Por que os chineses têm mais medo de Biden que de Trump

Para o professor Roberto Dumas, especialista em China, Biden pode trazer mais problemas para os chineses que o Twitter de Trump.

Josué Guedes

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Roberto

O cenário internacional de 2021, assunto do primeiro dos cinco Coffee & Stocks desse semana, com o professor Roberto Dumas, continua com temas bem conhecidos (EUA, China e estímulos), mas, com a troca do governo nos EUA, os próximos passos dessas questões podem ter movimentos bem distintos aos do passado recente.

Utilizando o slogan “America’s Back”, Joe Biden, sucessor de Donald Trump na Casa Branca, tende, segundo Dumas, a reconstruir as alianças que haviam sido estabelecidas no pós-guerra e que foram desfeitas durante o governo Trump.

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E isso, ao contrário do que muitos imaginam, preocupa mais os chineses do que os tuítes de Trump.

“Por incrível que pareça o medo maior é do Biden, porque o Trump era um bonachão, ele fazia um tuíte raivoso e os chineses compravam um pouco de soja e ficava tudo bem. Agora, o Biden, pelo menos o que eles estão vendo, vai pelo meio e através das instituições com uma coalizão de países bater na China. E é disso que os chineses tem medo”, comentou Dumas.

Do lado da economia, se comparar com a crise da Lemann Brothers, os EUA estão muito mais problemáticos em termos de dívida/PIB, mas naquela época a taxa de juro real estava em 2%, agora está negativo. Então o custo está bem menor, por isso os US$ 900bi de dólares não devem fazer muito efeito.

“Aprovar o estímulo fiscal é muito válido, porque isso impulsiona a bolsa, economia e tudo mais… mas só dar o cheque não resolve, porque o mundo vai sofrer com o desemprego estrutural. Estamos todos online por exemplo, nós vamos começar a ficar mais tempo em casa… olha o desemprego que vamos suscitar no mercado de trabalho: empregos que dependem da presença física vão diminuir e pessoas que não se adaptarem a esse mundo digital também vão sofrer com isso que chamamos de desemprego estrutural. Por isso deve vir um outro cheque de US$ 1 trilhão para investimentos em infraestrutura”, explicou Dumas sobre o cenário futuro do mundo.

Tensões Sociais

Para a bolsa, o cenário de estimulo fiscal é ótimo, porque a maior parte do “quantitative easing”, política monetária que aumenta a oferta de moeda, está indo para o mercado, mas, do ponto de vista social, segundo Dumas, isso pode provocar tensões sociais cada vez mais frequentes devido o aumento da desigualdade no país.

Na China, o momento é de mostrar que ela está “flexionando seus músculos” e isso significa muito investimento em infraestrutura e uma maior presença do Estado na economia.

“Para a China ganhar uma preponderância maior do lado geopolítico, ela tem que mostrar um crescimento maior do que 6% ao ano. E o que isso quer dizer?  Via consumo a China não cresce mais do que 6%. Então, o Estado vai voltar pesado e vai continuar fazendo obras de infraestrutura muitas vezes desnecessárias, portanto a demanda por minério de ferro vai continuar bombando e a demanda por proteína animal também”, explicou Dumas, sobre o que esperar da economia chinesas para os próximos meses.

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Amanhã iremos, às 8h, iremos conversar com Mariana Dreux, portfolio manager das estratégias macro da Truxt Investimentos, sobre a economia brasileira.

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