Vale traz algumas respostas após resultado – agora, mercado fica de olho em novo evento

Teleconferência de balanço trouxe alguns dados importantes sobre impacto de Brumadinho e de interrupção de outras minas na produção - mercado aguarda agora por definições após 31 de março

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Assim como nos últimos trimestres, a Vale (VALE3) divulgou um balanço considerado sólido, com um endividamento abaixo da meta de US$ 10 bilhões e forte geração de fluxo de caixa, apesar de um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) abaixo do esperado pelo mercado. 

Porém, o balanço foi visto como algo que ficaria no passado, uma vez que o mercado estava esperando mesmo por respostas que ainda faltavam sobre tragédia de Brumadinho (MG), com atualizações sobre a atuação da companhia após o rompimento da barragem da mina do Córrego de Feijão em 25 de janeiro de 2019, que deixou um rastro de destruição ambiental e centenas de mortos. 

Conforme destacou a XP Research, “o foco estava voltado para potenciais atualizações após a tragédia” mas não foram fornecidas atualizações materiais no release de resultados. O único destaque foi o anúncio de uma aceleração do plano de descomissionamento da Vale, que a empresa afirmou que aumentará os R$ 5 bilhões previamente estimados, mas sem novos números fornecidos. 

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Assim, o mercado seguia no aguardo de indicações de provisão de perdas, guidance de volume de minério, baixas contábeis e atualização na política de dividendos, levando os investidores a acompanharem com ansiedade a teleconferência de resultados. E ela trouxe algumas indicações do que esperar para a companhia após Brumadinho.

Em relatório, o Bradesco BBI destacou os pontos principais da teleconferência, que foi conduzida pelo diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da mineradora, Luciano Siani, e trouxe algumas respostas sobre as dúvidas do mercado. 

  1. Em primeiro lugar, a Vale estima que reduzirá seu volume de vendas de minério de ferro em 50 milhões de toneladas no melhor cenário ou 75 milhões de toneladas no cenário base. A diferença entre os dois cenários refere-se principalmente ao reinício das operações do complexo de Brucutu, com uma capacidade de 30 milhões de toneladas ao ano. 
  2. Cabe destacar que a companhia previa, antes do desastre, produzir 400 milhões de toneladas de minério de ferro em 2019. Atualmente, uma capacidade de cerca de 93 milhões de toneladas/ano está parada, em função de decisões da empresa e ordens judiciais.
  3. A companhia também destacou que a volta das unidades de mineração ociosas pode levar até 3 anos.

A Vale não compartilhou nenhum guidance específico sobre o custo caixa para os próximos trimestres. Contudo, a indicação é de que eles devem aumentar com a menor diluição do custo fixo e os custos logísticos atualmente maiores para abastecer o mercado interno (que eram principalmente abastecidos por Brucutu/Timbopeba, que sofreram paralisações por decisões judiciais).

Além disso, assim como no quarto trimestre, a Vale acredita que o prêmio na venda de pelotas permanecerá alto. A produção de pelotas da mineradora deve ser reduzida em cerca de 11 milhões de toneladas – um impacto significativo no mercado (cerca de 10% do mercado de pelotas transoceânicas). Dessa forma, em meio às condições apertadas do mercado, os preços devem seguir altos. 

Por outro lado, a Vale não projeta impacto significativo nas operações de metais básicos devido aos novos regulamentos e padrões estabelecidos pela ANM (Agência Nacional de Mineração). A expectativa é de que todas as barragens que envolvem esse tipo de produção devem continuar com as devidas autorizações mantidas no futuro.

Em meio a esse cenário, o Bradesco BBI possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a companhia, acreditando que os papéis devem ser gradativamente reavaliados após o forte impacto pós-Brumadinho.

Contudo, destacam que uma data deve ser observada com atenção pelo mercado: o próximo dia 31, quando a revisão das certificações de estabilidade das barragens deve ser concluída.

Dependendo do resultado da revisão, os papéis podem ser ser impactados na bolsa – assim como os preços do minério de ferro. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.