Título de inflação com taxa alta é sempre mais rentável que pós ou prefixados? “Pegadinha” exige atenção

Juros de CDBs atrelados ao IPCA subiram recentemente, mas movimento reflete mudança nas expectativas para inflação - e não necessariamente ganhos maiores

Leonardo Guimarães

Getty Images

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Ao pensar em investir em títulos públicos ou de renda fixa privada, você começa a pesquisar por títulos de inflação e percebe que as taxas estão muito atrativas. Tem CDB (Certificado de Depósito Bancário) pagando juro real de 8% ao ano e Tesouro IPCA+ com rentabilidade anual de 5,2%, fora a variação do IPCA. Isso indica que trata-se dos melhores investimentos disponíveis, certo?

Não necessariamente.

Recentemente, as taxas dos CDBs atrelados à inflação chamaram atenção ao subirem enquanto a rentabilidade de títulos prefixados e atrelados ao CDI caía. Ao observar esse movimento, o investidor pode pensar que investir nos títulos de inflação é um caminho óbvio, mas há uma “pegadinha” aí.

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Luis Barone, sócio e gestor da Galapagos Capital, explicou que “o investidor pode ver uma taxa de IPCA mais 7,5% ao ano, mas não significa que é melhor do que comprar a uma taxa de 5%, só está a 7,5% porque a inflação será pequena”. Por vezes, um título prefixado ou outro, atrelado ao CDI ou à Selic, podem ser mais rentáveis.

Onde está a “pegadinha”?

Um título atrelado à inflação sempre pagará ao investidor a variação do IPCA no período da aplicação somada a uma taxa prefixada contratada no momento do investimento. Por mais que o papel não seja atrelado diretamente à taxa básica de juros, a Selic é a referência para o cálculo da remuneração. Afinal, o banco, a União ou uma empresa que emite debêntures quer, sim, levantar recursos no mercado – mas não quer pagar mais que o necessário pela operação.

A grosso modo, o que se espera da remuneração total de um título atrelado à inflação é que ela fique próxima da taxa de juros. Mas também é importante saber que não dá para prever com exatidão o cenário até o vencimento do título – ainda mais no Brasil. Então, os cálculos consideram as expectativas para juros e inflação.

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Por exemplo: um banco vai emitir um CDB atrelado à inflação que vence em 12 meses. Nesse cenário hipotético, a expectativa é de que os juros básicos nesse período fiquem estáveis em 10% ao ano, enquanto a inflação avance 5%. Ao emitir o CDB, a instituição pode oferecer uma remuneração de 5,5% mais a variação do IPCA.

No vencimento do papel, se as previsões se confirmarem, o banco pagaria 10,5% de juros ao investidor que comprou o papel, patamar um pouco mais elevado que a taxa de juros para compensar o risco que o comprador correu. Assim, mesmo atrelada à inflação, a remuneração ficou próxima da referência de juros.

É por isso que Barone fala em uma compensação: se, no exemplo acima, a inflação esperada fosse menor, de 2% em 12 meses, o banco aumentaria a parte prefixada da remuneração, para que o retorno total se aproximasse da taxa de juro básica no período.

Como funciona na vida real

De volta aos cenários reais, Marina Renosto head de alocação da Blackbird Investimentos, lembra do caso do Tesouro IPCA+ 2022, um título público que chegou a ser negociado no mercado secundário com taxa de 15% ao ano, mais a inflação, poucos dias antes de vencer, em agosto do ano passado.

“Havia projeção de deflação por conta dos cortes de impostos de combustíveis e alguns investidores, dependendo de quando compraram, tiveram rentabilidade abaixo do CDI”, diz a especialista. “Em tempos de queda nas projeções de inflação, as taxas aumentam”, arremata Alexandre Yamamoto, analista de renda fixa da Levante Investimentos.

Esse tipo de “pegadinha” acontece principalmente nos títulos de curto prazo. Afinal, eles estão mais sensíveis aos fatores que vão impactar a inflação imediatamente, como o corte de impostos no ano passado.

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Inflação implícita a favor do investidor

A boa notícia para o investidor é que, entendendo como a remuneração é calculada, é possível fazer apostas conscientes e saber se é melhor investir em títulos de inflação, prefixados ou pós-fixados. E para isso, conhecer o conceito de inflação implícita também é ajuda.

A ideia é simples: a diferença entre a taxa de juros esperada e a parte prefixada da remuneração do título é a inflação implícita. Ao fazer essa conta, é possível conhecer a inflação esperada para o prazo da aplicação. O conceito tem esse nome porque essa expectativa não é exposta no momento da compra do papel, e, sim, deduzida.

E como o investidor pode se beneficiar usando o conceito de inflação implícita? Marina responde:

Caso o investidor tenha uma projeção de inflação mais baixa que a inflação implícita, pode ser interessante apostar num prefixado

Marina Renosto, head de alocação da Blackbird Investimentos

Nesse caso, o investidor ‘trava’ a rentabilidade e, com uma inflação menor, consegue um ganho real maior na comparação com um título de inflação.

No cenário contrário, quando o investidor espera uma inflação real maior que a implícita no papel, vale a pena ficar no título atrelado à inflação para proteger seu dinheiro e ainda garantir rentabilidade real.

Portanto, altas taxas em títulos de inflação não significam, necessariamente, que aquele é o melhor negócio disponível. O contexto e a leitura que o investidor faz são importantes na hora de decidir onde apostar.

A especialista da Blackbird faz um último alerta: “É sempre importante ser cauteloso com essas aplicações e respeitar seu perfil de risco, mesmo em ativos de renda fixa. A depender do prazo de alocação, o investidor pode ter alta volatilidade na marcação a mercado”.

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