Vale apresenta mais um balanço sólido – mas mercado aguarda por mais respostas após tragédia de Brumadinho

Muitas questões ficaram pendentes sobre a companhia 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A Vale (VALE3) apresentou números para o quarto trimestre de 2018 bastante expressivos. O seu lucro foi de US$ 3,786 bilhões, uma alta de 391% ante os US$ 771 milhões registrados um ano antes. O número ficou acima dos US$ 2,63 bilhões esperados pelo mercado, de acordo com consulta feita pela Bloomberg. No ano, o lucro subiu 24,6%, para US$ 6,860 bilhões.

Contudo, apesar dos analistas destacarem os números positivos e mostrarem uma operação sólida da empresa, muitas questões ficaram pendentes sobre a companhia uma vez que o resultado acabou ficando para trás em meio à tragédia de Brumadinho.

Conforme destaca a XP Research, “o foco estava voltado para potenciais atualizações após a tragédia, mas não foram fornecidas atualizações materiais”. Assim, a atenção agora muda para detalhes que possam vir durante a teleconferência da empresa nesta manhã. 

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Em relação a Brumadinho, o único destaque foi o anúncio de uma aceleração do plano de descomissionamento da Vale, que a empresa afirmou que aumentará os R$ 5 bilhões previamente estimados, mas sem novos números fornecidos, destaca a equipe de análise da XP. 

O Credit Suisse destaca que o mercado provavelmente está precificando um outro desembolso adicional de US$ 7,2 bilhões avaliando que, desde houve o rompimento da barragem em Brumadinho. Enquanto isso, o consenso da Bloomberg para a projeção do Ebitda de 2019 da Vale aumentou em cerca de US$ 2 bilhões. Isso, avaliam, evidencia a alta nos preços do minério de ferro mais do que compensa a perda de produção em termos de geração de caixa”. 

A Vale tem cerca de US$ 4,3 bilhões congelados em relação a multas referentes ao acidente, enquanto seu valor de mercado caiu cerca de US$ 11,5 bilhões, o que leva à precificação de que mais US$ 7,2 bilhões possam ser desembolsados. 

Assim, o mercado segue no aguardo de indicações de provisão de perdas, guidance de volume de minério, baixas contábeis e atualização na política de dividendos.

Porém, olhando somente para os números da companhia em relação ao quarto trimestre, os destaques ficaram com o preço do minério de ferro realizado de US$ 68,40 a tonelada, acima dos US$ 67,50 a tonelada, beneficiando-se da estratégia de “foco na qualidade” da Vale. 

Além disso, a dívida líquida atingiu US$ 9,65 bilhões, ficando pela primeira vez efetivamente na meta da Vale de US$ 10 bilhões, o que levou a mineradora em um nível de alavancagem que se aproxima de 0,5 vez, o que é visto como confortável. Outro ponto positivo ressaltado pelos analistas foi a sólida geração de US$ 1,8 bilhão em fluxo de caixa livre. 

Por outro lado, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado ficou em US$ 4,35 bilhões (excluindo US $ 120 milhões em dividendos de não controladores), abaixo das estimativas do mercado. 

“O principal fator para isso foi um desempenho ligeiramente mais fraco na divisão de minério de ferro, com os preços realizados chegando em 2% abaixo de nossos números. Do lado positivo, a divisão de metais básicos superou nossa estimativa de Ebitda em 20%, impulsionada apenas pelos custos mais baixos, sugerindo que a recuperação da divisão já está começando a dar frutos”, avalia o Bradesco BBI. 

Bradesco BBI, XP e Credit Suisse possuem recomendação equivalente à compra para os ativos. A XP ressalta que continua vendo os papéis como atrativos, com um desconto de 20% a 25% em relação aos pares globais.

Já o Bradesco BBI avalia que várias incertezas impediram investidores de se tornarem positivos na Vale depois de Brumadinho, de olho no impacto e no custo final da tragédia. “Em nossa opinião, as ações devem gradativamente ser reavaliadas uma vez investidores comecem a entender que o custo não será tão alto quanto se pensava”. Assim, o mercado segue de olho nos próximos passos da Vale, principalmente com relação aos custos da tragédia de 25 de janeiro. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.