“Estrela” do Ibovespa em 2017 cai forte após balanço: o brilho se apagou ou é oportunidade de compra?

Após o resultado do segundo trimestre, Itaú BBA reduziu a recomendação das ações da Qualicorp destacando que os papéis já estão precificados - por outro lado, BTG, Credit e BofA seguem otimistas com a ação
Por  Lara Rizério
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SÃO PAULO – Os resultados não foram tão impressionantes quanto os registrados no primeiro trimestre de 2017 e as ações chegaram a cair 4,45% na mínima desta terça-feira (15). Mesmo assim, os números da Qualicorp (QUAL3) impressionam. A maior alta do Ibovespa no ano, com alta de 86% no acumulado do ano, registrou um balanço forte no segundo trimestre de 2017 – mas ainda há dúvidas sobre até onde ela pode ir na Bolsa. 

Primeiro, vamos aos números divulgados na noite de segunda-feira. A administradora de benefícios viu o seu lucro líquido registrar leve alta de 1,4% no segundo trimestre, totalizando R$ 70,6 milhões. Já o Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização, na sigla em inglês) foi a R$ 236,4 milhões, alta de 23% sobre um ano antes, enquanto a margem Ebitda (Ebitda/receita líquida) subiu 5,45 pontos percentuais, para 46,1%.

E, se de um lado, a base de beneficiários atendidos pela Qualicorp passou de 4,67 milhões em junho de 2016 para 4,52 milhões em março e com nova queda para 4,45 milhões no fim de junho deste ano, os custos caíram. De acordo com a companhia, os custos dos seus serviços prestados somaram R$ 122,5 milhões no segundo trimestre, queda de 1% na base de comparação anual, refletindo a queda de 9,9% nos gastos com pessoal, entre outros fatores. 

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Conforme destacou o analista Rodrigo Gastim, do BTG Pactual, o resultado forte mostrou recorrência no ganho dos níveis de eficiência que foram observados no primeiro trimestre. Ele aponta que a queda de 11% nas despesas de venda ajudou mas, dada a sua natureza mais variável (correlacionada com as vendas mais fracas), o crédito maior recai sobre a baixa de 1% dos custos e de 12% nas despesas gerais e administrativas. Já o Ebitda veio 7% acima do esperado pelo BTG, com uma margem recorde de 44%. 

“Os resultados do segundo trimestre da Qualicorp não foram tão expressivos quando os do primeiro trimestre, quando a empresa mandou ‘ondas de choque’ para o mercado. Tendo elevado as margens no início do ano, o consenso estávamos esperando mais uma alta substancial na rentabilidade operacional no segundo trimestre”, destaca o Credit Suisse em relatório. 

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Os analistas do banco, Tobias Stingelin e Leandro Bastos, ainda fizeram algumas ponderações sobre o balanço. Eles ressaltam que a menor retenção de clientes (queda de 3.900 clientes no portfólio de afinidades), em um momento no qual a economia começa a dar alguns sinais de melhora não é encorajadora. “O avanço das receitas continua sendo guiado pelos aumentos de preços. Não gostamos dessa dinâmica e continuamos acreditando que eles não mudarão no curto prazo”, afirma. 

Por outro lado, assim como o BTG, eles ressaltam a forte melhora nas despesas (com destaque para as operacionais) e acreditam que pode haver uma evolução maior neste quesito. Além disso, justamente por avaliarem que a atividade econômica está melhorando lentamente, os analistas esperam que o portfólio da empresa possa se beneficiar de cancelamentos mais modestos a partir de 2018 em diante e também da diminuição das perdas com devedores duvidosos.  

Números bons, mas por que a queda?

Os analistas viram os números como positivos, mas o que levou à forte queda das ações hoje nesta sessão? Conforme apontaram os analistas do Bank of America Merrill Lynch, a empresa relatou um resultado operacional ligeiramente melhor, mas acompanhado de evidências de um ambiente de negócios desafiador. “O rali das ações foi uma indicação de altas expectativas no segundo trimestre e os números poderiam frustrar”, apontam os analistas Roberto Otero e Gustavo Holzheim. 

Aliás, após o resultado, o Itaú BBA reduziu a recomendação para as ações de outperform (desempenho acima da média do mercado) para marketperform (desempenho em linha com a média do mercado), rolando o preço-alvo de R$ 29,50 em 2017 para R$ 32 em 2018. Os analistas elogiaram o balanço, destacando que “os resultados do segundo trimestre da empresa mostraram tendências semelhantes às do primeiro trimestre, com expansão robusta da margem Ebitda, impulsionada pela racionalização de custos e despesas e compensando um cenário de receita mais estável causada por uma base de adesão em declínio”. Por outro lado, os analistas apontaram que, no atual patamar, as ações já parecem terem precificado às boas notícias. 

Contudo, outras casas de análise seguem bastante otimistas com a ação, caso do BofA, que segue vendo as ações da Qualicorp como uma oportunidade particularmente atrativa dentro do universo do setor. Os analistas do banco mantêm recomendação de compra para as ações com a perspectiva de forte crescimento dos ganhos e rolaram o preço-alvo para os ativos de R$ 35 em 2017 para R$ 40 em meados de 2018. Na mesma linha, o Credit Suisse manteve a recomendação outperform e elevou o preço-alvo em 40%, de R$ 30 para R$ 42, após revisarem os números para incorporar as premissas de maiores margens.

“O valuation não é uma pechincha após o forte rali desse ano, mas ainda há mais por vir”, apontam os analistas do BTG, que mantêm recomendação de compra para os ativos. Eles ressaltam que sempre argumentaram que a estrutura de despesas gerais e administrativas parecia muito inflada à luz dos negócios da companhia – assim, a queda nesse item finalmente começa a se materializar (e, na visão deles, ainda há mais evoluções no radar).  “Enquanto o rali de cerca de 80% das ações nos últimos 6 meses já parece
incorporar parte das melhorias (o que claramente também desencadeou uma reclassificação dos ativos), acreditamos que a resiliência dos negócios em tempos difíceis, as revisões para cima e o bom momentum devem seguir dando suporte à ação”, conclui o banco.

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Talvez em meio a essas divergências sobre o futuro das ações, os papéis QUAL3 abriram em forte queda, mas amenizaram as perdas durante a sessão, registrando baixa de cerca de 2% no começo da tarde, mas fechando em queda de 3,41%, a R$ 34,53. Assim, após os números revelados e bastante atentos após o forte rali, os analistas voltam seus olhos sobre o que esperar para o futuro da companhia na Bolsa. E, por enquanto, a maior parte deles segue otimista com a ação com melhor desempenho do Ibovespa no ano. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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