O melhor fundo de ações de 2020 e o silêncio absoluto de seus gestores

Fundo Absoluto Partners passa dos 50% de rentabilidade em 2020

Thiago Salomão

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“O começo da sabedoria é o silêncio”

– Pitágoras

Há um ano e meio entrava no ar o episódio 001 do Stock Pickers: “A Era dos Gestores Tuiteiros”. Era uma reflexão sobre um enorme movimento, de disseminação de informação e ideias sobre o mercado de ações e o mundo dos fundos.

Nos consideramos parte desse movimento, mas os protagonistas são os gestores que estão dispostos — e em alguns casos até ávidos — a expor suas teses, ideias e opiniões nas redes sociais, estando sujeitos ao escrutínio público nos ganhos e nas perdas.

Depois de 73 episódios conversando com gestores, alguns leitores e ouvintes podem até achar que esse é o novo normal da indústria de fundos brasileira, mas não é. Muitos brilhantes gestores permanecem fazendo seu trabalho em silêncio, distantes da imprensa, do Twitter, do Instragram e do YouTube.

Hoje vamos falar sobre a Absoluto, cujo nome parece ter sido inspirado nos seus retornos, que são mais de 50% em 2020, contra -11,9% do Ibovespa, e nos seus gestores e analistas, que se mantêm em silêncio absoluto.

Performance

Com menos de 70 dias para acabar 2020, o Ibovespa caminha para o primeiro ano negativo desde 2015, caindo 11,9% até o momento.

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Natural neste cenário que os tradicionais fundos de ações “long only” (que precisam manter quase todo o patrimônio comprado em ações) acompanham esse desempenho amargo.

Mas um olhar mais atento nos produtos da indústria mostra um fundo de ação long only que parece estar vivendo em outro planeta: o Absoluto Partners.

Performance do fundo Absoluto Partners 

Isso mesmo: em um ano em que o índice de referência da bolsa cai dois dígitos e a grande maioria dos fundos ou está no negativo ou está perto do “zero a zero”, o Absoluto Partners está entregando incríveis 52% de rentabilidade. (Os números do Absoluto aqui citados se referem ao fundo master, que não tem taxa de administração. As rentabilidades observadas por cotistas devem ser mais baixas, já que contêm taxas.)

A explicação para esta performance, infelizmente, não virá da boca do próprio gestor da estratégia, o recluso José Zitelmann. Um dos poucos registros do que ele pensa na imprensa é essa entrevista para o Valor, de 2015 (clique aqui para ler).

Mas como somos brasileiros e não desistimos nunca, fomos a campo para contar quem está por trás e o que explica esta performance tão positiva em um ano tão ruim para seus pares.

Quem é a Absoluto Partners

A gestora Absoluto Partners nasceu em 2018 mas a “franquia” Absoluto nasceu bem antes, quando o BTG Pactual foi vendido ao UBS no final de 2007.

Zitelmann, que entrou no BTG em 1998 e naquela época era responsável pela gestão de ações na tesouraria, criou um fundo para gerir o capital dos sócios, que estavam com bastante liquidez após o negócio com o UBS.

O bom retrospecto até 2009 garantiu que ele virasse um produto para os clientes do banco. Interessante notar que o fundo viria a público com uma certa “pressão”, pois o BTG nunca tinha conseguido emplacar um produto de ações com a mesma excelência que os produtos macro e de renda fixa.

E o Absoluto vingou.

Em outubro de 2015 (quando Zitelmann concedeu a entrevista ao Valor), o Absoluto chamava atenção do mercado pelos mesmos motivos de agora: uma performance bem positiva em um momento ruim pra bolsa – na época da entrevista, o Absoluto rendia 15,3% no ano, contra queda de 6,5%. O CDI da época estava em 10,17% (#chorarentistas).

Mas foi ainda em 2015 que o fundo sofreu o maior “teste de estresse” que eu já vi um fundo sofrer: em 24 de novembro, o presidente do BTG, André Esteves, foi preso sob suspeita de planejar obstruir as investigações da Operação Lava Jato (em julho de 2018, ele foi absolvido pela Justiça Federal por falta de provas).

A notícia provocou uma corrida de saques de cotistas e levou o patrimônio do Absoluto de R$ 12 bilhões para R$ 2 bilhões em cerca de 3 meses.

Aos que não entendem a gravidade deste movimento para um gestor: imagina que, de uma hora para outra, a maioria dos seus cotistas pede o dinheiro de volta; só que este dinheiro está aplicado em ações, logo para você atender esse resgate, terá que vender as ações. Mas quando esses pedidos são feitos em massa, você precisa vender muitas ações, mesmo que não fosse o melhor momento para fazê-lo ou mesmo que isso distorça o mercado e provoque forte queda nos preços das suas ações.

Zitelmann não só sobreviveu como recuperou-se: em 2018, o Absoluto já estava com R$ 9 bilhões.

Foi nessa época que ele negociou sua saída do banco. O motivo principal era simples: naquela época, Zitelmann era CEO da asset do BTG e membro do G7 (grupo dos 7 maiores sócios do banco). Dois cargos muito legais para colocar no LinkedIn, mas que na prática significa muitas reuniões e muita burocra.

A decisão de sair foi para que Zitelmann e Gustavo Hungria (outro sócio que deixou o BTG para fundar a Absoluto) pudessem ficar full time dedicado à gestão.

Os diferenciais da Absoluto

A conversa que tivemos com alocadores vai bem em linha com as próprias informações que a gestora disponibiliza em seu website: investir em boas empresas e com management de confiança (a importância das pessoas é um ponto muito enfatizado), fazendo tudo isso com uma boa dose de “concentração”, colocando mais peso nas maiores convicções.

Podemos identificar essa concentração na “foto” mais recente que temos da carteira do fundo, extraída da CVM e referente a junho de 2020: dos quase 75% de investimentos em ações brasileiras, 50% estão focados em cinco empresas (Magalu, B3, Natura, Renner e Equatorial), sendo Magazine Luiza e B3 responsáveis por 25% da carteira.

Confira na imagem abaixo a carteira do Absoluto em junho de 2020. Perceba que há 27,6% da carteira em investimentos no exterior, que não estão revelados pela CVM – mas quem acompanha de perto o fundo diz que uma delas é Mercado Livre.

Na entrevista que o Zitelmann concedeu em 2015, quando perguntado qual o segredo da performance positiva do fundo, ele respondeu que não existe segredo, que basta apenas ser fiel à filosofia de investimento de: concentração, conhecimento e qualidade.

“Quando cometemos erros, geralmente é porque flexibilizamos algum ponto da nossa filosofia”, disse na época o gestor.

Os alocadores que conversamos também destacam a habilidade na formação de equipe, marca que ficou registrada nos tempos de BTG e que eles trouxeram para a Absoluto.

São 28 pessoas na equipe, sendo 4 delas baseadas no exterior. A “química” entre Zitelmann e Hungria também joga a favor, com o primeiro sendo mais dinâmico e o segundo mais ponderado.

As decisões na gestora são sempre tomadas de maneira colegiada, e, no caso de os principais sócios serem os únicos a favor de uma operação, ela não é levada adiante.

O fundo Absoluto Partners Master teve sua “cota 1” em 13 de agosto de 2019 e de lá pra cá acumula ganhos de 74,2%. No mesmo período, o Ibovespa cai 2,7%.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers