Paralisação em mina da Vale pode durar pouco – mas analistas já olham para impacto no minério

Caso a decisão não seja revertida tão cedo, o impacto nos preços do minério pode ser significativo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – 7,5% de produção a menos e uma queda de mais de 3% da ação. Esse foi o impacto sentido nesta segunda-feira (4) pela Vale (VALE3) – e por sua holding Bradespar (BRAP4) – com a decisão da Justiça de suspender a operação de oito barragens em Minas Gerais: Laranjeiras, Menezes II, Capitão do Mato, Dique B, Taquaras, Forquilha I, Forquilha II e Forquilha III. Essa medida deve afetar principalmente  a mina de Brucutu, que tem produção anual de aproximadamente 30 milhões de toneladas, ou 7,5% da produção anual da Vale, foi temporariamente paralisada. Brucutu é a maior mina da Vale em Minas Gerais. 

A decisão foi proferida pela 22ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte após ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais. 

Cabe ressaltar que, das 8 barragens, 3 são do tipo a montante, mesmo utilizado em Mariana e Brumadinho e já não eram operantes. As outras 5 são do método a jusante e somente uma é barragem de rejeito de fato, atendendo à mina de Brucutu, sendo que as outras são barragens de sedimento (água) e o seu fechamento não afetam a operação neste momento. A companhia está trabalhando para reverter a situação, com todos os certificados necessários atestando a segurança da barragem de Brucutu. 

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De acordo com analistas do Bradesco BBI, o argumento para suspender as operações não parece fazer muito sentido do ponto de vista técnico, já que a maior parte das barragens de rejeitos não foi construída sob o método a montante (mais arriscado).

“Portanto, acreditamos que as operações em Brucutu deverão ser retomadas no curto prazo, uma vez que as informações necessárias sejam fornecidas pela Vale, com impacto potencialmente limitado nos embarques e na dinâmica de oferta e demanda sobre o minério de ferro”, avaliam os analistas. 

Porém, caso a decisão não seja revertida tão cedo, o impacto nos preços do minério pode ser significativo.  Se as operações em Brucutu forem de fato interrompidas por um longo período, destaca o Bradesco BBI, elas devem impactar os embarques de minério de ferro da Vale, já que a flexibilidade operacional da empresa não seria suficiente para lidar com essa perda de produção. 

Por outro lado, a menor oferta da Vale teria consequências positivas para os preços do minério de ferro, que se sustentariam a níveis mais altos (provavelmente acima de US$ 75 a tonelada) por mais tempo. Atualmente, a previsão média para 2019 é de um minério a US$ 65 a tonelada, enquanto a cotação atual está em US$ 86. 

Não é a primeira vez…

Mesmo sendo um revés para a Vale e apesar do evento ter conquistado notoriedade, ele está dentro do barulho que deveria ser esperado no curto praz, e não é o primeiro desta natureza, aponta a equipe de análise da XP Research. “Na semana passada, o Porto de Guaíba, pelo qual quase 45 milhões de toneladas de minério são exportadas por ano, também teve suas licenças questionadas e foi paralisado por um dia”, afirmam.

Neste sentido, a queda de aproximadamente 21% nas ações desde segunda passada, com perda de quase R$ 63 bilhões em valor de mercado, parece já refletir parte relevante dos riscos. Assim, os analistas da XP seguem com recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 66 por ação. A mesma recomendação equivalente à compra tem o Bradesco BBI, que possui preço-alvo de US$ 15 por ADR (American Depositary Receipt) da mineradora. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.