Peixe grande investe em peixe pequeno (ou “por que investir em fundos novos”)

O conselho de um gestor com 30 anos de mercado definitivamente mudou a forma como eu analisava e decidia quais fundos colocar na minha carteira

Renato Santiago

Shark Attack!

[Texto originalmente publicado na newsletter do Stock Pickers do sábado (23/jan/2021). A newsletter é gratuita e para receber, clique aqui e deixe seu melhor email.]

Olá, Stock Picker.

Escolher um fundo de investimentos é fácil: basta ir ao site da corretora, ordenar pela rentabilidade dos últimos 12 meses e pronto. Agora é só esperar o gestor pegar os 2% que ele recebe de taxa de administração e trabalhar para trazer um resultado ainda melhor agora que você entrou. Afinal, se ele fez 20% no último ano, conseguirá fazer 21% agora com um ano a mais de experiência.

Não, caros, não é assim. Infelizmente o senso comum nesse caso não pode te ajudar. Nunca se esqueça da primeira cláusula pétrea da Constituição do Condado da Faria Lima: “rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura”.

Escolher um fundo para investir depende de muita coisa: dos seus objetivos, do momento do mercado, da facilidade de acesso a ele, da especialidade da equipe de gestão e por aí vai.

Como não sou assessor de investimentos nem analista (e a CVM, dizem, anda atenta), não vim aqui para ensinar como escolher um fundo. Vim trazer o conselho de um gigante do mercado de gestão brasileiro, o Guilherme Aché.

Aché tem 30 anos de mercado, é fundador da Squadra e deu uma entrevista para o Samuel Ponsoni, do nosso podcast co-irmão Outliers (Aché nunca esteve no Stock Pickers, essa meta não batemos em 2020). A Squadra é aquela gestora do Rio de Janeiro que publicou um relatório de mais de 184 páginas sobre a resseguradora IRB, em fevereiro, fazendo um estrago nas ações da companhia.

Mas vamos logo ao conselho de Aché. No minuto 59, ele diz o seguinte:

“O melhor fundo é aquele que você sabe que o cara é muito fera, a equipe é muito boa, e ele está começando [um novo fundo]. Os primeiros seis meses a dois anos são o sweet spot. Ele ser menor pode fazer uma diferença positiva, e no começo a intensidade é dez vezes maior que o normal. Um investidor com track record bom em algum lugar, e que esteja começando [em outro]. Isso é dificílimo de achar.”

Tal conselho ganha ainda mais peso porque Aché é gestor de um fundo que não só tem 12 anos de histórico (ou seja, não é novo) como está aberto para captação – inclusive ele entrou na plataforma da XP semanas atrás.

Após o “mind blowing” que essa recomendação me causou, pensei em duas coisas: i) quem faz isso na prática de fato tem lucro? ii) se sim, quais são os fundos novos que têm por aí?

Joguei minha primeira dúvida pro Salomão. De bate pronto, ele citou: “Adam em 2016, Legacy em 2018, Ace e Absoluto em 2019, Asset 1 em 2020”… num primeiro momento, achei que ele tava só cuspindo nomes de gestoras que começam com a letra “A”, mas fui checar a performance destes fundos no primeiro ano de vidas e… Deu gain!

Eu sei que cada ser humano tem seu próprio universo (e isso vale para CNPJs), mas essas gestoras foram criadas por: i) investidores com carreira de sucesso em grandes instituições; ii) estava construindo um novo negócio com pessoas que confiam e que escolheram a dedo para serem sócios; iii) queriam mostrar que podem construir um legado e não só trabalhar dentro de uma grande empresa.

Comprovada a primeira pergunta, vem agora a segunda: quem são os novos fundos do mercado? Além da já citada Asset 1, o próprio Aché citou como exemplo no Outliers a Mar Asset, gestora que completará 2 anos no dia 1º de fevereiro. O fundo da casa (o multimercado Mar Absoluto) está com rentabilidade de 47% nestes quase 2 anos (o CDI, coitado, foi só 8,3% no período) e possui R$ 349 milhões de patrimônio líquido (dados de 21/jan, disponíveis no site da gestora), quantia “modesta” para um fundo multimercado.

No mundo de ações, temos como exemplo a Encore Asset Management, gestora criada por João Luiz Braga, o guitarrista mais carismático do Condado e que nas horas vagas era responsável na XP pela gestão de um dos fundos long biased que mais ganharam dinheiro no Brasil no intervalo de 5 anos (não sou eu quem digo, é a Bloomberg). Agora, ele criou sua própria asset e a “cota 1” dos fundos acontecerá no final desta semana.

(obs: quem está no nosso grupo do Telegram já sabe, mas vale o aviso aqui: os fundos da Encore já estão disponíveis para agendamento. A data de liquidação é dia 29/jan, quando ele começará a funcionar).

Esses são só alguns dos fundos que se encaixam no conselho do Aché, mas a decisão se eles se encaixam na sua carteira de investimentos é sua. Em caso de dúvidas, consulte seu assessor de investimentos.

Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney