Vale: fechamento de barragens atenua incertezas de investidores e anima analistas

Atitude proativa da mineradora minimiza preocupações com produção, mas incertezas judiciais seguem no radar

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – A decisão da Vale (VALE3) de fechar 10 barragens a montante – tipo de estrutura que se rompeu em Brumadinho e considerada menos segura – repercute positivamente entre os investidores e analistas. 

Com a notícia, as ações da Vale disparam até 8% no pregão desta quarta-feira (30). Após o anúncio, o minério de ferro chegou a ter uma disparada de quase 10% de olho nos reflexos para a produção da commodity. O Goldman Sachs elevou a previsão para o preço para US$ 80, com o produto podendo atingir mais de US$ 100 em cenários de corte ainda mais severo da produção.

Segundo o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, o prazo para executar as ações é de no mínimo um ano e no máximo 3 anos e a empresa estima que serão aplicados cerca de R$ 5 bilhões para efetivar o plano. A mineradora calcula que a medida vai reduzir a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano.

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O time de análise do Bradesco BBI acredita que a mensagem da companhia é “forte e proativa”, uma vez que a empresa sai na frente e anuncia decisões para melhorar a segurança de suas barragens antes da interferência de autoridades e busca eliminar riscos de novos acidentes. 

Para os analistas da XP Research, o anúncio ajuda a mitigar a preocupação em relação ao impacto na produção de curto e médio prazo. Com isso, a equipe revisou seu modelo de expectativas para a empresa, considerando um cenário conservador de queda de 40 megatoneladas/ano de minério de ferro no período de 2019-2022 e 11 mt/ano a menos de pelota, e o investimento de R$ 5 bilhões.

“Conservadoramente, mantivemos nosso preço de minério de ferro em US$ 65 a tonelada para os anos em referência. Entretanto, acreditamos que a redução de 40 mt/ano na oferta global de minério pode sustentar os preços em níveis superiores a este. Como referência, o preço se encontra atualmente em US$ 79 a tonelada”, afirmam os analistas em relatório enviado a clientes. 

Assim, a redução na produção pode acabar atenuando o cenário de risco, com o aumento do preço das commodities no mercado internacional. Além disso, a redução na produção de minério pode ser compensada pelo aumento em outros sistemas produtivos da companhia. 

“Enaltecemos esse movimento [de fechamento de barragens], pois aumenta a visibilidade no pior cenário da Vale para perdas de volume e minimiza o impacto no Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] consolidado (11 milhões de toneladas de produção de pelotas perdidas, potencialmente compensadas por prêmios mais altos)”, destacam os analistas do Itaú BBA. 

O Bradesco BBI avalia que a Vale tem flexibilidade operacional e poderá compensar as perdas de produção com o fechamento dessas 10 barragens com o reinício de capacidades ociosas nas regiões Sul e Sudeste e acelerando o ramp-up do Projeto Carajás S11D.

Porém, apesar da tentativa de mitigação de riscos na parte operacional, ainda permanece a incerteza em relação aos potenciais processos judiciais após o rompimento da barragem de Brumadinho.

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Por enquanto, R$ 400 milhões em multas foram confirmados e a Justiça solicitou o bloqueio de R$ 12 bilhões em bens da Vale. Desse valor, R$ 6,8 bilhões já foram confirmados pela Justiça. “Como referência, R$ 5 bilhões em multas equivaleriam a uma queda do nosso preço alvo em R$ 1,1 por ação”, calcula o time de análise da XP. 

“Em nossa visão, a queda no preço das ações da Vale em cerca de 24% nos últimos dois dias parece já refletir parte relevante dos riscos”, acrescenta a XP, que manteve a recomendação de compra dos papéis, com preço-alvo reduzido de R$ 70 para R$ 66 – valor 54,4% acima do fechamento da véspera. “No curto prazo, uma série de incertezas ainda permanecem, e sugerimos cautela”, pondera a XP.

O Bradesco BBI também manteve sua recomendação outperform (acima da média do mercado, o equivalente a compra) para a Vale. “Embora entendamos que o fluxo de notícias sobre o acidente pode continuar a ser intenso no próximo, no longo prazo, acreditamos que existe um bom suporte à avaliação”, dizem os analistas em relatório.

Minério de ferro

O Morgan Stanley calcula que o descomissionamento das barragens terá impacto líquido de 15 megatoneladas neste ano, sendo 5 mt no terceiro trimestre e 10 mt nos últimos três meses de 2019. O cenário-base do banco considera um mercado de 40 mt de produção de minério de ferro no mundo, assim, o setor teve continuar com superávit mesmo com o corte previsto para a Vale e os impactos no preço da commodity devem ser pequenos no curto prazo. 

Na contramão, o Goldman Sachs elevou em US$ 10 a previsão para o contrato futuro de três meses do minério de ferro, para US$ 80 por tonelada métrica, considerando redução nos contratos de produção da Vale entre 10 milhões e 15 milhões de toneladas este ano.

O modelo do banco também prevê possíveis preços, caso o declínio da produção seja mais severo. Cenários de teste de estresse incluem até uma perda de 50 milhões de toneladas. Sob essa possibilidade, o minério de ferro pode atingir US$ 110 a tonelada neste trimestre, segundo relatório. A última vez que o preço à vista chegou a US$ 100 foi em 2014.

Após o anúncio da Vale, o preço dos contratos futuros de minério de ferro negociados na China atingiu sua máxima em torno de um ano na madrugada desta quarta-feira (30)