Operações automatizadas vão tomar conta do mercado? Especialistas falam sobre o futuro

Renato Naigeborin, da EnterCapital, Fábio Motta, CIO da DAO, e Francisco Muniz, analista da Encore, refletem sobre os próximos passos do mercado acionário

Rafaella Bertolini

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Cada vez mais, a tendência é de automatização de processos na cadeia produtiva, e no mercado financeiro a história não é diferente. Falar sobre mudanças gera uma série de questionamentos, e até por isso é importante olhar a evolução nos últimos anos de forma a também traçar um cenário para frente.

No episódio 162 do podcast do Stock Pickers Renato Naigeborin, sócio-fundador da EnterCapital, relembrou seus primeiros passos profissionais, no início dos anos 90, em um cenário completamente diferente.

O engenheiro, recém chegado no universo das finanças, era encarregado de acompanhar o preço das ações na Bolsa de São Paulo, enquanto mantinha ligação com um agente em Nova York que monitorava os ADRs (recibo de ações, ou ativos de empresas brasileiras negociadas em Nova York) na Bolsa americana. Para completar, na época, havia a chamada “arbitragem inter praças” e por isso a Bolsa do Rio de Janeiro também entrava na conta.

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“O diferencial naquela época não eram milissegundos, eram segundos e não eram poucos”, relembra Naigeborin.

A vantagem de sua equipe à época foi, justamente, dentro das circunstâncias possíveis, automatizar o processo de arbitragem entre mercado local, mercado de ADRs e dólar.

Com o Excel recém chegado, Naigeborin digitava o mais rápido possível nas planilhas os preços “cantados” em rádio.

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“A vantagem competitiva era de quem redigia e interpretava as informações mais rápido, e tomando risco”, complementa.

Olhar para o passado do mercado e ver como houve mudanças nos leva automaticamente à pergunta: “e daqui para frente, como será?”

Não temos bola de cristal, mas certamente analisar aqueles que já estão à nossa frente nos dá uma dimensão maior. Para isso, Fábio Motta, CIO da DAO Capital, usa para responder o exemplo do mercado acionário dos Estados Unidos.

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“O mercado americano, que é muito mais avançado que o nosso e já faz isso (automatização) há 20 anos, ainda tem bastante espaço para todos os modelos: fundos quant completamente sistemáticos, os híbridos e os discricionários”.

Para o gestor, é possível que, em um futuro distante, haverá migração para alguma solução, de certo com uma carga quantitativa forte, seja 100% automatizada ou híbrida. Portanto, em suas apostas, o único modelo que vê caindo em desuso é o 100% discricionário.

Naigeborin, da EnterCapital, complementa: “Se o gestor é discricionário, bom e usa todas as ferramentas, com o tempo ele vai levar vantagem (em relação ao que não usa)“.

Rafaella Bertolini

Editora de redes sociais do Stock Pickers e Do Zero ao Topo. Escreve reportagens sobre empreendedorismo, gestão, inovação e mercados para o InfoMoney.