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Grafistas vs Fundamentalistas: o “Fla-Flu” mais infantil do mercado financeiro

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Thiago Salomão

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*O conteúdo abaixo foi enviado no último sábado na Newsletter Stock Pickers. Para receber direto no seu email, clique aqui e inscreva-se gratuitamente.

“Não existe gain feio. Feio é não fazer gain” (Dadá Buffett Maravilha)

O Fluminense ganhou do Flamengo nos pênaltis e foi campeão da Taça Rio. Mas ninguém liga pra isso: além de estarmos todos ainda muito preocupados com o contínuo avanço dos casos de coronavírus, todo mundo sabe que Taça Rio não vale nada.

A referência futebolística serve apenas para falar do maior “Fla-Flu” do mercado de ações: a disputa entre Grafistas (aqueles que utilizam dos estudos dos gráficos para tomar suas decisões de investimentos) e Fundamentalistas (que se baseiam nos resultados financeiros – atuais e futuros – das empresas para identificar quais estão caras ou baratas).

Se você pensa que vou detonar a classe dos rabiscadores de gráficos com péssimo gosto para nomear padrões de movimentos de preços (“bebê abandonado”, “ombro-cabeça-ombro”, “enforcado” e por aí vai), está redondamente enganado. Embora a gente carregue o nome Stock Pickers (o que já nos mantém muito mais próximo da análise fundamentalista do que da análise gráfica), eu sei dar valor ao que os gráficos podem nos dizer.

Aliás, devo dizer que esta “briga” entre grafistas fundamentalistas é uma das coisas mais idiotas que podem existir no mercado. Confesso que eu gosto de chamar a escola dos grafistas de “grafismo” (mistura da análise gráfica com bruxismo), mas é apenas pra gerar polêmica.

Indo bem direto ao ponto: olhando pro longo prazo, a análise fundamentalista é muito mais assertiva do que a análise técnica, não só para encontrar investimentos mais lucrativos mas principalmente por ter um equilíbrio muito maior na relação “risco vs retorno”. Afinal, quanto mais longo for o meu prazo de investimento, menor será (ou deveria ser, pelo menos) o efeito das oscilações de curto prazo no meu humor.

Contudo, eu nunca deixo de olhar um gráfico antes de tomar qualquer decisão de investimento ou de recomendação – Matheus Soares, que esteve comigo por 18 meses montando as carteiras recomendadas da Rico, não me deixa mentir. E por que eu faço isso? Porque através dos gráficos eu consigo identificar qual é o “sentimento consensual” que o mercado inteiro possui para determinado ativo.

É assim que eu acredito que um Stock Picker pode fazer bom uso dos gráficos: pra entender como está o “feeling” dos outros participantes do mercado para aquela ação que você está pensando em ter um relacionamento sério de longo prazo.

Você não precisa decorar todos os nomes japoneses dos “candlesticks” ou os apelidos bizarros das figuras gráficas, apenas atente-se a TODOS OS FATORES que envolvem o movimento de uma ação: a velocidade deste movimento, o tamanho, a duração, o volume financeiro ao longo deste movimento…

Tudo isso vai te dar uma sensibilidade que o “fundamentalista ultra radical”, que está vidrado nos múltiplos ou no modelo de valuation, jamais terá.

Meu recado nesta newsletter sabática para você, Stock Picker, é esse: ao invés de perder tempo querendo convencer que gráfico não funciona e análise técnica é um lixo, preocupe-se em usar da melhor maneira todas as ferramentas disponíveis para você tomar suas decisões de investimentos.

Quem me conhece melhor pode achar que faço essa defesa por eu ter os dois certificados de analistas da Apimec (técnico e fundamentalista). Mas um dos maiores “Stock Pickers” que já passaram pelo programa faz uso dos gráficos, talvez com um peso ainda maior do que o meu. Você conhece um tal de Luiz Alves Paes de Barros? Pois bem, ele já chegou a dizer que, se os fundamentos dizem “compre” mas o gráfico diz “não compre”, ele não compra a ação.

Essa reflexão ficou na minha cabeça principalmente por causa da resenha que promovemos no último episódio do Stock Pickers, que contou com a participação dos nossos amigos do Gaincast, o podcast liderado por André Moraes e Roberto Indech e que focam suas discussões para o público trader. Trouxemos juntos pra conversa Ivan Kraiser, que é fundador da Garin Investimentos e gestor de um fundo multimercado “100% trader”.

Kraiser, que tem uns 30 anos de mercado e já fez de tudo na bolsa, desde trabalhar no pregão viva-voz do centro de São Paulo até em um grande banco de investimentos em Wall Street, diz sem nenhuma cerimônia que essa discussão de “grafistas vs fundamentalistas” é ridícula. Se você ainda não ouviu o episódio desta semana, o link está aqui.

Você pode não gostar de fazer trade de curto prazo ou achar que não funciona. Mas não menospreze sua importância no mercado: afinal, se não tivesse ninguém operando no intraday, dificilmente você teria liquidez pra movimentar sua carteira.

É claro que é muito chato ver a turma do “wannabe trader”, que fez um “super curso de fim de semana” e já começa segunda-feira pensando que vai ficar rico até sexta-feira. Mas isso não é culpa da análise técnica: a culpa é da combinação entre a ganância de quem vem ao mercado achando que vai ganhar dinheiro fácil e do oportunismo de quem faz uma bela embalagem para vender essa ilusão. Quando essas duas pessoas se encontram, sai negócio – e nem preciso dizer quem vai se dar bem e quem vai perder nesse trade.

O texto já está longo demais, então me despeço compartilhando os dois comentários pejorativos que mais ouço sobre trading – e a resposta que costumo dar a eles.

“Ah, mas esses grafistas ficam girando o dinheiro o tempo todo até perder tudo”. Se você gosta de usar esse argumento, lembre-se: não foram os grafistas que acreditaram em OGX mesmo após a empresa sair de mais de R$ 20 para menos de R$ 1.

“Mas eu vi um PhD de economia falando que mais de 90% dos day traders perdem dinheiro na bolsa”. Se fosse fácil ganhar dinheiro com isso, todo mundo viria pra bolsa. O problema está em quem entra despreparado neste mercado ou que entra pelos motivos errados (ganhar dinheiro fácil). Além do mais, acredito que mais de 90% das pessoas que tentam ser jogador de futebol não conseguem ganhar dinheiro com isso. Mesmo assim, se o seu sonho é ser o próximo Ronaldinho Gaúcho, você vai desistir disso por medo de “virar estatística”?

Até a próxima.

Thiago Salomão
Idealizador e apresentador do Stock Pickers

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers