Burger King: a receita que fez a empresa valer R$ 4,7 bilhões na Bolsa

Desconhecida por metade dos brasileiros quando chegou ao Brasil, em 2011, a rede de fast food cresceu, abriu o capital e foi escolhida como uma das revelações da Bolsa no ranking feito pelo InfoMoney em parceria com o Ibmec e a Economatica

Letícia Toledo

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SÃO PAULO – Quando assumiu as operações da rede de fast food Burger King Brasil, em julho de 2011, o executivo Iuri Miranda comandava uma operação diminuta. Tinha uma equipe de 12 pessoas e nem um único restaurante próprio.

A empresa operava apenas com franquias e tinha 139 unidades no país. Além disso, pesquisas mostravam que a marca era desconhecida por metade dos brasileiros.

Oito anos depois, a companhia tornou-se popular não apenas dos consumidores brasileiros (agora, 95% da população conhece a marca), mas também dos investidores — parte da nova safra de empresas que abriram o capital recentemente, o Burger King estreou na Bolsa em 2017.

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“Quando começamos tínhamos o sonho de ser a empresa de fast food preferida do brasileiro, com pessoas talentosas, forte presença nacional e fazer tudo isso de maneira rentável”, afirma Miranda.

As metas estão sendo cumpridas. O número de restaurantes chegou a 792, no primeiro trimestre deste ano. Além disso, as receitas aumentaram, para R$ 2,35 bilhões em 2018, puxadas tanto pela abertura de novas lojas quanto pelo crescimento das vendas nos restaurantes abertos há mais de 12 meses, que tiveram alta de 13,8% em 2017 e de 6,5% em 2018.

Segundo dados da consultoria Euromonitor, o Burger King fechou 2018 com 3,1% de participação de mercado brasileiro de alimentação fora do lar — atrás de McDonald’s (6,5%) e Subway (4,1%). Antes da abertura de capital, em 2014, o Burger King tinha uma fatia de apenas 1,4%. 

A empresa também saiu de um prejuízo de R$ 93,5 milhões em 2016 para um lucro de R$ 128 milhões no último ano. 

“O mercado de fast food no Brasil é muito pulverizado e o Burger King conseguiu ocupar um lugar de destaque com um marketing agressivo e qualidade nos produtos”, afirma Richard Cathcart, analista do Bradesco.

Foram números como esses que fizeram do Burger King Brasil a segunda colocada no ranking Melhores Empresas da Bolsa, na categoria revelação. Criado pelo InfoMoney em parceria com o Ibmec e a Economatica, o ranking avaliou empresas que abriram capital nos últimos três anos com base em três critérios: rentabilidade, desempenho das ações e práticas de governança corporativa (confira as demais vencedoras e a metodologia).

Perspectivas para as ações e nova fase com o McDonald’s

O desempenho das ações, porém, acompanhou a melhora dos resultados com alguma distância. Desde a abertura de capital, os papéis subiram 17,6%, enquanto o Ibovespa teve alta de 39,2%.

Isso se deve, segundo analistas, ao fato de as ações terem sido vendidas no IPO no topo da faixa indicativa de preço – tendo, assim, menos espaço para valorizar. O valor de mercado atual da empresa é de R$ 4,7 bilhões. 

Se o BK entregar seus planos para os próximos anos, no entanto, as ações podem voltar a subir. Os papéis atualmente são negociados próximos dos R$ 21. A média de projeções de sete analistas disponíveis no terminal da Bloomberg traz um preço-alvo de R$ 25,5.  

A companhia deve fechar este ano com 800 restaurantes da marca Burger King no país. Para Miranda, há espaço para dobrar esse número. “Hoje, temos uma média de 3,8 restaurantes Burger King para cada 1 milhão de habitantes. Em países com PIB per capita parecido com o brasileiro, a taxa varia de sete a 12 para 1 milhão de habitantes”, afirma. 

Especialistas também acreditam que há espaço para uma expansão no Brasil. “Em outros países a penetração do foodservice [alimentação fora do ar] está entre 40% e 45%. No Brasil esse patamar ainda está entre 20% e 25%”, afirma Rafaela Natal, especialista em Food Service na AGR Consultores. 

Mas, para se tornar líder no segmento de hambúrgueres, o Burger King enfrentará uma competição cada vez mais acirrada com o McDonald’s. “Até aqui, o Burger King conseguiu crescer se voltando para um público diferente do McDonald’s. Enquanto o McDonald’s é uma marca mais família, o BK conquistou um público mais jovem. Mas a briga deve se acirrar daqui para frente. Os dois devem competir cada vez mais por clientes de todos os perfis”, afirma Rafaela. 

A marca Popeyes

O BK tem outra arma para crescer no mercado brasileiro de fast food: a marca Popeyes, especializada em sanduíches de frango. “Há uns dois anos fomos estudar se havia algum outro mercado no Brasil com potencial tão grande quanto o hambúrguer. Aí descobrimos que o frango já era a proteína mais consumida pelo brasileiro”, afirma Miranda.

Para adequar a tradicional rede americana ao gosto brasileiro, o grupo incluiu sanduíches e sobremesas típicos e atualmente possui 16 restaurantes da marca. O objetivo é abrir 300 unidades no país nos próximos dez anos — totalizando um investimento de R$ 1 bilhão.

Com a marca Popeyes, o grupo rivaliza diretamente com a KFC — maior rede do segmento no mundo. A KFC declarou, em setembro do ano passado, que pretende abrir 500 novas unidades do Brasil nos próximos nove anos — prioritariamente via franquias.

O grupo controlador do KFC no Brasil, MultiQRS, tem ganhado cada vez mais musculatura. Controlado por Carlos Wizard e seus filhos Charles Martins e Lincoln Martins o MultiQRS anunciou recentemente uma fusão com a holding International Meal Company (IMC), dona das redes Frango Assado e Viena. O acordo ainda precisa ser aprovado em assembleia da IMC e pelo Cade.

Caso ocorra, a fusão vai criar uma companhia com receita bruta total de R$ 2,3 bilhões, ante a receita de bruta de R$ 2,6 bilhões do Burger King Brasil em 2018. Ninguém tem dúvidas de que o mercado de alimentação continuará crescendo no Brasil. A dúvida agora é quem conseguirá abocanhar a maior fatia desse crescimento.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.