Sobre um gato preto cearense

As lições de Martin Escobari, da General Atlantic.

Renato Santiago

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“É um pouco [sobre] estar aberto à magia do caos” — Martin Escobari

A pandemia de coronavírus criou uma pandemia colateral. A de lives.

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Nós mesmos do Stock Pickers estamos dando nossa contribuição para esse “novo normal”, mas confesso que existe um problema com elas: lives são longas, passam por muitos assuntos e pouca gente tem paciência de assisti-las gravadas.

E assim, muito conteúdo precioso fica soterrado num oceano de “vocês estão me ouvindo aí?” e “acho que o Fulano caiu…”

Não queremos que isso aconteça com a live que fizemos anteontem no canal do YouTube do Stock Pickers. Lá conversamos com Martin Escobari, co-presidente da General Atlantic.

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O cargo do Martin diz muito pouco sobre ele, portanto vamos aprofundar. Nascido na Bolívia, estudou negócios em Harvard, trabalhou na GP — do trio Lemann, Telles, Sicupira — e fundou o Submarino, onde ficou até o IPO da sua sucessora, a B2W.

Trabalhou na Advent, e depois passou para a GA (General Atlantic), duas das maiores  empresas de investimentos em private equity (empresas fechadas) do mundo.

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Na primeira, liderou o investimento da Cetip, hoje parte da B3, e na GA, ainda no Brasil, participou dos processos de aquisições em empresas como Arco, Peixe Urbano, Ourofino, Pague Menos, Gympass, XP Investimentos, Quinto Andar, Decolar.com, Hotmart, entre outras.

Um baita portfólio.

O papo com o Martin foi tão leve quanto profundo. Objetivo, claro e muito bom de frases, trouxe ensinamentos que, temos certeza, valem a pena ser escritos aqui, caso você, caro leitor, também não tenha mais paciência para tantas lives.

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Os gatos pretos de “Matrix” no Ceará

Durante nossa conversa, um dos primeiros casos que o próprio Martin citou foi o da Arco. Fundada no Ceará, a Arco se dedica à educação e foi a primeira companhia brasileira a abrir o capital na Nasdaq. A maneira como a GA chegou à empresa mostra porque devemos “nos abrir para o caos”. Nas palavras do Martin:

“No filme Matrix tem uma passagem em que o Neo está dentro de um programa e aparece o gato preto duas vezes. Ele fala ‘opa’ e graças a isso ele foge. E qual foi o gato preto que a gente achou? Estávamos entrevistando um pessoal do ITA para uma vaga de associado no General Atlantic e só tinha cearense. Me informaram que 30% do ITA é cearense. Mas 5% dos brasileiros são cearenses. Tem alguma coisa na água do Ceará?“.

Escobari conta que foi procurar o que havia na água do Ceará e descobriu que não era bem isso. Era a escola Ari de Sá. “Lá havia o professor Oto [de Sá Cavalcante], que criou um sistema de ensino espetacular, que dá resultado. E empacotou isso digitalmente”.

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Em setembro de 2018, a Arco fez um IPO de US$ 1,2 bilhão e hoje está avaliada em mais que o dobro disso.

O que estou querendo dizer aqui? Que é o acaso que traz sucesso nesse tipo de negócio? Claro que não.

“Nós nunca tínhamos investido em edtechs [educação e tecnologia] antes, pois era uma das grandes frustrações do mundo da tecnologia. A Arco conseguiu quebrar isso porque conseguiu fazer o professor se tornar mestre em tecnologia. Baseado no sucesso da Arco, nós já fizemos oito investimentos em edterch no mundo, e o segundo no Brasil”, conta.

Atenção agora para o pulo do gato preto:

“O gato preto do cearense no ITA, de uma maneira desestruturada e caótica, nos levou a um insight. Agora já temos deals na Indonésia, na Índia, na China, nos Estados Unidos e no Brasil. É estar aberto à magia do caos”, completa.

A dor de uma perda bilionária

Há alguns anos uma amiga do mercado de livros me contou uma história famosa naquele meio, sobre uma profissional de uma grande companhia editorial que recebeu cópias dos livros do Harry Potter para avaliar e dar um parecer.

Após ler a obra, essa editora recomendou que a empresa não adquirisse os direitos da série para publicar no Brasil.

“Como conviver com essa perda, pensei?”

Mas o Martin contou algo que me pareceu ainda pior: perder a Amazon e o Uber.

“Oito anos atrás olhamos o Uber. Eu mesmo fui visitar a sede e falar com eles. Naquele momento, a empresa era apenas o serviço de black car [serviço premium e de limusines], ninguém enxergava outros produtos. Esse mercado era muito pequeno, mesmo se eles conseguissem 100% do mercado de todo o mundo, ela valeria US$ 2 bilhões”, relembra Martin. “Nosso erro foi achar que a empresa era um boteco na praia, mas era um McDonald’s, e global”. 

Antes da chegada de Martin na General Atlantic, a empresa também perdeu o negócio com a Amazon. “No caso do Uber, eu considero um erro bom. No caso da Amazon, foi picuinha… Pediram um stock option desproporcional e não deu”.

As ações da Amazon estrearam na Nasdaq em 15 de maio de 1997. Naquele dia, foi avaliada em US$ 560 milhões. Hoje o valor de mercado da empresa multiplicou por quase 3.000 vezes, chegando a incríveis US$ 1,5 TRILHÃO.

Estes são apenas dois dos 15 tópicos que conversamos com o Martin. O link do YouTube está aqui e você pode navegar entre os temas, que estão todos separadinhos na própria barra de navegação.

Mais mastigado que isso, impossível.

Achou que não ia ter merchan?

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Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney