Quanto rende CDB hoje: com taxas caindo, é hora de correr para aproveitar últimos tempos de juro alto?

Na última quinzena, taxas dos títulos prefixados e atrelados ao CDI caíram em movimento que faz parte de uma tendência de mais recuos

Leonardo Guimarães

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Depois dos títulos públicos, é a vez das taxas dos CDBs caírem. Os ativos de renda fixa emitidos por bancos passaram a entregar rentabilidade menor desde o início deste mês e especialistas afirmam que esta é a apenas a ponta do iceberg: vem mais queda por aí.

As taxas médias de CDBs prefixados e pós-fixados caíram na quinzena terminada nesta segunda-feira (19), mostrou levantamento feito pela Quantum Finance, a pedido do InfoMoney. Os títulos prefixados com vencimento em 12 meses, por exemplo, passaram a pagar taxa média de 12,65% ao ano contra 13,11% na quinzena anterior.

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Os números do último levantamento dão sequência à tendência iniciada no início de junho.

Ao observar esse cenário, investidores podem pensar em correr para aproveitar o que seriam os últimos momentos de remunerações mais altas, com prefixados pagando até 14,05% ao ano. Porém, especialistas recomendam cautela.

“Não é black friday. É preciso parcimônia e consciência”, pondera Luis Barone, sócio da Galapagos Capital. Para ele, é preciso comparar o retorno dos CDBs com a curva de juros para avaliar se vale a pena “correr” para comprar um título. Se um prefixado paga a partir de 120% da taxa de juros, por exemplo, é um bom investimento, segundo o especialista.

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Para Marina Renosto, head de alocação da Blackbird Investimentos, “não precisa correr, mas faz sentido aumentar um pouco a exposição à renda fixa”.

Uma das oportunidades que a renda fixa oferece hoje é lucrar com a marcação a mercado, estratégia que agrada Marina neste momento. Porém, os CDBs não são os melhores instrumentos para isso, já que a liquidez é limitada e os investidores geralmente precisam carregar os títulos até o vencimento.

Portanto, a liquidez reduzida que impede a realização de lucros na marcação a mercado é um dos fatores que pode diminuir a “corrida” aos CDBs e fazer com que alguns investidores prefiram outros instrumentos de renda fixa.

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Outro motivo que faz especialistas recomendarem cautela ante a correria para comprar CDBs é que, por mais que os juros caiam já em agosto, como o mercado vem precificando, as taxas ainda permanecerão altas e será possível encontrar boas oportunidades na renda fixa. “O Banco Central é sempre conservador em cortes da Selic”, comenta Barone.

Quem aposta no conservadorismo do BC é Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. “Estamos com um call de corte da Selic para setembro. O tamanho da redução fica condicionado ao cenário, mas há espaço para os juros chegarem a 9,5% ou 10% ao ano”. Ou seja, mesmo nas previsões mais conservadoras, os juros permanecem altos e ainda favorecem o mercado de renda fixa.

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Quanto rendem os CDBs hoje?

Os ativos de renda fixa emitidos por bancos que mais tiveram queda na rentabilidade foram os prefixados. A taxa média de todos os prazos caiu nos títulos emitidos entre 6 e 19 de junho. Com um crédito mais barato para os bancos, o número de emissões foi maior que o da quinzena anterior – 148 contra 134.

Nos prefixados curtos de seis meses, a taxa média caiu de 13,80% para 13,43% ao ano. O título desse horizonte que melhor paga tem remuneração anual de 14,05%. Na quinzena anterior, a maior remuneração era de 14,30% ao ano.

Confira os retornos brutos dos CDBs prefixados entre os dias 9 e 19 de junho:

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Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos considerados Emissor do título com maior taxa
3 Prefixado 13,50% 13,70% 14,03% 28 BTG Pactual e Daycoval
6 Prefixado 12,70% 13,43% 14,05% 48 Daycoval
12 Prefixado 11,70% 12,65% 13,14% 54 Daycoval
24 Prefixado 11,10% 11,63% 12,95% 6 Sinoserra Financeira
36 Prefixado 11,20% 12,00% 13,05% 12 Sinoserra Financeira

Já as taxas dos CDBs atrelados ao CDI tiveram comportamento misto na última quinzena. O retorno médio do prazo mais curto – 3 meses – caiu de 101,06% do CDI para 99,13% e a taxa média do prazo mais longo – 36 meses – recuou de 103,33% do CDI para 102,43%. Por outro lado, o retorno médio dos pós-fixados de seis meses teve leve avanço de 100,31% do CDI para 100,32% na última quinzena.

As emissões de pós-fixados recuaram de 237 no início de junho para 225 na quinzena terminada no último dia 19. Os maiores retornos da categoria são oferecido por um CDB emitido pela BR Partners e outro do BMG. Ambos pagam 111% do CDI, mas têm prazos diferentes: o primeiro vence em 36 meses, enquanto o segundo tem vencimento em um ano.

Confira os retornos brutos dos CDBs pós-fixados entre os dias 9 e 19 de junho:

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos considerados Emissor do título com maior taxa
3 % CDI 83,00% 99,13% 104,50% 24 BTG Pactual
6 % CDI 97,50% 100,32% 106,00% 50 Daycoval
12 % CDI 90,00% 101,18% 111,00% 59 BMG
24 % CDI 98,00% 101,02% 109,00% 46 Haitong Brasil
36 % CDI 90,00% 102,43% 111,00% 46 BR Partners

A exceção do último levantamento de taxas dos CDBs foram os títulos atrelados à inflação, que tiveram alta. Com 85 emissões, os CDBs atrelados ao IPCA são minoria na classe, mas a resiliência das taxas chama atenção. O movimento acontece para compensar a queda nas projeções de inflação, já que esses títulos geralmente têm remuneração próxima à taxa de juros esperada para a época do seu vencimento.

A rentabilidade real média dos CDBs de inflação com vencimento em 24 meses passou de 5,58% no início deste mês para 6,68% na última quinzena. Para esse prazo, o CDB que melhor remunera tem rentabilidade real de 7,10% contra 5,90% na quinzena anterior.

Já a taxa média dos papéis que vencem em 36 meses subiu de 6,36% para 6,48%, com a taxa mínima em 6,10% ante 4,75% na leitura anterior e a máxima em 6,85% contra 6,75% em março.

Confira os retornos brutos dos CDBs atrelados à inflação entre os dias 9 e 16 de junho:

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos considerados Emissor do título com maior taxa
12 IPCA 8,39% 8,39% 8,39% 1 Safra
24 IPCA 5,40% 6,68% 7,10% 46 Haitong Brasil
36 IPCA 6,10% 6,48% 6,85% 38 Haitong Brasil

Atenção aos prazos

Como o investidor de CDB precisa se preparar para carregar um título até o vencimento, é ainda mais importante atentar aos prazos que está contratando.

Para quem quer apostar na queda dos juros para além do que o mercado precifica, Barone recomenda procurar vencimentos até 2027. “Não apostaria em títulos mais longos porque o prêmio já está amassado”, afirma.

Ele ainda explica que em movimentos de queda dos juros, a diferença entre a Selic e a rentabilidade dos títulos de renda fixa costuma diminuir. Portanto, é preciso comparar a taxa dos títulos com a média da taxa básica de juros que o investidor espera para o período do investimento.

Para o investidor que procura títulos mais longos, a dica é comprar papéis com vencimentos diferentes e, mesmo que a preferência seja pelo longo prazo, não deixar de colocar uma porção no curto prazo. “Assim, se o que o investidor esperava não se concretizar, ele tem um vencimento em dois anos e já pode realocar o dinheiro”, explica Marina Renosto.

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