Tesla: um comprado e um vendido debatem sobre a nova queridinha dos brasileiros

Tesla é responsável sozinha por quase 20% do volume de negociações de BDRs da Bolsa. Mas ela está longe de ser unanimidade.

Renato Santiago

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No fim do ano passado, a B3 divulgou um balanço sobre o mercado de BDRs no país. Examinando os números, só uma conclusão é possível: depois de Cogna e Oi, parece que o investidor de ações brasileiro se apaixonou também por uma gringa. E o nome dela é Tesla.

Antes, vale lembrar: BDRs são mais ou menos um vale-ação estrangeira — você compra pela sua corretora aqui no Brasil, em reais, o recibo de uma ação negociada em outro país, como a Disney, por exemplo. Depois de digitar DISB34 no seu home broker e apertar comprar, o emissor daquele BDR (geralmente a própria B3) garante para você uma ação da Disney (DIS) na bolsa de Nova York. Tudo que acontecer com a ação lá, acontece com o recibo aqui.

O balanço da B3 revela que, no mês de dezembro, o BDR TSLA34 (recibo da Tesla) foi responsável por 18,5% do volume negociado entre todos os recibos. A título de comparação e contexto: atualmente existem cerca de 600 BDRs disponíveis e o segundo mais negociado foi o Mercado Livre, queridinho dos gestores profissionais, responsável por apenas 7,5% das negociações.

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Mas, se entre os investidores, Tesla é um hit, entre analistas nenhuma outra ação é tão polêmica e divisiva. Como então, os 13 leitores do Rico Matinal* e os cinco ouvintes do Stock Pickers vão formar sua opinião?

Na semana passada promovemos um debate no nosso canal. De um lado, um promotor, o analista CNPI Fabio Faria, dono do Canal do Holder no YouTube, que investe na montadora de Elon Musk desde 2017, e, de outro, o economista Fernando Ulrich, tão cético em relação à empresa que já comprou algumas opções apostando na queda.

Abaixo o que eles dizem sobre a Tesla:

É a realidade

Hoje a Tesla vale na bolsa 30 vezes mais do que ela gera de receita, um número assombroso, principalmente para uma companhia fundada há 17 anos e que só começou a ter lucro em 2019.

O valor de cada ação da Tesla multiplicou por dez em 2020, saltando de US$ 88 em janeiro para US$ 880 hoje. Grande parte desse movimento se deve à entrada do papel no índice S&P, que obriga gestores fundos passivos a comprarem os papéis.

Isso significa que, hoje, a empresa vale US$ 835 bilhões, produzindo 500 mil carros por ano. A Toyota, maior do mundo, fabrica 10 milhões de veículos por ano, o equivalente a 21 Teslas, mas vale quatro vezes menos (US$ 205 bilhões).

“Para justificar esse valor, a Tesla tem que crescer muito, e crescer rápido. Mas ela já tem tido diminuído o ritmo de crescimento de receitas. O movimento do S&P também já passou, então imaginar que daqui em diante ela dobrar ou triplicar de valor, como alguns otimistas já dizem, é improvável. É muito risco para pouco retorno”. Essa é a opinião de Fernando Ulrich, o cético.

São as expectativas

A Tesla não é apenas uma montadora, é a força de disrupção de uma indústria consolidada, global e de mais de cem anos de história. Ela não faz apenas carros, faz carros elétricos, carros autônomos e já produz baterias.

E a tendência regulatória está ao seu lado. No Reino Unido, o governo trabalha para não ter mais carros a combustão rodando no país em 2030. Na Alemanha, a meta é ter 90%da frota elétrica daqui a dez anos e quer infraestrutura de recarga elétrica rápida em 75% dos postos até 2026. Tais planos, é claro, estarão regados de subsídio.

Faz sentido, portanto, comparar a Tesla com outras montadoras tradicionais, como Toyota, Volkswagen e Hyundai?

“É um caso de disrupção e é isso que está no preço“, diz Fabio Faria, o otimista. “O setor passa por uma transição forçada, regulatória, e a Tesla lidera esse movimento. Mas é importante destacar que é sim um caso arriscado, pois muito do que é esperado pode sempre não acontecer”, conclui.

Como vocês 13 devem ter percebido, Ulrich e Faria concordam em uma coisa: é um negócio arriscado. Mesmo otimista, Faria conta que investiu apenas 1% do patrimônio na Tesla e Ulrich diz que comprou poucas opções de venda, pois não pode ser irresponsável com o patrimônio já que a Tesla tem sido um cemitério de pessimistas.

Moral da história, caros leitores: não se apaixone por nenhum papel. Se apaixone pelo seu dinheiro e não o deixe correr riscos demais.

*Texto originalmente enviado para os assinantes do Rico Matinal.

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Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney