Analistas veem Vale “virando a página” após Brumadinho e apontam 5 motivos para otimismo com ação

Para o Bradesco BBI, um novo capítulo pode se iniciar para a mineradora, enquanto Morgan destaca perspectiva positiva da companhia com aumento dos prêmios para o minério de ferro 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ao mesmo tempo em que são destacadas notícias de que as investigações sobre Brumadinho estão perto do fim, alguns analistas de mercado têm mostrado maior otimismo com a Vale (VALE3), avaliando que é hora de começar um novo capítulo para a mineradora. 

Thiago Lofiego e Isabella Vasconcelos, analistas do Bradesco BBI, mantiveram a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os American Depositary Receipts (ADRs) da companhia, elevando o preço-alvo de US$ 18 para US$ 19 – um potencial de valorização de 59% em relação ao fechamento da véspera. 

“Enquanto o trágico acidente de Brumadinho [que vitimou mais de 2 centenas de pessoas] nunca será esquecido, nós achamos que a Vale está na direção correta para restabelecer a confiança da sociedade e dos investidores. Nós esperamos que um novo capítulo (positivo) se inicie”, apontam os analistas. 

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De acordo com os analistas, a relação risco-retorno é atrativa por conta de cinco fatores principais, listados abaixo: 

i) o desembolso de caixa relacionado ao caso de Brumadinho não deve superar os US$ 6 bilhões já provisionados, enquanto a normalização da produção continua em progresso após paradas em algumas operações (a previsão de 320 milhões de toneladas em 2019 e 350 milhões de toneladas em 2020).

ii) o Bradesco BBI avalia que o mercado de minério de ferro deve continuar com déficit em 2020. A estimativa do banco é de que a cotação do minério atinja US$ 90 em 2019 e US$ 75 em 2020, enquanto as ações da Vale precificam o minério atualmente um minério de ferro a US$ 60. 

iii) as discussões relacionadas a royalties estão sendo diluídas, com os analistas não esperando um grande aumento de tributação para as mineradoras no Brasil, já precificados pelos investidores (um aumento de 1% teria impacto de 1,5% no Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações).

iv)a estimativa é que os dividendos devam voltar em breve – os analistas do banco projetam proventos entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões em 2020, ou um dividend yield (valor do dividendo em relação ao preço da ação) entre 10% e 15%. 

v) o valuation mostra que os ativos estão baratos, uma vez que os papéis estão sendo negociados a um múltiplo de 4,3 vezes o valor da empresa sobre o Ebitda esperado para 2020, perto da mínima de 10 anos versus os níveis que consideram justo, de 5,5 vezes e 6 vezes. 

O Morgan Stanley, por sua vez, destacou em relatório um ponto positivo para a mineradora no curto prazo, ao avaliar que o prêmio sobre o seu minério de ferro deve aumentar à medida que a companhia retome a sua produção. 

“A recente redução no prêmio por materiais de alta qualidade deve-se ao i) aumento da oferta de Carajás, ii) elevação da produção chinesa de concentrado de minério (com baixo teor de alumina) e iii) aumento do preço de referência do minério de ferro. Além disso, as margens das siderúrgicas deprimidas, os baixos prêmios fixos e os preços mais baixos da sucata afetaram negativamente os prêmios”, avalia o Morgan.

Volatilidade, mas estimativa de recuperação

A gestão da mineradora, aponta o Morgan, espera muita volatilidade nos preços do minério de ferro nos próximos meses. No entanto, o nível de estoques é baixo e é provável que haja reabastecimento no curto prazo.

Além disso, em um cenário de mais longo prazo, a Vale está vendo uma demanda forte de minério de ferro na China, com o recente anúncio de mais estímulos ao crescimento econômico devendo continuar apoiando os gastos em infraestrutura e o consumo de aço.

Os analistas do Morgan também esperam resultados sólidos para as empresas de mineração no terceiro trimestre de 2019. No caso da Vale, os resultados devem se beneficiar da combinação de altos preços do minério de ferro e com o reinício da produção em Brucutu e Vargem Grande. 

Contudo, no curto prazo, o banco americano mantém recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para o ADR, com um preço-alvo de US$ 15,50 – ou um upside de 30% em relação ao fechamento de terça-feira. 

Mesmo com as indicações positivas de analistas, as ações da Vale registraram perdas de cerca de 1% na sessão desta quarta-feira, com os investidores repercutindo a queda do minério e o ambiente ainda tenso no exterior após o ataque em refinarias de petróleo na Arábia Saudita. Mas, num horizonte mais longo de tempo, as perspectivas seguem de recuperação. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.