estourous de orçamento de obras”, afirmou a Ativa Corretora. Além disso, o endividamento da companhia cresceu no trimestre e o número de lançamentos foi 18,5% menor do que entre janeiro e março de 2011. Com isso, os papéis da incorporadora recuam 31,37% somente no segundo trimestre de 2012.


Gafisa (GFSA3, R$ 3,22, -21,84% em 2012)
Depois de registrar um prejuízo líquido de R$ 1 bilhão entre outubro e dezembro de 2011, a Gafisa era a construtora em destaque nesta temporada de resultados. Os números da companhia mostraram melhora significativa, e a empresa conseguiu reduzir seu prejuízo para “apenas” R$ 31,51 milhões, com forte crescimento do Ebitda e da margem Ebitda. Isso permitiu que as ações da empresa, GFSA3, respirassem um pouco no pregão pós-resultado, subindo 0,26%.

Contudo, isso foi apenas um momento de calmaria dentro de uma tempestade feroz: desde o fim de março, as ações já recuaram 25,12%. Assim, terminaram a última quarta-feira no seu menor fechamento histórico, abaixo até do que havia sido visto no auge da crise de 2008. “O resultado da Gafisa é marginalmente positivo e chamamos atenção para seus papéis, que podem estar se preparando para um processo de retomada”, afirma a XP Investimentos. 

Essa retomada, porém, pode vir a ocorrer apenas em 2013, embora a companhia acredite na possibilidade da recuperação gradual de margens operacionais em 2012


Rossi (RSID3, R$ 5,79, -24,85% em 2012)
A queda no lucro de 43,8%, levando-o para R$ 43,8 milhões, foi apenas mais um evento negativo na companhia, que uma semana antes da divulgação do balanço, no dia 14 de maio, já havia liderado as perdas do Ibovespa. O mercado, porém, não poupou os papéis RSID3 no pregão pós-resultados: a queda foi 7,88%, no mesmo pregão em que PDG e MRV também viam seu valor de mercado cair forte.

A empresa é uma das construtoras que mais sofrem no segundo trimestre, com recuo de 38,99% em seus papéis. Além disso, as ações da empresa sofrem com a retirada do índice MSCI (Morgan Stanley Capital International), importante balizador de tomada de decisão de muitos investidores estrangeiros, bastante significativos para a bolsa brasileira. O endividamento da companhia é um datores de preocupação, entre o primeiro trimestre de 2011 e 2012, ela cresceu 66,8%, enquanto o crescimento do Ebitda foi de apenas 11,1%.


Cyrela (CYRE3, R$ 14,38, -1,29% em 2012)
Uma das construtoras componentes do Ibovespa, porém, destoou-se da média: foi o caso da Cyrela, cujo resultado mostrou um avanço de 58,9% no lucro durante o primeiro trimestre, atingindo os R$ 118 milhões. Contudo, no pregão pós-divulgação, as ações da companhia recuaram 0,84%, impulsionadas pelo desempenho setorial naquela mesma sessão – o fatídico dia 15 de maio. 

No trimestre, porém, sua história junta-se a demais, embora de forma mais suave: queda de 9,27% frente o último pregão de abril. O resultado dá pistas da razão. “O resultado da Cyrela foi positivo, principalmente pela recuperação da rentabilidade dos projetos e a manutenção da dívida líquida, que trazem uma perspectiva favorável para o desempenho da empresa no curto e no médio prazos”, afirma Wesley Bernabé, analista do setor imobiliário do BB Investimentos.


Even (EVEN3, R$ 6,69, +11,70% em 2012)
Entre as imobiliárias cujos papéis não fazem parte do Ibovespa, a tendência não foi muito diferente. A Even registrou lucro 10% menor no primeiro trimestre do ano, atingindo R$ 54,364 milhões entre janeiro e março de 2011. Por sua vez, o Ebitda cresceu 19%, atingindo 101,833 milhões. Além disso, a companhia teve crescimento de 28,2% na sua dívida, que chegou aos R$ 885,1 milhões.

Nesse cenário, a XP Investimentos considerou a companhia como um “porto seguro” dentre as imobiliárias, considerando marginal a possibilidade de estouro de obras relevantes, como ocorreu com boa parte das empresas do setor. Isso é fruto da sua política interna – a empresa é responsável por 95% de suas construções, o que a permite constrolar os custos com maior facilidade. A empresa registrou alta de 0,13% no pregão pós divulgação e acumula queda de apenas 1,62% no segundo trimestre.