Por que a nova estratégia do Fed desanimou o mercado

Economista-chefe da XP Asset explica como a Casa Branca e o Fed estão afetando as bolsas.

Renato Santiago

As eleições americanas e a política monetária do Fed sempre tiveram enorme repercussão nos mercados. Mas nas últimas semanas isso parece ainda muito mais intenso.

No Coffee Stock desta semana, Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, explicou como e por quê esses dois processos estão afetando as dinâmicas das bolsas.

O novo Fed

Em sua última reunião, além de reforçar a continuidade do cenário atual de juros baixos e estímulos econômicos, o Fed também apresentou o seu novo arcabouço de políticas monetárias, com novidades importantes em relação a desemprego e inflação. 

Uma das mais importantes é a abordagem do Fed sobre o desemprego. “Antes o Fed tinha o mandato duplo, olhando desemprego e inflação, mas o desemprego era quase um termômetro de para onde iria a inflação. Quando o desemprego caía, o Fed já subia os juros mesmo com a inflação baixa, porque desemprego baixo era sinal de que inflação subiria em algum momento. Isso não vai existir mais, os juros não vão subir necessariamente porque o desemprego está caindo”, explica Genta.

Em relação à inflação, o Fed sinalizou que pode deixá-la acima da meta em momentos de retomada. “Como em recessões a inflação fica abaixo de 2%, eu vou deixar a inflação pouco acima de 2% nos momentos de retomada, pra que na média ela fique ancorada”, explica. “E como a inflação vai ficar ao redor de 2% por muito tempo, é provável que fique baixo por muito tempo”, conclui Genta.

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Segundo Genta, não se trata de heterodoxia do Fed, mas sim da chegada ao Fomc de ideias sobre a relação entre aquecimento do mercado de trabalho e inflação que já estão sendo discutidas na academia há algum tempo. “Um mercado de trabalho muito apertado não materializou inflação. Tem até um paper que saiu semana passada do BCE falando disso nos EUA. Ainda não tem um motivo óbvio para explicar isso, mas o fato é que o mercado de trabalho não tem mais batido na inflação. Ora, se não tem mais inflação, pq eu vou impedir que o mercado não aqueça mais?”, resume.

E por que o mercado reagiu mal? “O mercado esperava uma sinalização de que a duração de quantitative easing continuasse enquanto os juros permanecesse no patamar atual, mas o Fomc não se comprometeu dessa forma. Isso incomodou o mercado”. 

Eleições

Prever qual será a reação do mercado após as eleições é muito difícil, basta lambrar de 2016 quando o mercado não esperava que o republicando Donald Trump pudesse ganhar as eleições, mas teve reação positiva após sua vitória. Nas eleições de 2020, as dúvidas giram em torno de dois eixos: a composição do Congresso e a possível judicialização das apurações.

“A agenda democrata é mais expansionista do ponto de vista fisca, mas não consigo ver nenhum dos dois indo para a irresponsabilidade. Existe outro ponto muito importante que é a composição do Senado. A Câmara deve ficar com os democratas mas um menor risco fiscal seria a composição de um Senado republicano. Esse não é o cenário óbvio ainda, mas seria o melhor”, diz Genta.

“O que me preocupa é como vão evoluir as próprias eleições. Fazendo um paralelo bem mal feito, mas seria como a reeleição da Dilma, quando tínhamos muita polarização, só que mais judicializado”, afirma.

Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney